Em sessão marcada pelo tumulto, com a base do governo lançando mão de dispositivos regimentais para retirar de pauta a Proposta de Emenda à Constituição nº 8/2021, que limita as decisões monocráticas (individuais) no Supremo Tribunal Federal (STF) e em outros tribunais superiores, os membros da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados concluíram a discussão, mas, por acordo, a votação só acontecerá após as eleições municipais de 6 de outubro.
Os líderes partidários fecharam um acordo de procedimentos para restringir a sessão apenas aos debates sobre o parecer do relator da PEC, deputado Marcel van Hattem (Novo-RS), favorável à aprovação do texto.
O parlamentar afirmou que a proposta aprimora o quadro institucional do país “num momento de degeneração”. “Este Parlamento precisa se impor dentro daquilo que lhe é competente, o dever de resguardar as nossas funções legislativas,” disse van Hattem.
A matéria teve origem no Senado, onde já foi aprovada, e prevê o seguinte:
- proíbe decisões individuais que suspendam a eficácia de leis ou atos dos presidentes dos poderes Executivo e Legislativo (Câmara e Senado);
- permite decisões individuais apenas para a suspensão de eficácia de lei durante o recesso do Judiciário, em casos de grave urgência ou risco de dano irreparável, com prazo de 30 dias para o julgamento colegiado após o fim do recesso;
- determina o prazo de seis meses para o julgamento de ação que peça declaração de inconstitucionalidade de lei, após o deferimento de medida cautelar – depois desse prazo, ela passará a ter prioridade na pauta do STF.
Forças antagônicas tumultuam o debate
Desde o início da discussão do parecer do relator, deputados se alternaram contra e a favor da PEC. Em muitos momentos, a presidente da CCJ, deputada federal Caroline de Toni (PL-SC), teve de cortar o microfone para apaziguar os ânimos e por alguma ordem nos trabalhos.
O deputado Arthur Oliveira Maia (União-BA) deu o tom dos favoráveis à proposta. Ele afirmou que não era razoável um único ministro do STF suspender lei que passou por diversas instâncias antes de ser aprovada na Câmara e no Senado e sancionada pelo Executivo.
“Será que é razoável alguém imaginar que, depois de todo esse trâmite, um ministro do Supremo, sozinho, sentado no seu gabinete, pegue aquela lei e, numa canetada só, desfaça o trabalho de 513 deputados, de 81 senadores, do presidente da República?”, questionou.
A deputada Bia Kicis (PL-DF) também defendeu a aprovação da proposta. Segundo ela, a medida não é “uma agressão a ministro do Supremo, mas uma garantia de direitos fundamentais de qualquer cidadão,” conforme reza a Constituição Federal.
Contrário à proposta, o deputado Chico Alencar (Psol-RJ) argumentou que o próprio Supremo já se antecipou à discussão do Congresso e, em 2022, mudou o seu regimento interno para estabelecer que algumas medidas cautelares decididas monocraticamente devem ser analisadas por colegiado (turma ou plenário) em até 90 dias.
“Estabelecer a restrição para o tempo de apreciação pela corte, pelo pleno, é um aspecto do projeto que já está até superado pelo próprio Regimento do Supremo,” disse Alencar.
Na mesma direção, o deputado Túlio Gadêlha (Rede-PE) contestou a necessidade da PEC, afirmando que, das 202 decisões monocráticas de ministros tomadas até 2022, apenas quatro não foram mantidas. “Esse debate é em torno de quê, dessas quatro decisões?”, questionou.
Após sua fala, alguns deputados da oposição vaiaram o deputado pernambucano. A sessão quase foi encerrada, mas os bons modos prevaleceram, quando foi lembrado aos congressistas que o Plenário aprovou a facilitação para abertura de processo no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar a deputados que ultrapassam o limite da boa educação e respeito aos colegas.
Em seguida, a sessão foi encerrada porque a Ordem do Dia havia iniciado no Plenário.
Por Val-André Mutran – de Brasília
1 comentário em “CCJ da Câmara conclui discussão sobre projeto que limita decisão monocrática no STF. Acordo adiou votação”
Infelizmente alguns ministros da suprema corte se sentem reis, querem mandar em tudo e todos.