O silêncio tomou conta da rua Jambu no bairro do Guamá, em Belém. O assassinato de seis mulheres e de cinco homens na tarde de domingo, 19, espalhou terror pelo bairro mais populoso da capital paraense e virou notícia no Brasil e no mundo, tendo sido destaque em jornais como o inglês The Guardian e o espanhol El Mundo.
Foi a maior chacina já registrada em Belém. E qual teria sido o motivo? Briga entre facções rivais? Tráfico de drogas? Retaliação de policiais militares ao assassinato de três colegas de farda na semana passada? Todas as linhas de investigação não estão descartadas e serão aprofundadas, segundo informou o secretário de Estado de Segurança Pública, delegado Uálame Machado. “Nós iremos investigar a fundo até esclarecer os fatos na sua totalidade”, assegurou ele.
O secretário também informou que procedimento interno foi instaurado para saber se há envolvimento de policiais no episódio. O massacre aconteceu no momento em que o Governo Estado comemorava a redução em 17% no número de homicídios no Pará, no mês de março, em relação ao mesmo período do ano passado. Com o episódio, toda a cúpula de segurança do Estado vem se reunindo desde ontem, com a presença do governador Helder Barbalho. Uma longa reunião, que foi retomada nesta segunda-feira, 20, e que até por volta das 15 horas ainda não havia terminado.
Antes da reunião, pelas redes sociais o chefe do Executivo se solidarizou com as famílias das vítimas e mandou um recado à bandidagem: “Nós não vamos recuar. Se esta iniciativa, se este sinistro ocorrido no bairro do Guamá é para intimidar as ações de segurança do governo, esqueçam. Nós vamos continuar firmes trabalhando para garantir o direito da população a ter paz, a ter segurança pública com qualidade. Esta é a orientação, esta é a diretriz e nós vamos agir para elucidar este caso”.
A investigação do caso está sob o comando da Divisão de Homicídios da Polícia Civil, que ganhou reforço para a investigação, com uma equipe de aproximadamente 20 profissionais, entre papiloscopistas, investigadores, escrivães e delegados. Até às 14h30 de hoje cinco pessoas já haviam sido interrogadas e o policiamento foi reforçado no Guamá com 124 PMs e apoio de, pelo menos, 30 veículos e 25 motocicletas. Um sobrevivente da chacina está internado em estado grave e com proteção policial.
Dos 11 corpos, apenas dois não haviam sido identificados até por volta das 15 horas de hoje. Sete profissionais do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves atuam no trabalho pericial e, conforme os corpos são periciados, são liberados para as famílias.
A chacina
Era por volta de 16 horas de domingo. O bar, no bairro do Guamá, estava lotado. Com capacidade para 100 pessoas, cerca de 80 se encontravam no local, que tinha licença para funcionar até junho deste ano. Segundo testemunhas, sete homens encapuzados chegaram em uma moto e três carros e dispararam contra as vítimas.
Quase todas morreram com tiro na cabeça. Entre as vítimas, a dona do bar Maria Ivanilza Pinheiro Monteiro, 52 anos, e o DJ Leandro Breno Tavares da Silva, 21 anos. Amigos do rapaz contaram que ele não havia gostado do ambiente e que estava ali por precisar de dinheiro, mas que não aceitaria tocar mais no local.
Em entrevista, uma testemunha contou que saiu do bar um pouco antes da chacina porque o clima estava tenso no local. “Estava todo mundo pálido”, disse ela, para contar que Maria Ivanilza estava com uma netinha, que pode ter presenciado o crime.
Com uma população de 102.124 habitantes, segundo o último Censo do IBGE, o bairro do Guamá está entre os mais violentos de Belém, tanto que recebeu a presença de homens da Força Nacional em março deste ano. No bairro, estão situados a Universidade Federal do Pará (UFPA) e o Hospital Universitário João de Barros Barreto. Até o fechamento deste texto nenhum suspeito havia sido preso.
Repercussão na Alepa
Presidida pelo deputado Carlos Bordalo (PT), a Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa emitiu nota de pesar e de solidariedade às famílias das 11 vítimas da chacina. E observa que a ação criminosa veio no momento em que o Governo do Estado está preste a anunciar e implementar o projeto “Territórios pela Paz”, para recuperar comunidades dominadas pelas facções criminosas.
“É vital que o Estado reaja com vigor a essas execuções e chacinas que aterrorizam a população e somente impactam e agravam o psicológico social dos moradores nos bairros mais vulneráveis socialmente. Tendo em vista esta situação, apelamos ao Governo do Estado medidas de amparo social e psicológico aos familiares e moradores da área”, diz Carlos Bordalo, na nota.