Coluna Direto de Brasília #Ed. 304 – Por Val-André Mutran

Uma coletânea do que os parlamentares paraenses produziram durante a semana em Brasília
Na foto, audiência pública para encaminhar Projetos de Regulamentação da Reforma Tributária. Da esquerda para a direita, Dep. Joaquim Passarinho (PL-PA); Dep. Danilo Forte (UNIÃO-CE); Dep. Pedro Lupion (PP-PR); Dep. Domingos Sávio (PL-MG); Presidente da Associação Nacional dos Procuradores dos Estados e do DF (Anape), Vicente Braga

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Especial Reforma Tributária

Proativos
Deputados federais, não necessariamente de oposição ou situação, resolveram, pela urgência que o tema requer, vestir a camisa da proatividade. Arregaçaram as mangas  e decidiram não esperar pelo pacote de projetos do Executivo — que nunca fica pronto — de regulamentação da Reforma Tributária, aprovada no Congresso Nacional há quatro meses.
Bernard Appy, secretário extraordinário da Reforma Tributária do Ministério da Fazenda, diz que o trabalho está quase pronto. Mesma declaração do chefe, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Mas, não está!

Bernard Appy, secretário extraordinário da Reforma Tributária do Ministério da Fazenda, disse que os projetos de regulamentação da reforma tributária estão quase prontos

Como está?
Segundo apurou a Coluna, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) está auxiliando na conclusão dos textos de regulamentação da Reforma Tributária, sob coordenação deBernard Appy. O texto deve ser encaminhado à Casa Civil ainda nesta semana, para revisão final, e, então, enviado ao Congresso Nacional, no início da próxima semana.

Plano
A ideia é encaminhar dois projetos, imediatamente. Um com as normas gerais, tratando de IBS e CSB e cashback; e algumas matérias específicas irão depois, em projeto à parte, com normas operacionais, segundo Moisés Carvalho, procurador da Fazenda, afirmou na terça-feira (16), na apresentação do relatório “PGFN em Números”.

Quem apita?
Os dois projetos ficarão prontos e serão enviados à Casa Civil, que poderá decidir já encaminhar os dois ou um deles primeiro, mas não sem antes ter o aval do presidente Lula. Haverá ainda um terceiro projeto de lei complementar a ser enviado depois, tratando de fundos de desenvolvimento e da Amazônia. Não há quem arrisque alguma estimativa de prazo. A lentidão do governo é algo impressionante.

Regulamentação paralela
Deputados presidentes das maiores e mais influentes frentes parlamentares do Congresso Nacional apresentaram o próprio pacote. Não com quatro, mas com 13 projetos de lei complementares. O plano é: quando o pacote do governo chegar, será incorporado ao núcleo da proposta desses projetos elaborados pelo grupo parlamentar, que garante ter ouvido todos os segmentos econômicos e grupos de pressão.
“Não é uma trolagem no governo, mas o real exercício das prerrogativas dos congressistas, goste o governo, não goste o governo”, esclareceram os deputados na audiência.

Acabou a lua de mel
A leitura da Coluna, porém, acrescenta outro componente da equação política. A lua de mel, comemorada com champanhe francesa no início do ano pelo governo, após a divulgação dos número da economia, tomou doril. Há quem diga que “a economia, grande trunfo do governo Lula em 2023, parou e começa a recuar”. E os congressistas sabem muito bem disso, com o preço do dólar escalando cada vez mais.

Fixação
O ministro Fernando Haddad jogou a toalha na promessa de superávit fiscal em 2025 e 2026, e o arcabouço fiscal virou anedota entre os agentes financeiro. O FMI soltou relatório antecipando que vem pela frente. Se superávit houver, será no próximo governo.
Mas, a fixação do governo permanece: gastar, gastar e gastar até o que não se tem para gastar.

Como foi a audiência
Na audiência pública da Comissão de Desenvolvimento Econômico, na quarta-feira (17), os deputados defenderam 13 projetos de lei apresentados para regulamentação da reforma tributária (veja lista abaixo). As propostas foram apresentadas a partir de grupos de trabalho organizados por 23 frentes parlamentares com a participação de empresários e da sociedade. O Poder Executivo deve apresentar outros projetos na semana que vem, que, como dito, serão incorporados.

