Se a polêmica contagem parcial de população feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estiver mesmo correta, uma dezena de municípios paraenses estaria atualmente com menos residentes que a quantidade de eleitores aptos a votar. E mais estranho ainda: um desses municípios teria — pasme — menos habitantes que a quantidade de eleitores que compareceram para votar no primeiro turno das eleições de 2022.
A informação foi levantada pelo Blog do Zé Dudu, que cruzou dados do eleitorado apto em outubro do ano passado com a prévia do censo demográfico, que faz uma mistureba do total de pessoas efetivamente contadas com o total daquelas que, embora não contadas, se presume morar nos 5.570 municípios do país.
O resultado disso é uma aberração: dez municípios do Pará têm população oficial menor que o contingente de eleitores, com diferenças que vão de quase 200 a quase 1.700 eleitores a mais que o total de moradores. Esse tipo de situação, embora curioso, não é novidade, uma vez que as estimativas de população traziam alguns municípios com menos habitantes que eleitores — mas só alguns, não tantos como agora.
Novidade mesmo é que Canaã dos Carajás deixou de ser o município com maior diferença entre eleitores, que sempre foram maioria, e habitantes, com o reconhecimento devido de que sua população vinha historicamente subestimada pelo IBGE. O problema é que a prévia do censo passou a bola para outras localidades e de forma um tanto inusitada.
A situação mais engraçada, para não dizer trágica, é a do município de São João da Ponta, onde o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) computou em outubro 5.910 eleitores aptos, mas o IBGE projetou 4.264 moradores no total. A diferença de 1.646 pessoas — eleitores a mais que moradores — é muito grande e suficiente para fazer o município deixar de receber muitos milhares de reais em recursos públicos.
Mas não é só isso: a população imputada pelo IBGE a São João da Ponta é menor, inclusive, que o número de eleitores que compareceram para votar no primeiro turno das eleições de 2022. Em outubro, 4.934 eleitores do município deram as caras nas urnas, 670 cidadãos a mais que a o total de habitantes que o órgão oficial de estatística diz existir por lá.
Acredite se quiser
Ter menos moradores que eleitores não é exclusividade de São João. Em Pau D’Arco, no sul do Pará, há quase mil eleitores a mais que habitantes Já em São Caetano de Odivelas há quase 900 a mais. Em Peixe-Boi (615), São Francisco do Pará (430), Terra Alta (396), Magalhães Barata (319), Santa Cruz do Arari (278), Primavera (272) e Santarém Novo (193) também os eleitores “ganham” dos habitantes.
Em outra perspectiva de análise, os dados do comparecimento às urnas também revelam discrepâncias com relação à população prévia de municípios com mesmo tamanho de eleitorado. Tucuruí, por exemplo, que teve muito mais comparecimento que Redenção surgiu na parcial do IBGE com população menor. Já Cametá e Barcarena, onde o comparecimento às urnas foi expressivamente superior ao de Itaituba em outubro, registram população inferior à do município do Tapajós.
Os mistérios que envolvem os dados do censo — tão importante para que Brasil, estados e municípios se reconheçam — seguem gerando dúvidas e estranhezas, enquanto o IBGE não divulga novas parciais com população contada atualizada. Até o final da operação censitária, e mesmo após ela, é certo que haverá insatisfação e pulga atrás da orelha que deve perdurar certamente até o censo de 2030.
1 comentário em “Cheia de polêmica, prévia do censo joga população abaixo de eleitorado”
O IBGE não passou nos loteamentos Jardim da Saudade, Jardim do descanso e Jardim das flores lá tem muitos eleitores que IBGE não levantamento. Todos aptos vo5a.