Está chegando a hora da decisão em que os paraenses como um todo ou apenas os residentes e domiciliados nos municípios a serem desmembrados do Estado do Pará irão escolher se querem ou não a criação dos Estados do Tapajós e do Carajás.
Já era previsível que ao se afunilar os procedimentos emancipatórios os nervos naturalmente iriam aflorando à pele e os neurônios agitando-se freneticamente. O objetivo de cada lado já é conhecido. As estratégias vão sendo arquitetadas à medida que a evolução do processo
caminha. Ao final, como sempre acontece, tal quais as camadas tectônicas da Terra, tudo irá se acomodar.
Mas, antes desta acomodação, seja qual for o resultado, águas revoltas intentam passar aos jorros cachoeirais por debaixo da ponte dos mais variados interesses.
De um lado Belém, a centenária e bela capital paraense e a Região Metropolitana em seu entorno como carro chefe na busca pela manutenção da integridade geográfica do Estado. De outro, duas regiões distintas culturalmente, porém, ambas com um só objetivo: a independência político-administrativa. Especificamente do ponto de vista cultural as duas regiões que se pretendem emancipar não têm quase nada em comum. Em síntese o sul e o sudeste, que formarão, caso vingue o processo plebiscitário, o Estado do Carajás, com 284.718 km², têm como principais fundamentos a ausência do Estado, grandes vazios demográficos, ausência de políticas públicas de saúde, educação e segurança que ao mesmo tempo em que promovem grandes desigualdades sociais geram um ambiente de total insegurança ao povo levando essa gente a conviver com um ambiente bastante hostil do ponto de vista da violência criminosa. Esses são basicamente também os mesmos fundamentos estruturais dos nossos irmãos da parte oeste parauara destinada à formação do Tapajós, com 708.869 Km².
Sob a ótica essencialmente cultural, ambas as regiões têm muito pouco em comum. Começando pelo processo de ocupação do sul e sudeste paraense onde mais da metade de seus residentes migraram de outros Estados, principalmente Maranhão, Tocantins, Goiás e Minas Gerais.
Traduzindo em parâmetros quantitativos tem-se que muito mais da metade do bolo populacional da região é formada de imigrantes do país inteiro, fato que dissocia naturalmente o ideário cultural do sudeste paraense em relação ao restante do Estado. Já do lado oeste o povo é basicamente autóctone.
Por aqui pelas bandas carajaenses os ritmos musicais, as comidas, o sotaque, os costumes em geral, nada têm a ver com o Pará histórico. Aqui pouco ou quase nada se come maniçoba e tacacá. Ouve-se muito músicas caipiras e sertanejas. Carimbó e siriá são coisas do outro mundo por aqui. A própria forma de se vestir, tanto dos homens como das mulheres difere do modela da Capital. Isto sem falar na frota veicular onde proporcionalmente em relação a Belém circulam muito mais caminhonetes tipo pick-ups por aqui. Afinal esta é uma região tipicamente rural o que justifica a diferenciação de cultura.
A economia local estriba-se basicamente na pecuária e mineração, que nos bons tempos chegou a ter em plena atividade onze siderúrgicas a pleno vapor vindo a ser reduzidas por força de vários fatores, inclusive exógenos, em função da crise mundial de 2008. Atualmente já opera em Marabá uma grande indústria metalúrgica o que diversifica o modelo preponderantemente vigente que era alicerçado na simples exportação de matéria in natura. Espera-se com justa expectativa para breve a instalação de um grande empreendimento da Companhia Vale, a Alpa, que irá reconfigurar o modelo industrial do setor. Afora esta vertente econômica a região também tem forte presença no cenário nacional na agroindústria não só para consumo interno como para exportação também, em forma de commodities o que faz a diferença na balança comercial do Pará e do País.
Assim, creio não haver necessidade de muito mais argumentos para entender a criação do Estado do Carajás como um imperativo sócio-econômico de largo alcance para catapultar o progresso e desenvolvimento não só da região do sul-sudeste paraense bem como, sem dúvidas, para a Região Norte e o próprio país, principalmente neste momento onde se avizinha nova e imprevisível crise mundial com matriz nos Estados Unidos e Europa.
(*) Frede Souza Silveira é advogado licenciado, servidor público federal, militando no jornalismo desde a juventude ainda estudante em Manaus, de onde é originário, passando por jornais paraenses como o extinto Estado do Pará, que deu origem ao Diário do Pará, estando há 8 anos exercendo sua atividade jornalística no jornal Correio do Tocantins, assinando uma coluna denominada “Cotidiano”, onde escreve sobre polícia, economia, pequenos contos e crônicas. Ainda na área de mídia já experimentou a TV em Marabá onde por 1 ano apresentava um programa de entrevistas, e no rádio em Belém, onde tinha um programa diário na Rádio Rauland. A atividade midiática não tem qualquer vínculo empregatício por ser impedido em função de seu emprego público como Auditor Fiscal do Trabalho no MTE. Atualmente integra o Comitê Regional Pro – Carajás e já foi presidente por dois mandatos da Comissão Brandão Pro – Carajás.