Palavra do presidente da CDE
“O trabalho das frentes parlamentares coloca os pagadores de imposto e consumidores dentro do Parlamento, contribuindo para o debate e o avanço das propostas legislativas”, afirmou o presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico (CDE), Danilo Forte (União-CE). “A gente precisa ter a nossa legislação compatível, já que nossa carga tributária é excessiva, principalmente sobre os ombros do setor produtivo. Impede o Brasil de crescer, de desenvolver, de gerar emprego, gerar oportunidade e ter crescimento econômico sustentável.”

Presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico (CDE), Danilo Forte (União-CE)

Ausência
Em audiência de tamanha importância, chamou atenção a ausência do único membro da Comissão de Desenvolvimento Econômico (CDE) da bancada do Pará, o deputado federal Keniston Braga (MDB-PA).

Palavra do relator
O relator da Reforma Tributária, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), apontou para a necessidade de a regulamentação manter os acordos feitos na aprovação da emenda constitucional. “Este é o nosso desafio: mantermos os princípios e conceitos que foram aprovados nesta longa construção, e fazer com que estes princípios estejam salvaguardados”, afirmou.

Deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), relator da reforma tributária, pediu que princípios aprovados na reforma fossem alterados

Iniciativa
Aguinaldo Ribeiro elogiou a iniciativa das frentes parlamentares de promover o debate com a sociedade. “A gente está diante de um calendário eleitoral que vem por aí em julho. Toda esta estratégia tem de estar coordenada pelo Executivo e pelo Legislativo para que a gente possa com muito serenidade, com muita segurança, ter um debate maduro.”

Alimentos…
O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Pedro Lupion (PP-PR), explicou que os projetos congregam interesses de diversos setores da sociedade. Ele destaca a regulamentação para tributação de alimentos. “O texto permite que governo reduza desde já a alíquota de PIS e Cofins para todos os produtos listados da cesta nacional de alimentos. Estamos enfrentando uma alta de alimentos e o governo tem todas as condições, por um ato executivo, de já enfrentar o problema imediatamente”, afirmou.

O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Pedro Lupion (PP-PR), defendeu redução dos tributos dos itens da cesta básica

…da cesta básica
Na proposta, segundo Lupion, está uma lista concisa de produtos da cesta básica que pagarão menos impostos. “Elaboramos uma lista, sujeita a alterações, que trata da saúde alimentar do brasileiro. Estamos falando de proteína, leite, cerais, produtos que têm de estar na cesta básica. A gente precisa deixar o produto mais barato na gôndola para o consumidor”, defendeu.O presidente da Frente Parlamentar Mista do Brasil Competitivo, deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), considera um dos principais benefícios da reforma tributária a não cumulatividade de impostos. “Quando você entra neste período da regulamentação, com diferentes dispositivos, você tem o risco de isso reincidir. Temos de ter o cuidado com a não cumulatividade e a preocupação de não aumentar a carga tributária”, apontou.

O presidente da Frente Parlamentar Mista do Brasil Competitivo, deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), considera um dos principais benefícios da reforma tributária a não cumulatividade de impostos

A decisão do grupo
O presidente da Frente Parlamentar Mista do Empreendedorismo, deputado Joaquim Passarinho (PL-PA), ponderou que as propostas de regulamentação apresentadas anteriormente não antagonizam os projetos do governo. “Primeiro, não pode ser contra o governo, porque não sabemos qual é a proposta do governo”, afirmou. “A partir do momento em que o governo apresentou seus grupos de trabalho, e não houve uma abertura para discutir com a sociedade, resolvemos fazer grupos paralelos, não antagônicos, ouvindo a sociedade, para apresentar as propostas”, explicando como se deu a decisão do grupo de não esperar a boa vontade do governo agir.

O presidente da Frente Parlamentar do Empreendedorismo, deputado Joaquim Passarinho (PL-PA): “Mais de 500 pessoas e entidades participaram das discussões para elaboração dos projetos”

Processo aberto, democrático e colaborativo
Segundo Joaquim Passarinho, mais de 500 pessoas e entidades participaram das discussões para elaboração dos projetos. “A adesão foi até maior do que a gente pensava no início, mostrando a força que o Parlamento tem quando chama a sociedade para debater os temas”.Passarinho observou que o governo já perdeu o prazo para apresentação de alguns projetos. A Emenda Constitucional 32, promulgada em 20 de dezembro de 2023, dava prazo de 90 dias para o Poder Executivo encaminhar os projetos da Reforma Tributária do Imposto de Renda. A data-limite para enviar a regulamentação das mudanças vai até 20 de junho. “Não podemos chegar às vésperas de uma votação desinformados”, argumenta Passarinho.

