Coluna do Chico Brito

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Olha eu secretário. Arri Égua!

Chico Brito 2MATÉRIA COMPILADA POR CHICO BRITO

O prefeito, aí, me nomiou Secretário de Disenvolvimento, e foi intão qui eu disenvolvi mesmo. Comprei carros, comprei gadus, comprei fazendas. Comprei até um avião. E assim que comecei a pilotar o bicho saí um dia sem o instrutor e foi a disgraçera. Caí bem ali no Curionópolis, no km 30. E foi o maior dispautério. Qui na apousação forçada (qui acho qui foi pur que eu barberei, que eu tava mei perrengue, atacado de uma difrussera, ou pur que tinha acabado a gasolina), saí dirrubando tudo pela frente. Só de juquiras foi um mei alqueire. Ou mais. Afora as roça de mandioca e umas de banana e milho. Resultando disso foi que somado e subetraido, afora outros istragus, quebrei quatro custela, um braço, trinta e seis dente e um ovo, qui este ficou ismigaiado na buléia do avião. E foi aí qui cumeçei a dar pra trás.

O dono da fazenda até chorou. Mais chorou foi pur causa de um canavial novo, plantado pra fazer cachaça, e de um casal de galinhas e um galo de briga dele que também foi tudo pro saco. Gastei dinheiros. O prefeito perdeu as eleição, e eu fiquei sem imprego. Caí na rua da amargura. E peguei birras. Embirrei-me. E estabeleci: agora só ando é no lombo de bicicreta, de carroça, e até di carro. Mais num quero saber mais desses bichos qui avoa. De arara a zurubu, de hoje indiante, o qui passá avuando em minha frente, (se bobiá, até anjo), eu prego é fogo, falei.

Foi nesses tempus que si deu o episódio di um elemento, qui istando em Belém e querendo vir pro Peba chegou atrasado no eroporto, com o portão de imbarque já fechado. Ele intão pulou de bunda na esteira de bagagem pra ser vomitado lá debaixo da barriga do avião, quereno, de todo jeito, intrá pra dentro do bicho. Mais num deixaro. Aí o homi se aloprouce: abraçou nos cano da roda, e disse: num fico pra trás nem qui a vaca tussa, di qualqué maneira eu vou. E ninguém conseguia tirá o renitente rebordoso de lá. Deu pulicia federau, deu jornalista, e nada do home se disagarrá. Só largou na base do cassetete, porrada em cima das unha, que ficou roxas qui nem se tivesse passado ismaute di mulier. E enfiava as ponta das mão na boca, e chupava as unhas, pulando em um pé só, e berrava espalhafatoso tresloucado: ãe, ãe, ãe, ai, ai, ai, ui,ui,ui! Coisa que virou nuticia nu jornau. Aí eu fui falá com ele depois, e perguntei assim: mais doutor, tu é doido? Pegá rabeira de avião? Purque? Qui ele mi respondeu que quando ele era minino pobre lá em São Paulo ele já era tarado por pegá trazeira de caminhão, “mais agora qui já sou importante, sou deputado, pego trazeira é de avião. Ainda mais qui era pra eu buscá uns dinheirus lá da prefeitosa, ele disse. (I eu sei qui granas qui era). Mais foi assim qui terminou meus tempos de avoação. E por que no disastre eu também perdi um olho, agora, pur que tenho um olho só, tem gente que me chama de piloto. Pode? Pode uma coisa dessas? Arri égua!

Extraído da obra intitulada “U LIVRO – A BREUGRAFIA DA MINHA VIDA”, do famoso escritor OSTÁQUI U SILVA, ainda inédito, e à espera de financiamento para publicação pela Prefeitura do Pebas.

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3 comentários em “Coluna do Chico Brito

  1. Paulo Sérgio da Cunha (Paulão Paulada) Responder

    Chico serei sempre seu amigo,adorei o “arri egua”muito bom.Abraço seu aigo Paulão.

  2. Fermina Daza Responder

    Adoro o Chico Brito. Quem o lê aqui nunca pensa que, por trás desse veneno tão inteligentemente espalhado, há uma pessoa doce e de fala mansa. Já me convidou pra dois dedos de prosa no seu refúgio da boca da noite, ali perto do Chico Mendes. Eu, meio tímida e achando que não tinha feito nada pra merecer, disse que qualquer dia. Eu sei que ele é paciente.

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