Uma das consequências diretas do Censo 2022, concluído pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que atualizou os dados populacionais dos municípios brasileiros, permite a expansão opcional do número de vagas de Câmaras Municipais em mais 198 cidades. Outras 572 já poderiam ter aumentado a quantidade de vagas em pleitos anteriores, independentemente do novo censo, de acordo com a Constituição de 1988.
Uma reportagem especial do Blog do Zé Dudu cruzou os dados oficiais do IBGE e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e levantou a situação dos 144 municípios do estado do Pará. Constatou-se que seis municípios perderão 12 vagas e 40 municípios ganharão 94 vagas, enquanto 98 não sofrerão alteração.
Municípios que perdem vagas Vereadores Novo teto Observação* Santana do Araguaia 15 13 Pode reduzir vagas após o censo Cachoeira do Piriá 13 11 Pode reduzir vagas após o censo Eldorado do Carajás 13 11 Pode reduzir vagas após o censo Goianésia do Pará 13 11 Pode reduzir vagas após o censo Placas 13 11 Pode reduzir vagas após o censo Bonito 11 9 Pode reduzir vagas após o censo Total 6 – 12 Municípios que ganham vagas Vereadores Noto teto Observação* Santarém 21 23 Pode ampliar vagas após o censo Bragança 17 19 Pode ampliar vagas após o censo Abaetetuba 15 19 Poderia ter 19 hoje Altamira 15 19 Poderia ter 17 hoje Barcarena 15 19 Poderia ter 17 hoje Cametá 15 19 Poderia ter 17 hoje Itaituba 15 19 Poderia ter 17 hoje Marituba 15 17 Poderia ter 17 hoje Moju 15 17 Pode ampliar vagas após o censo Parauapebas 15 21 Poderia ter 19 hoje Redenção 15 17 Pode ampliar vagas após o censo Acará 13 15 Poderia ter 15 hoje Baião 13 15 Pode ampliar vagas após o censo Canaã dos Carajás 13 15 Pode ampliar vagas após o censo Novo Repartimento 13 15 Poderia ter 15 hoje Paragominas 13 17 Poderia ter 17 hoje Tailândia 13 15 Poderia ter 15 hoje Tucuruí 13 17 Poderia ter 17 hoje Vigia 13 17 Poderia ter 17 hoje Viseu 13 15 Poderia ter 15 hoje Xinguara 13 15 Pode ampliar vagas após o censo Óbidos 13 15 Pode ampliar vagas após o censo Afuá 11 13 Poderia ter 13 hoje Anapu 11 13 Pode ampliar vagas após o censo Bagre 11 13 Pode ampliar vagas após o censo Benevides 11 15 Poderia ter 15 hoje Curralinho 11 13 Pode ampliar vagas após o censo Gurupá 11 13 Pode ampliar vagas após o censo Ipixuna do Pará 11 13 Poderia ter 15 hoje Mãe do Rio 11 13 Pode ampliar vagas após o censo Novo Progresso 11 13 Pode ampliar vagas após o censo Oeiras do Pará 11 13 Pode ampliar vagas após o censo Prainha 11 13 Pode ampliar vagas após o censo Ulianópolis 11 13 Pode ampliar vagas após o censo Aveiro 9 11 Poderia ter 11 hoje Nova Esperança do Piriá 9 11 Poderia ter 11 hoje Ourém 9 11 Poderia ter 11 hoje Senador José Porfírio 9 11 Pode ampliar vagas após o censo São Domingos do Capim 9 13 Poderia ter 11 hoje Vitória do Xingu 9 11 Pode ampliar vagas após o censo Total 40 + 94
De modo geral, a previsão é que haja um corte total de 278 vereadores no agregado dos municípios brasileiros. Essa redução é obrigatória, enquanto a ampliação nas demais cidades é facultativa.
Isso acontece porque a Constituição determina um número máximo para a composição das casas legislativas com base na população. O teto é de nove vereadores, por exemplo, nas cidades com até 15 mil habitantes. O limite chega a 55 naquelas com mais de 8 milhões de moradores — caso apenas de São Paulo. Veja abaixo o gráfico.
Regra para o aumento de vagas nas Câmaras Municipais
Para haver mudança na oferta de vagas em 2024, é necessário que os próprios vereadores aprovem alteração na lei orgânica de cada município até a data final das convenções partidárias, a ser definida pelo TSE no calendário eleitoral.
