Brasília – Após confirmar o primeiro caso do novo Coronavírus num homem em São Paulo que retornou de viagem ao Norte da Itália,em entrevista coletiva nesta quarta-feira (26), o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta garante que o Brasil está preparado para enfrentar uma provável epidemia do novo vírus e que foi criado um sistema de notificação e um plano de contingência ao qual o país já tem experiência de procedimentos em razão da ocorrência de outros surtos de outros vírus que já ocorreram no país.
O primeiro caso de contaminação por Coronavírus no Brasil foi relatado pelo Hospital Israelita Albert Einstein na noite da terça-feira (25), quando um homem de 61 anos e residente em São Paulo foi identificado com o vírus. Uma nova amostra do paciente foi enviada ao Instituto Adolfo Lutz para contraprova, que já foi realizada e terá seu laudo final divulgado na manhã desta quarta-feira (26), pelo Ministério da Saúde.
Mandetta disse que o Ministério da Saúde está finalizando o formato de um aplicativo para que todos os usuários da internet possam ter acesso as informações e quais são os procedimentos de prevenção ao novo Coronavírus que se espalha pelo mundo a partir do primeiro caso em dezembro de 2019 na China.
O surto de uma nova doença (nomeada Covid-19) provocada por um tipo inédito de Coronavírus surgiu na cidade de Wuhan, megalópole da região central da China, no final do ano passado. À época, a doença era encarada como uma pneumonia de causa desconhecida que se espalhou pela cidade de 11 milhões de habitantes. O primeiro caso de Coronavírus registrado no Brasil e na América Latina foi confirmado na última terça-feira em um primeiro exame divulgado pelo Ministério da Saúde e confirmado nesta quarta-feira (26).
Quem é o paciente brasileiro?
Trata-se de um brasileiro residente de São Paulo, de 61 anos, que viajou à região da Lombardia, na Itália, país que vive desde o fim da última semana uma explosão no número de casos. Um exame realizado pelo governo brasileiro confirmou o primeiro caso confirmado de Coronavírus na América Latina, segundo uma fonte ouvida pela Reuters nesta quarta-feira.
O que fazer se você voltou das regiões mais atingidas da China e da Itália recentemente?
Se você tiver febre, tosse ou dificuldade para respirar dentro de um período de até 14 dias após viagem, procure a unidade de saúde mais próxima e informe a respeito da sua viagem.
O Ministério da Saúde recomenda que brasileiros evitem viajar sob qualquer hipótese para a China até um segundo momento.
Como vai ser o atendimento no Brasil aos pacientes?
Os serviços de saúde seguirão um protocolo de manejo clínico que está sendo elaborado, revisado e adaptado pelo Ministério da Saúde, com base nas recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Mas, como não há antiviral específico nem vacina, o tratamento deve ser focado em tratar os sintomas: repouso, hidratação e ventilação para os que tiverem complicações respiratórias.
“A maioria das pessoas não vai precisar ir para o hospital, como acontece com todas as viroses respiratórias e com outros Coronavírus. Mas outro grupo vai desenvolver formas clínicas que merecem ser atendidas no ambiente hospitalar”, afirma o coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rivaldo Venâncio.
Quantas pessoas já foram infectadas no mundo?
Desde que a doença foi descoberta, no fim de dezembro, o vírus infectou 80.988 pessoas em todo o mundo e matou 2.763, segundo dados do governo chinês e da União Europeia.
No fim de janeiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou emergência de saúde internacional por conta do surto. A medida atribui várias responsabilidades aos países do mundo e havia sido adotada apenas cinco vezes desde a criação do dispositivo, em 2005.
Quais países já foram afetados?
Segundo o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças, o Covid-19 já chegou a 39 países — incluindo a China e o Brasil.
Também é o caso de Japão, Malásia, Cingapura, Coreia do Sul, Tailândia, Vietnã, Nepal, Camboja, Sri Lanka, Índia, Egito, Argélia, Austrália, Filipinas, Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Espanha, Finlândia, Itália, Reino Unido, Suécia, Suíça, Croácia, Grécia, Rússia, Bélgica, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Kuwait, Iraque, Irã, Omã, Israel, Afeganistão e Líbano.
O que é o Coronavírus?
Nomeado a partir de sua forma circular, o Coronavírus (CoV) é uma ampla família de vírus à qual pertencem as cepas que causaram, por exemplo, a Sars e a Mers. Já se sabe que a pneumonia misteriosa é causada por uma nova cepa que os cientistas ainda não conheciam, identificado como 2019-nCoV. No dia 11 de fevereiro, a OMS batizou a doença causada pelo vírus como Covid-19.
Quais são os principais sintomas?
