Por Olinto Campos Vieira ( * )
“Meu filho, antes de sair para o trabalho vi você dormindo e senti vontade de conversar contigo, admirando o seu rosto de criança inocente, dormindo o sono despreocupado que trouxe uma paz imediata para o coração.
Não, não quero lhe aconselhar nem ensinar nada neste momento. Quero apenas aprender como ter essa paz tão natural diante de um mundo que se mostra cada vez mais agressivo. Como é que você pode dormir sem medo de ser agredido, assaltado, ter sua segurança comprometida se, eu que sou seu pai, todos os dias me deito com a casa trancada e o coração na mão, completamente sem segurança?
Filho, o mundo parece que ficou nas mãos dos bárbaros, que em pleno século XXI se mostra mais atrasado e violento do que nunca. Como posso explicar a você, meu filho, que irmão vem matando irmão por causa de uma bolsa de dinheiro, cuja importância vem sendo maior que a vida. Como posso te explicar que a grande maioria do dinheiro que circula por aí, um dia jaz fez parte dos planos malignos e sujos de sangue, de alguém?
Ontem lhe perguntei o que te faria feliz e você me surpreendeu dizendo que queria um “picolé de limão.”
O que posso dizer a respeito disso?
Que pena, meu filho, que você um dia deixará de ser criança e seus sonhos simples se complicarão cada vez mais, envolvidos pela batalha da sobrevivência do dia a dia. Eu quero dizer para você não se tornar adulto mas assim eu estaria indo contra a ordem natural das coisas e de Deus. Vendo seu rosto de criança, o que posso pedir a Deus é que você se transforme em um homem diferente. Não apenas você, mas todas as crianças deste mundo. Que façam deste mundo algo bem melhor do que ele vem sendo. Não deixe que a barbárie te transforme em um homem insensível, egoísta e insano.
Seja sempre consciente de que vale a pena ser bom mas saiba que nem sempre será bem remunerado sendo assim. Quero te pedir também, que se algum dia você , de uma forma ou de outra, fizer algo que não seja bom, que a sua consciência lhe avise, mesmo que machucando o coração, mesmo que ferindo sua alma, mesmo que brotando lágrimas de arrependimento no seu rosto. Que você não se acostume em fazer o que não é certo! Não se embruteça, meu filho, porque o mundo está sendo um lugar sombrio e triste. Não seja descrente do seu poder de transformá-lo, pois a esperança é algo que não pode morrer jamais e hoje, ela se mostra mais viva quando eu olho você dormindo.
Sei que neste momento, assim como você, várias crianças dormem e enquanto dormem, sonham o sono dos inocentes. E enquanto isso, os adultos, mesmo acordados também dormem de olhos abertos, sem se dar conta de que este mundo, do jeito que está, vem sendo feito por eles. Por mim, também, infelizmente!
Recebemos de Deus um mundo Divinamente belo e estamos dando de presente aos nossos filhos um mundo infinitamente pior, de agressividade, deslealdade, onde pais de família são mortos a luz do dia, na presença de outros pais de família que assistem a tudo, com o coração apertado, indefesos, impotentes. E aproveito para agradecer a Deus pela esperança no futuro que ainda tenho olhando o seu sono, meu filho. Faça que esse mundo seja digno de ser habitado por seu filho, um dia. Faça por ele o que não estou fazendo por você. Tenha um bom dia, meu filho. Seu pai, cidadão comum do século XXI.
( * ) – Olinto Campos Vieira é advogado e Procurador do Município de Parauapebas há dez anos. Texto originalmente publicado no jornal Regional, em Parauapebas.
9 comentários em “Carta ao meu filho.”
bla bla bla. Explicação religiosa e científica, o mundo ta perdido, o Olímpio filho está certo no seu assalto a pressentimento premonitórios lamentáveis e eu nunca quis estar certo.Exclusão social e neoliberalismo.Ausênca de políticas públicas. Ignorância deste seu servo!
muito bem, Roginaldo Rebouças. mas, veja a diferença: enquanto o nosso amigo e irmão Olinto olha para seu filho dormindo e divaga sobre um futuro remoto, com a certeza de que, ao acordar, o mesmo tem o leite e o pão garantido; no outro lado da cidade, olho para meu filho, e divago sobre um futuro proximo, com a incerteza se estarei empregado a manhã para lhe garantir um gole de café ao acordar.
Somente com Direitos Iguais e Justiça poderemos vislumbrar dias melhores.
Um grande abraço.
Lidio Oliveira
Bela postagem caro Irmão e Amigo Zé Dudu, vinda da profunda sabedoria, alicerçada na simplicidade que a vida conferiu a este exemplar homem, Pai que é nosso querido Amigo e Irmão Olinto.
Muito comum nos dias de hj manifestações por este BR à fora sempre que familiares de pessoas são vítimas de latrocínios ou outros crimes hediondos. Decerto que nós população ficamos indignados pela barbaridade e frieza como tais crimes são cometidos.Também me assalta esses “pressentimentos”. Mas, deixa-me preocupado pela maneira simplista com que as pessoas levantam o tema, sempre recheado de conotação religiosa: “O mundo está perdido; Deus não quer um mundo assim” etc. Lamentável que essas pessoas não encaram de forma científica, pois sabe-se que tudo isso é em consequência da exclusão social, dentre outras. Da corrupção política que assola o Brasil e de ausência de políticas públicas dos governantes que agora usam de paliativos para consertar o “histórico mal”. Mas fico indignado pela ignorância de sempre… desse blá, blá, blá eterno, e o que é pior, ainda recebem elogios.
Nos dias de hj é comum se deparar com manifestações de toda sorte por este Brasil à fora sempre
Parabéns Dr Olinto. Da competência como Advogado e Procurador já reconhecemos e admiramos, agora mais esta habilidade nas palavras e no pensamento.
Valeu o texto. É preciso mais do que ler. É preciso também refletir.
Belas palavras dr Olinto, apenas isto. porque na verdade só haverá, a paz tão clamada por todos quando houver JUSTIÇA E DIREITOS IGUAIS. fora destas duas condições só guerras de todas as modalidades.
Parabéns Procurador vc foi muito feliz nesta carta, falou com à alma e o coração do povo de Parauapebas. Abraço!
Excelente Esse seu artigo amigo, porem quero comentar algo.
Provérbios 22:6
“Ensina a criança o caminho que deve andar e ainda quando for velho, não se desviará dele”
As ações em busca do crescimento profissional, traz suas consequências, uma delas é deixar os outros cuidar de seus filho, devemos realmente mudar o futuro do mundo, iniciando com as crianças. O que vemos hoje é retrato, ou consequência das ações do passado, isso é natural. plantamos e colhemos, a sociedade deve sim repensar, e assumir que Deus ficou em boa parte das pessoas, em ultimo lugar.
Vamos fazer a Campanha mudando o mundo, iniciando por nós mesmo.