A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) realizou, na terça (19), em Altamira (PA), o penúltimo Circuito de Resultados do Projeto Campo Futuro, para apresentar os custos de produção do cacau, em um Dia de Campo com produtores da região, promovido pela CNA em parceria com a Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa) e o Sindicato dos Produtores Rurais de Altamira (Siralta).
O Dia de Campo teve palestras e visita a uma plantação de cacau. A assessora técnica da Comissão Nacional de Fruticultura da CNA, Letícia Fonseca, apresentou o projeto e destacou a importância do levantamento como gerador de informações para a CNA e para orientar os produtores sobre gestão de custos.
Os custos de produção da cacauicultura vêm sendo monitorados pelo Campo Futuro há alguns anos, tendo sido realizado um painel também em Altamira, em maio. O pesquisador do Centro de Inteligência de Gestão e Mercado (CIM) da Universidade Federal de Lavras (UFLA), Matheus Marques, apresentou os resultados econômico-financeiros para a cadeia, conforme levantamentos realizados também em Ilhéus e Eunápolis, na Bahia, durante a palestra “Análise dos resultados econômico-financeiros para o cacau: cenários produtivos.”
Segundo ele, foi possível avaliar dois modais produtivos em Altamira: um com manejo técnico mais rústico, e outro um pouco mais intensivo, com produtividades de 67 e 148 arrobas por hectare, respectivamente. Para a Bahia, os modais avaliados foram: a pleno sol, irrigado e semimecanizado em Eunápolis, com produtividade de 150 @/há. Em Ilhéus, foi analisado o cultivo do cacau cabruca, não irrigado, produzindo 12 @/ha.
“Focando nos resultados obtidos em Altamira, as margens líquidas foram positivas em ambos os modelos, tecnificado e rústico. O que difere, no aspecto técnico, no modal mais tecnificado, é que há maior emprego de algumas práticas recomendadas para a atividade. No aspecto econômico, a lucratividade é de 19,18% no primeiro modelo e 7,37% no segundo. O que representa um retorno líquido mais elevado em relação à receita obtida”, afirmou.
Letícia Fonseca ressaltou que os resultados do painel indicam a importância de o produtor avaliar diferentes cenários produtivos, os eventuais custos, e especialmente os ganhos obtidos. Neste caso, um maior investimento em manejo gerou maior produtividade da lavoura e resultados econômicos mais atrativos.
“Produtores que indicaram a realização do manejo técnico da lavoura conseguiram aumentar a produtividade de 900g para 2 kg de amêndoa por planta. Houve um aumento de custos devido ao maior uso de insumos. Porém, há uma diluição do custo operacional total e do custo total em relação ao custo por arroba” explicou.
Mário Solano, assessor técnico na Faepa, abordou o tema “Legislação ambiental e as implicações na renovação da lavoura cacaueira”. Ele reforçou com os produtores a necessidade da inscrição no Cadastro Ambiental Rural (CAR) e adesão ao Programa de Regularização Ambiental (PRA), de modo a recompor áreas onde tiveram supressão da vegetação nativa.
“É possível fazer a recomposição com 50% de planta nativa e 50% de exótica e o cacau e o açaí podem ser usados para isso trazendo inclusive retorno econômico. Por isso, é importante procurar o órgão ambiental do estado, receber orientações conforme a realidade da propriedade e tirar a licença de atividade rural”.
Outro tema abordado foi “Incremento produtivo com manejo cultural e da fertilidade”, com o técnico da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), Jailson Rocha.
Ele reafirmou o que foi abordado pelos outros palestrantes sobre a importância da adoção de técnicas simples para melhorar a produtividade do cacau na região. Destaque para roçagem, desbrota, colheita correta observando maturação dos frutos, poda anual e manutenção do sombreamento e o manejo integrado de pragas e doenças.
“A realização das práticas, no tempo correto e forma recomendadas evitam perdas e podem incrementar a produtividade da lavoura de cacau em até 100% ou mais”, comentou. O técnico falou ainda da Assistência Técnica e Gerencial do Senar (ATeG Mais Cacau) que tem comprovado os resultados positivos na cultura.
“Produtores que receberam assistência técnica saíram de 400 quilos por hectare para 1.200 até 2.500 kg/ha ao adotar as recomendações para a cultura”.
Para Maria Goreti Gomes, coordenadora de Projetos Especiais da Faepa, o evento abordou temas não convencionais que são importantes para o produtor local. “Foram abordadas questões gerenciais e o que o produtor ganha adquirindo esse ou aquele tipo de lavoura. Foi uma oportunidade de levar conhecimento efetivo ao cacauicultor. Espero que tenhamos mais eventos como esse na nossa região”.
Avaliação dos produtores
O dia de campo recebeu mais de 70 produtores de Altamira e municípios vizinhos. Segundo eles, o evento foi positivo para trazer conhecimento.
“O dia foi de suma importância porque tratamos diretamente de economia, que é o ‘fechamento’ para os produtores, ou seja, sua fatura, o sustento da sua família. Então, o conteúdo de hoje para a gente foi aquilo que é essencial e falta para o produtor”, disse Jorge Gonçalves, produtor rural e diretor do Sindicato dos Produtores Rurais de Altamira (Siralta).
“Sou produtor e filho de produtor. Vim de Medicilândia, conhecida como capital nacional do cacau, para obter conhecimento. O evento foi muito bom, trouxe dados que a gente precisava e dos custos que a gente não sabia”, afirmou Luiz André Stec Roberto, vice-presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Medicilândia.
“Esse dia de campo foi uma maravilha, muito conhecimento que a gente teve”, avaliou Moisés Covre, produtor rural e dono da propriedade onde aconteceu o dia de campo.