Os credores que têm a receber R$ 2 bilhões da Centrais Elétricas do Pará (Celpa) terão de ser pacientes. No plano proposto na segunda-feira (7) pela companhia para evitar a quebra da distribuidora, o controlador grupo Rede Energia quer carência de seis anos para começar a quitar os compromissos, deságio de 40% no débito junto a instituições financeiras e injeção mínima de capital de R$ 650 milhões, além de linha de crédito de R$ 200 milhões e parcelamento de tributos.
Procurada após envio do plano à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a empresa informou por nota que “o plano de recuperação judicial foi desenvolvido de forma a atender os interesses dos credores e a possibilitar a recuperação econômico-financeira da companhia para a continuidade das operações”. Em até 120 dias deve ser realizada assembleia de credores para a aprovação do plano, diz a Celpa.
O presidente da Rede Energia, Jorge Queiroz Junior, está hoje nos EUA negociando com credores estrangeiros, entre eles o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que tem R$ 89,9 milhões a receber.
A Celpa propõe a credores que as dívidas comecem a ser pagas em janeiro de 2018 em um cronograma que segue até dezembro de 2027. Para os credores financeiros, a empresa pede um deságio de 35% a 40%, conforme o tipo de garantia da operação de empréstimo. Entre os bancos, os maiores credores são Bradesco, com R$ 131 milhões; Itaú BBA, com R$ 94,7 milhões; e Banco do Brasil, com R$ 85 milhões a receber, nesse último caso, compromissos em linhas de giro, empréstimos com vinculação de recebíveis e pelo Clube de Paris.
Os valores desses credores serão corrigidos a partir de agosto deste ano pela TJLP, ou 6% ao ano.
Procurado, o Bradesco informou, por meio da assessoria, que não comentaria o assunto. Itaú BBA não respondeu à solicitação. O Banco do Brasil disse em nota que “o plano está em análise”.
O Banco Indusval, que aparece na lista da Celpa enviada à CVM como credor financeiro com vinculação de recebíveis de R$ 59,9 milhões, enviou ao Valor documento que mostra que a maior parte desses compromissos é de Cédulas de Crédito Bancário (CCBs), somando R$ 50 milhões e emitidas em agosto de 2011. O banco discute na Justiça a movimentação desses valores no processo de recuperação judicial.
A Celpa aponta que a viabilidade operacional e financeira da empresa depende de uma injeção de capital, de R$ 650 milhões no mínimo, e mais uma linha de crédito de pelo menos R$ 200 milhões. Esse aporte seria feito por meio de emissão de debêntures conversíveis em ações, com vencimento em 2027 e taxa de rendimento de 15% ao ano.
O aporte poderá ser feito pelos atuais acionistas ou por grupos que não fazem parte da companhia, incluindo credores. A empresa se compromete a manter um caixa de reserva mínimo de R$ 150 milhões a partir de 2015.
Para os trabalhadores não haveria carência segundo o plano proposta pela Celpa. A empresa se obriga a quitar as dívidas dos trabalhadores em seis parcelas, de R$ 18,7 milhões cada – nesse caso, sem carência. A distribuidora pede ainda parcelamento de tributos já em 2012.
Fonte: Valor Econômico