O presidente da Frente Parlamentar da Defesa do Comércio e Serviços, deputado Domingos Sávio (PL-MG), expõe a deficiência da coordenação política do governo em matéria crucial para o país

Diálogo deficiente
O presidente da Frente Parlamentar da Defesa do Comércio e Serviços, deputado Domingos Sávio (PL-MG), apontou para a necessidade de a regulamentação da Reforma Tributária promover o diálogo entre deputados da base governista e da oposição, acima de disputas ideológicas e partidárias. “A responsabilidade é muito grande e o espírito cívico tem de estar presente nos debates. Se gastarmos uma legislação inteira para fazer a Reforma Tributária não tem nenhum exagero. Não podemos ser açodados, principalmente agora, que há muitas dúvidas na transição.”

Justiça tributária
O deputado Nilto Tatto (PT-SP) defendeu que o Estado tem um papel importante para promover justiça tributária. “Quem paga imposto reclama da quantidade que paga. Mas por outro lado este Parlamento também olha para a perspectiva de quem consome os produtos e serviços que a Reforma Tributária tem o potencial de fomentar”, ponderou. Ele espera que a Reforma Tributária gere oportunidades e abra o caminho para transição energética do País.

O deputado Nilto Tatto (PT-SP) foi uma das vozes do governo na audiência. Ele espera que a reforma tributária gere oportunidades e abra o caminho para a transição energética do País

Projetos defendidos pelos deputados

• PLP 29/2024, sobre imposto seletivo;• PLP 33/2024, contratos de longo prazo;• PLP 35/2024, preços da cesta básica;• PLP 43/2024, regime específico de combustíveis e biocombustíveis;• PLP 47/2024, Zona Franca de Manaus e Áreas de Livre Comércio;• PLP 48/2024, operações com bens e serviços submetidos a alíquota reduzida;• PLP 49/2024, não cumulatividade;• PLP 50/2024, fiscalização, coordenação e interpretação do IBS e da CBS;• PLP 51/2024, Zona Franca de Manaus;• PLP 52/2024, regimes específicos para saúde e sistema financeiro;• PLP 53/2024, regime especial em zonas de exportação e importação;• PLP 55/2024, regime específico de tributação de bens imóveis;• PLP 58/2024, regulamentação de regimes específicos.

Congresso Nacional

Liberdade de expressão
Reportagem do Blog do Zé Dudu (aqui) cobriu como foram as duas audiências públicas, no Senado e na Câmara dos Deputados, com quatro jornalistas convidados, sobre as acusações de suposta censura que estariam sendo promovidas pelos Poderes Judiciário e Executivo.

Gabinete do Ódio x Gabinete do Amor
Um dos jornalistas, David Ágape, publicou em suas redes sociais @a_investigacao_ a seguinte provocação: “Lembram do “Gabinete do Ódio”? Aquele esquema que o STF tem investigado há quase 5 anos, mas ainda sem conclusões concretas? Nesta reportagem, apresentamos o “Gabinete do Amor”, rede de ativismo digital altamente organizada, que emprega táticas deploráveis em sua militância. Confira aqui.

O jornalista brasileiro David Ágape compareceu na quinta-feira, na audiência pública da Comissão de Comunicação e Direito Digital (CCDD) do Senado para falar sobre as investigações do Twitter Files Brasil

Banidos
Governo chinês ordenou o banimento, em uma tacada só de: WhatsApp, Telegram, Facebook, Instagram e X (ex-Twitter), sites e aplicativos do Google. O país deve ser a Disneylândia de certos poderosos do Brasil, de fio a pavio, arranchados nas cadeiras mais macias do Três Poderes e até fora deles.

Sem choro nem vela
Não tem choro nem vela para cerca de 73% da população da China que está conectada à internet. Ou seja, só no país asiático, mais de 1,3 bilhão de pessoas navegam na rede, segundo dados de 2021, do Banco Mundial. Porém, o que se vê no ambiente digital por lá é diferente do que está disponível no resto do mundo.

De fábrica
Celulares de marcas chinesas, como a Huawei, vêm com configurações de fábrica que bloqueiam o acesso à Google Play — loja de aplicativos da Google —, assim como da Apple Store, da Apple, dificultando ainda mais o acesso às ferramentas.
Redes sociais também não funcionam na China e contam com versões domésticas, previamente aprovadas pelo Comitê do Partido Comunista da China. O acesso a sites de notícias internacionais é igualmente limitado.
— Gostou!? Arruma uma passagem e vai lá. Aqui, tem muita gente que quer adotar a moda.

