Na última quarta-feira, 13, a Comissão de Desenvolvimento Socioeconômico de Marabá recebeu membros do Campus da UEPA em Marabá para discutir, mais uma vez, o projeto de criação da UESPA (Universidade Estadual do Sul e Sudeste do Pará), com a participação do deputado estadual Toni Cunha.
O presidente da Comissão de Desenvolvimento, Miguel Gomes Filho, o Miguelito, lembrou que o primeiro ato da Câmara para discutir o assunto ocorreu em 2021, e que de lá para cá várias reuniões foram realizadas, inclusive com provocação ao governador Helder Barbalho. “Em nenhum momento a Câmara diminuiu os ânimos em relação a essa pauta”.
Daniele Monteiro, coordenadora do Campus local da UEPA agradeceu a acolhida da Câmara de Marabá em relação ao ensino superior e reconheceu que essa luta é de longa data para fortalecer o ensino superior nesta região. “Vivemos um momento histórico com ensino superior no Pará, que vem se expandindo com diversos cursos em vários municípios, com o programa Forma Pará. Nessa trajetória de 30 anos, temos experiência no ensino superior em Marabá, onde possuímos 12 cursos em várias áreas, inclusive licenciaturas, engenharias e medicina”.
Segundo ela, a cada ano, o Campus de Marabá carece de mais recursos – humanos e de estrutura física – mas não há avanço. Disse que a partir disso, iniciaram diálogos com a sociedade para criação de uma universidade independente. “Neste momento, há 80 instituições dialogando sobre a criação de uma universidade regionalizada. O que aconteceu com a criação da Unifesspa, creio que deve ocorrer com a criação de uma Universidade Estadual do Sul e Sudeste do Pará”, prevê.
Ela lembrou da audiência pública no ano passado, com discussão importante para ampliar a atuação da instituição. À época, houve manifestação do governador Helder Barbalho e o reitor da UEPA determinou a criação um grupo de trabalho para discutir esse assunto, o que ocorreu no final de outubro do ano passado. “Foi um trabalho participativo, com alunos, docentes, técnicos da universidade e a comissão criada pelo reitor organizou todo esse trabalho”, explicou.
Por sua vez, o professor Darley Pompeu, do departamento de Tecnologia de Alimentos da UEPA, foi apontado como presidente da Comissão do Projeto de criação da região sul e sudeste do Pará, e de outra no oeste do Pará. Ele participou da reunião da Comissão de Desenvolvimento e fez alguns esclarecimentos.
Darley revelou que a área de influência da UESPPA conta com 36 municípios desta região, e que o trabalho da comissão foi elaborar o projeto e uma minuta da criação da universidade, uma do PCCR e outra do organograma. Os dados ainda serão apresentados ao reitor e, posteriormente, ao governador. “Os estudos foram concluídos no final de janeiro deste ano”, revelou o educador.
Três estudantes do Campus da UEPA em Marabá usaram a palavra e apresentaram várias demandas dos alunos que a coordenação local não consegue resolver por falta de descentralização das decisões. Entre elas, a construção de um restaurante universitário e a crônica falta de professores.
A acadêmica Iasmin Silva, do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, crê que a criação da UESSPA vá trazer melhorias, com mais recursos para fortalecer a qualidade de ensino e mais professores. “Precisamos de uma política estudantil para garantir a voz dos alunos da instituição. Queremos ser ouvidos para que haja melhoria da qualidade de ensino. Também carecemos da implantação de cursos regulares, porque a maioria hoje é modular, o que atrapalha a boa qualidade de ensino”, explicou a estudante.
A professora Mirian Rosa Pereira informou os vereadores que há um trabalho bem articulado no campus, com um grupo de expansão e um movimento popular. A partir disso, foram produzidos relatórios e carta de apoio de entidade para criação da UESSPA. “Com a criação dessa nova universidade, precisamos pensar numa cota regional, para que as pessoas que moram nos 36 municípios da área de abrangência, tenham espaço garantindo para ingressar na universidade”, antecipou.
Ao usar a palavra, o deputado Toni Cunha elogiou a postura das estudantes da UEPA e saudou a iniciativa da Comissão de Desenvolvimento e da Câmara como um todo. Lamentou que os governos são lentos para resolver as necessidades dessa região e que a iniciativa da comissão é importante, porque a criação da UESSPA resolve vários dos problemas hoje existente, com orçamento próprio e com possibilidade de fazer seus próprios investimentos.
Garantiu que destinará mais emendas para o campus da UEPA, em Marabá, e que ficou sabendo que os cursos de engenharia também carecem de equipamentos, e disse que poderá destinar recursos com esse objetivo.
A vereadora licenciada Vanda Américo parabenizou os professores e disse que o trabalho técnico já foi realizado por eles, e que daqui para frente é necessária força política para acelerar o processo de criação da UESSPA.
Ela pediu audiência com o presidente da Assembleia Legislativa para discutir a parte política. “Sei já foi feito levantamento técnico, mas só ele não resolve. Nós, políticos, precisamos arregaçar as mangas e cobrar de deputados e governador. Essa luta é nossa, da Câmara, que tem histórico de lutas e conquistas. Uma universidade que tem 30 anos precisa ter autonomia de gestão e financeira. Só estará acertado quando houver data para iniciar a nova universidade”, disse Vanda.
O vereador Márcio do São Félix reconheceu que este é momento importante, e reconhece que o trabalho técnico foi realizado e que agora o movimento é político. “Precisamos discutir e acelerar antes que a pauta da COP-30 fique mais intensa, porque tudo vai parar”, alertou.
O presidente da Câmara, Alecio Stringari, disse que o que mais lhe chama atenção neste cenário é em relação aos cursos modulares, que prejudicam a qualidade do ensino. Para ele, com a criação da UESSPA, haverá descentralização das decisões, saindo da Capital, o que atualmente não existe. “Temos quatro deputados em Marabá, e se não conseguirmos levar essa pauta à Alepa de forma incisiva, não estaremos bem representados”.
Alecio elogiou o trabalho da Comissão de Desenvolvimento e garantiu que os 21 vereadores de Marabá vão defender essa bandeira. “Estamos unificados na Câmara em relação a esse projeto. O governador tem dívida com a gente e precisamos cobrar. Precisamos construir agenda com ele”, finalizou.
A vereadora Cristina Mutran lembrou que essa luta se assemelha à do Estado de Carajás. “Queríamos a nossa independência, que era e é justa. Helder resolveu mudar o comportamento, porque poucos olhavam para cá. Ele passou a ser mais presente nesta região. Creio que esse seja o anseio de vocês, por liberdade e descentralização, para que a universidade ande com as próprias pernas”.
Ela também disse temer pela qualidade de conhecimento e técnica dos alunos que serão formados nos próximos anos, se não houver infraestrutura necessária para o curso de medicina. “Acredito que os deputados vão se unir a essa causa e precisamos reivindicar audiência com o governador”.
Ficou definido que uma caravana de Marabá seguirá para Belém, levando vereadores, professores e alunos, peregrinando em gabinetes dos deputados para realizar algo impactante e pedir celeridade para o projeto da UESSPA. A data ainda não foi definida.