A guerra contra o boi em pé (I)
Por enquanto restrita apenas a gabinetes ministeriais e associações classistas, desenrola-se no momento uma batalha que se não for devidamente equalizada poderá respingar fortemente na economia paraense, particularmente na região sul e sudeste do Pará.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC) e a Associação Brasileira de Frigoríficos (ABRAFRIGO) enviaram em 31 de janeiro passado requerimento ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, requerendo a taxação da exportação do boi em pé em 30%.
Dados divulgados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da renomada Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária Brasileira (CNA), o Produto Interno Bruto (PIB) do Agronegócio de 2010 chegou a fantástica soma de 821 bilhões de reais, sendo que a pecuária, considerando toda a sua cadeia produtiva, indo dos insumos, passando pelas fazendas e distribuição final, representou 29,6%, ou seja, 242,6 bilhões. Levando-se em conta que o PIB nacional de 2010 foi de 3,675 trilhões vemos que nossa pecuária contribuiu com históricos 6,6% e pela demanda do mercado internacional a tendência é a superação constante desse índice ano a ano.
Segundo ainda o resultado dos referidos estudos a evolução dos seguimentos da pecuária no PIB do setor em 2010 deu-se na seguinte proporção: Insumos, 14,65%, produção 39,42%, indústria 13,73%, distribuição 32,20%. Levando-se em conta que as fases relativas ao insumo e produção ocorrem no ambiente que na linguagem do setor convencionou-se chamar de antes da porteira, isto é, dentro do ambiente do pecuarista, vemos que a fatia maior pertence exatamente a esse seguimento somando 54,07%.
O Brasil só perde atualmente para a Austrália no ranking de países exportadores de boi vivo mundial por via marítima. O Pará é hoje de longe o maior exportador de bois vivos do país e tem nessa atividade um importante componente da sua economia. Baseado nos últimos resultados do PIB do agronegócio no em nosso estado de 2009, de responsabilidade do Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Governo do Pará (IDESP), observamos que entre 2003, início das exportações de gado em pé no Pará e 2009, os embarques cresceram mais de 25%, alcançando no último ano 506.000 animais. E foi a partir do início dessas exportações que a pecuária paraense, coincidentemente, passou a ser maior que a agricultura.
Um dos argumentos da ABIEC e da ABRAFRIGO em defesa da hiper taxação da exportação do boi em pé em insustentáveis 30% é a redução do rebanho a partir de 2006 aliada ao crescimento das exportações do gado vivo, o que, segundo sua ótica, vem acarretando a limitação da oferta da matéria prima, bois e vacas prontas para o abate, de seus associados.
Ora, tomando-se como paradigma a Austrália, onde o processo se dá em condições análogas às nossas, segundo estimativas do Meat Livestock Australia (MLA) baseado nos dados Australian Bureau of Statistcs (ABS), equivalentes aos nossos ABRAFRIGO e ABIEC, lá, mesmo com a evolução das exportações do boi vivo, as exportações da famosa carne australiana mantêm-se em constante alta.
1 comentário em “Coluna do Fred Silveira”
Estimado Fred,
O que estas entidades querem é eliminar um forte concorrente, pois até a chegada desta oportunidade de venda para os pecuaristas, os frigorificos pagavam o que queriam aos produtores rurais. Viva a concorrencia.