Pelo menos R$ 17,81 já não valem mais nada no bolso de quem ganha um salário mínimo no Pará. A inflação avançou 1,47% em março e afeta especialmente as camadas de menor renda. No acumulado do ano, a inflação paraense mensurada na Grande Belém está em 3,12%, o que implica dizer que, de um salário mínimo (R$ 1.212), a quantia de R$ 37,81 já não tem valor algum. É como tirar da boca do pobre o dinheiro da “mistura”.
As informações foram levantadas pelo Blog do Zé Dudu, após analisar dados consolidados de março do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgado nesta sexta-feira (8) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o órgão, em algumas localidades, a inflação rompeu a casa de 2%, como Paraná (2,4%), Goiás (2,1%) e Maranhão (2,06%). A média nacional foi de 1,62% e o menor IPCA foi registrado no Acre (1,35%).
Com 2,886 milhões de famílias vivendo em situação de pobreza, de acordo com estatísticas do Cadastro Único, a alta dos preços no Pará penaliza os mais humildes. Uma família de quatro pessoas que sobrevive com um salário mínimo e ainda paga aluguel, além das contas de água e energia, é quem sente mais os efeitos colaterais.
A inflação dos alimentos, por exemplo, subiu 2,95% no mês passado e já chega a 6,29% no acumulado de três meses deste ano. O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) diz que a cesta básica padrão no Pará é de R$ 585,91 e que, em março, ela ficou 1,92% mais cara em relação a fevereiro. A cesta básica consome 52,26% do salário mínimo e, ainda assim, não é suficiente para sustentar um lar com quatro bocas.
“Pela hora da morte”
A dona de casa que se identificou ao Blog do Zé Dudu como Neide Duarte, moradora do Bairro Liberdade, em Parauapebas, diz que não sabe “onde vamos parar com tanta carestia”. Ela, que é mãe de dois adolescentes e foi abandonada pelo companheiro há alguns meses, está vivendo de doações. Com nível superior completo, ela não consegue arranjar emprego na Capital do Minério. Ela e uma filha de 16 anos estão à beira da depressão.
A família está “passando o maior sufoco”, diz Neide. Às vezes, algum familiar seu manda dinheiro, e quando ela entra no supermercado “está tudo pela hora da morte”. Ela lamenta que “ou você morre de fome se não tiver quem lhe estenda a mão, ou você morre do coração ao encarar os preços nas prateleiras dos supermercados”, e lembra que quase caiu “dura” quando pesou algumas cenouras num mercadinho do bairro.
E Neide não está mentindo. No Pará, a cenoura foi o item que mais encareceu em março. Aliás, dos dez itens mais caros, oito são do gênero alimentício. A cenoura encabeça a lista com inflação de 37,6%. Outros sete itens passaram de dois dígitos, inclusive o bom e velho ovo, “que está valendo ouro”, na avaliação de Neide Duarte. Em tempo: a inflação do ovo em março subiu mais que a cotação média do viu metal.
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Confira os 10 itens que mais encareceram no Pará em março:
Cenoura: 37,6%
Batata-inglesa: 19,77%
Melancia: 14,65%
Açaí batido: 13,79%
Tomate: 13,78%
Maçã: 12,85%
Ovo de galinha: 12,47%
Óleo diesel: 9,62%
Cebola: 9,42%
Creme de pele: 8,93%