Via de regra, os sintomas de um Coronavírus são nariz entupido, tosse, garganta inflamada, mal-estar, febre e dor de cabeça. Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, a maior parte das pessoas contrai algum tipo de Coronavírus durante a vida, e tende a se curar em poucos dias.
Por que a doença é perigosa?
Algumas variantes do Coronavírus podem afetar gravemente o sistema respiratório, causando pneumonia, sobretudo em indivíduos muito novos ou muito idosos, em portadores de doenças cardiopulmonares ou em pessoas com sistema imunológico debilitado. Tudo indica que este é o caso do Coronavírus Covid-19.
Infectologistas alertam que o novo Coronavírus tem se mostrado “muito agressivo e virulento, mas por outro lado é bom porque ao matar (o vírus) se dissemina menos.
“Quando é assim, o paciente rapidamente é internado, fazendo com que o impacto de disseminação seja menor do que uma infeção comum”, explicam.
Como se prevenir do Coronavírus?
Até agora, as formas mais letais dos Coronavírus não têm vacina nem cura. No entanto, ações básicas podem prevenir qualquer infecção contagiosa que possa ser transmitida pelo ar ou pelo contato.
Segundo o portal do Ministério da Saúde, são recomendáveis: “frequente lavagem e higienização das mãos, principalmente antes de consumir algum alimento; utilizar lenço descartável para higiene nasal; cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir; evitar tocar mucosas de olhos, nariz e boca”.
Recomenda-se ainda: “higienizar as mãos após tossir ou espirrar; não compartilhar objetos de uso pessoal, como talheres, pratos, copos ou garrafas; manter os ambientes bem ventilados; e evitar contato próximo a pessoas que apresentem sinais ou sintomas de infecção respiratória”.
“O que as pessoas sempre podem fazer é redobrar o cuidado com higiene das mãos. Estudos mostram que o brasileiro toma muito banho, mas lava pouco as mãos. Em 2009, na ocasião da gripe suína, antes mesmo de a doença chegar ao Brasil, houve alarme grande para manter higiene das mãos. E naquele ano os laboratórios que vendiam produtos para diarreia, gripe e outras doenças não bateram as metas porque houve intensificação da higiene das mãos”, obeservaram os especialistas.
Quais são os tipos de Coronavírus conhecidos?
Há sete tipos conhecidos de Coronavírus que podem infectar pessoas — o Covid-19 é um deles. Outro exemplo da categoria foi a Sars, que matou 774 pessoas e infectou pouco mais de 8 mil, em uma epidemia que começou na China em 2002. Ele também pode ser transmitido por superfícies como maçanetas de porta, por exemplo.
Como acontece a transmissão?
O Coronavírus, em geral, é transmitido pelo ar, por meio de grandes gotículas expelidas na respiração, ou por contato direto ou indireto com secreções. Além disso, pessoas podem se infectar através de superfícies como maçanetas de porta ou um simples corrimão.
Especialistas em epidemiologia estimam uma pessoa infectada com o 2019-nCoV pode transmiti-lo, em média, para dois ou três outros indivíduos. Como o 2019-nCoV foi descoberto recentemente, é impossível detalhar sua rota de transmissão.
É um vírus que se mantem viável no ambiente em superfícies molhadas por dias. Uma pessoa pode se contaminar por contato respiratório, utensílios contaminados. Transmissão por via aérea é sempre preocupante. Mas o vírus não vai pular da maçaneta para sua boca, por isso é importante redobrar cuidados com as mãos. Água e sabão resolvem.
Como a doença atingiu humanos?
Sabe-se que o Coronavírus costuma ser contraído por seres humanos pelo contato com outras espécies. A Sars, por exemplo, veio da civeta (ou gato-de-agália, espécie aparentada do guaxinim), animal então consumido na China como iguaria.
A Mers, que dizimou 858 dos 2.494 pacientes diagnosticados desde 2012, veio dos dromedários, que chegaram a ser cogitados como possíveis transmissores do vírus para os seres humanos, embora nada tenha sido confirmado até agora.
Um mercado de frutos do mar em Wuhan está no centro das suspeitas sobre a origem da doença. Embora alguns animais marinhos possam hospedar o vírus, é mais provável que ele tenha vindo de algum animal comercializado vivo, como galinha, cobra, morcego, cobra ou coelho.
O que a China já fez para conter a epidemia?
Mais de 50 milhões de chineses estão isolados em suas cidades, depois da imposição de quarentenas e/ou restrições às redes de transporte em outras quatro localidades. Ao todo, dez prefeituras adotaram medidas de confinamento na província de Hubei, cuja capital é Wuhan. As medidas passaram a ser elogiadas pela OMS, mas são questionadas por especialistas.
O governo chinês também anunciou o fechamento de trechos da Grande Muralha, assim como de monumentos emblemáticos de Pequim, em meio às medidas adotadas para controlar a propagação do Coronavírus.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.