Cada vez pior
O patrulhamento político está tornando o clima de debates no Brasil algo insuportável, primitivo, contraprodutivo, inócuo, violento e perigoso. São inúmeros os absurdos. Um deles, ocorreu essa semana protagonizado pelo deputado federal Glauber Braga (PSol-RJ), que expulsou um ativista do MBL a pontapés de dentro do Anexo III, na Câmara dos Deputados, numa cena jamais vista na história secular da Casa do Povo.
O caso foi na terça-feira (16), leia os detalhes na nossa reportagem aqui.

Deputado Glauber Braga (Psol-RJ), aos empurrões e chutes, expulsa um ativista que o criticou, próximo à portaria do Anexo III da Câmara dos Deputados

Show I
A deputada federal “trans”, Erika Hilton (Psol-SP), promoveu, na quinta-feira (18), um show de grosseira e virulência de alguém que se julga a “dona da verdade”. O palco foi a sessão na Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família, da Câmara dos Deputados.

Show II
Hilton mencionou que “existe uma legislação, que garante que mulheres, meninas, pessoas que gestam, possam ter direito ao acesso à saúde, possam não ser obrigadas a vir a óbito ou a levar adiante algo que é fruto de uma violência”. Até aí tudo bem, mas…

Show III
No meio da fala da deputada, uma voz feminina interrompe Erika Hilton — que chama para a porrada quem ousar lhe chamar de homem — e lembrou a deputada o óbvio: “Mulher é que gesta bebê na barriga”. Enfurecida, a psolista, respondeu em tom ameaçador e quase aos gritos histéricos: “Sim, pessoas que gestam, pessoas que gestam, pessoas que gestam, goste a senhora ou não, e respeite a minha fala… Na hora de vossa excelência falar, vossa senhora (sic) coloque a sua opinião”.
— Francamente. Ninguém merece!

Show IV
A cena patética viralizou nas redes sociais, como se presume que era o objetivo de Erika Hilton, mas que acabou virando contra ela. Um dos internautas escreveu: “A grama é verde”. E esse colunista completa: “Mas pode ser amarela, se estiver seca”.

Diagnóstico I
Também na quinta-feira, confira os detalhes aqui, da sessão deliberativa do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados,que absolveu a também psolista paulista, Sâmia Bonfim, esposa do deputado Glauber Braga, por 12 votos favoráveis e 2 contrários arquivando a representação n° 24/2023, a livrando da cassação.

Diagnóstico II
O Partido Liberal (PL), na representação n° 24/2023, acusou Sâmia Bomfim de atacar a honra e a imagem dos deputados Ricardo Salles e Delegado Éder Mauro (PL-PA), durante reunião da CPI do MST. Segundo o PL, Sâmia insinuou que Salles estava agindo em favor de financiadores da sua campanha eleitoral para a Câmara, e acusou Éder Mauro de tortura.

Diagnóstico III
Os deputados do PSol são useiros e vezeiros em tumultuar qualquer que seja o tema em debate, em qualquer que seja a ocasião. Este colunista entende perfeitamente qual a estratégia do contestador partido. É a democracia, mas, enquanto as instâncias legais não punirem um deles pelos continuados abusos de suas prerrogativas, a certeza de que isso jamais acontecerá é o estímulo da continuidade do que já vem ocorrendo — virou rotina —, como é constatado por quem cobre os trabalhos na Casa.

Bancada do Pará

Demorou
A Justiça Federal do Pará finalmente deu prosseguimento aos pedidos de socorro da deputada federal Renilce Nicodemos (MDB-PA) e mandou prender o ex-deputado Wladimir Costa, ordem cumprida pela Polícia Federal com status de prisão preventiva — que não possui prazo para a sua duração determinado em lei.

Obsessão
Wlad vinha praticando um perseguição obsessiva contra a deputada e os crimes dos quais é acusado estão disponíveis a todos, bastando acessar as redes sociais do político com mania de perseguição.
— Com quem será que Wlad aprendeu essa malineza?

De volta na semana que vem
Estaremos de volta na próxima semana publicando direto de Brasília, as notícias que afetam a vida de todos os brasileiros, com as reportagens exclusivas aqui no Blog do Zé Dudu.

* Val-André Mutran – É correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.
Contato: valandre@agenciacarajas.com.br
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