Em nota, o TSE já se manifestou esclarecendo que não cabe à Justiça Eleitoral definir o número de representantes de cada cidade, por decisão anterior do Supremo Tribunal Federal (STF).
Conforme o novo Censo, a quantidade de cadeiras deverá cair de 39 para 37 no Recife, e de 36 para 35 em Porto Alegre, enquanto que Belém e Marabá, ambas no Pará, não sofrerão alteração, de acordo com esse critério.
Nos municípios onde haverão redução obrigatória do número de vagas, o corte preocupa alguns vereadores, pois as chances de reeleição podem diminuir junto com o número de gabinetes em disputa.
Fora das capitais, a maior cidade nessa situação é Mossoró (RN). O município de 264 mil habitantes tem 23 vereadores e deverá retirar duas cadeiras do plenário a partir da próxima legislatura.
Mossoró é um dos vários exemplos de cidades onde os vereadores se basearam nas projeções populacionais do IBGE para 2019 e 2020, e não no Censo de 2010, como argumento para criar vagas antes do último pleito.
“O presidente Lawrence Amorim (Solidariedade) já se posicionou no sentido de cumprir o que determina a Constituição para as próximas eleições”, informou em nota a Câmara da cidade potiguar.
No sentido oposto, os dados do recente Censo possibilitam o aumento facultativo do número de vereadores em mais 198 cidades brasileiras. No Pará, a cidade de Parauapebas teve um crescimento espetacular e poderá aumentar seis vagas no pleito de 2024, se a os vereadores atuais aprovarem uma lei para isso.
É o mesmo caso de Extremoz (RN), cuja população subiu de 24,5 mil na década passada para 61,6 mil. Com isso, o plenário poderá ganhar quatro cadeiras, totalizando até 15 vereadores na próxima legislatura.
Se todas essas Câmaras decidirem adotar os novos tetos, hipoteticamente, o impacto será de 402 vereadores somados aos 2.452 atuais nessas localidades.
Além das cidades que mudaram de prateleira, outras 572 já podiam criar novas vagas desde a década passada, ou seja, abriram mão do aumento por razões não relacionadas ao Censo e ao limite legal.
O incremento total na soma desses municípios chegaria a 2.070 novos vereadores se todas as Câmaras decidissem aderir ao teto: um impacto de até 3,6% em relação aos 58.114 vereadores atualmente em exercício no país.
Nessa lista de 572 cidades aparecem Curitiba (PR), Maceió (AL), Aracaju (SE), Porto Velho (RO), Rio Branco (AC), Vitória (ES) e Palmas (TO). Entre essas capitais, o acréscimo mais expressivo poderia ocorrer na capixaba, com até oito vereadores além dos 15 atuais.
Em Aracaju, a Câmara deve votar em agosto o aumento de 24 para 26 vagas: uma abaixo do máximo permitido, para evitar a necessidade de reforma física no edifício. O presidente Ricardo Vasconcelos (Rede) vê clima favorável entre os pares para a mudança.
Em João Pessoa, os vereadores já haviam aprovado a ampliação de 27 para 29 cadeiras a partir da próxima legislatura antes mesmo da divulgação do Censo, baseando-se em prévia divulgada pelo IBGE no fim do ano passado.
A ampliação das vagas nas Câmaras é opcional porque a lei não estipula o mínimo e, sim, o máximo de vereadores. Itaú de Minas (MG), por exemplo, tem apenas sete nesta legislatura.
Uma das situações mais chamativas é a de Nova Iguaçu (RJ). A Câmara da cidade poderia ter até 29 representantes desde a década passada, mas conta com apenas 11.
A mineira Itajubá é outro caso incomum. Depois de aumentar o plenário de 10 para o máximo de 17 vagas na eleição de 2016, o Legislativo municipal cedeu à pressão popular contra o aumento dos gastos públicos e recuou para 11 no último pleito.
A maioria das cidades brasileiras (4.658, ou 84%) já elege o máximo de vereadores permitido pela lei e não teve o teto alterado pelo novo Censo.
Os vereadores precisam seguir a Constituição à risca no caso da redução de vagas imposta pelo teto, enquanto o aumento das cadeiras é opcional.
As Câmaras poderão, por exemplo, contestar a metodologia do Censo, que vem sendo alvo de alguns questionamentos. É quase certo que muitos municípios entrem ações com relação às reduções, opinam especialistas ouvidos pela reportagem.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.