Por Frede Silveira
Um país que se quer grande, desenvolvido, moderno, respeitado, tem algumas tarefas básicas a cumprir com meta permanente. Já avançamos muito ao longo do tempo, mesmo a despeito da incredulidade e torcida contra de países que reconhecidamente perdem com nosso crescimento. Hoje, graças a algumas políticas públicas no campo econômico e social nosso país é reconhecido como uma potência em ascensão no mundo inteiro.
Temos ainda muitas barreiras a vencer em diversas áreas de atividade. Mas tem uma que precisa com urgência urgentíssima ser combatida sob pena de amargarmos pesados ônus tanto domésticos como internacionais. Trata-se do uso avassalador da droga do milênio, o famigerado crack.
Inicialmente uso exclusivamente pelos pobres em função de seu baixo preço em relação à cocaína pura, hoje já frequenta com forte presença mansões estreladas em todos os estados brasileiros. Há algum tempo seu uso vem sendo tratado como uma verdadeira calamidade pública sendo um dos maiores, senão o maior, desagregador de famílias. Estima-se em 600 mil o atual número de dependentes no Brasil.
Sem barreiras institucionais por falta de políticas públicas programadas para o seu combate está transformando grande parte de nossa população em um bando de zumbis, conforme nos mostram as chocantes imagens de televisão de todas as emissoras de TV por esse Brasil a fora.
Droga geralmente fumada, o crack é feito a partir da pasta da cocaína com bicabornato de sódio. Seu nome é um derivativo do verbo inglês “to crack”, que traduzido para o português quer dizer quebrar, alusão aos estalidos que causa ao ser queimado. Para ser fumado usa-se um cachimbo geralmente improvisado usando para tal de qualquer material bastando ter uma espécie de canudo que leva fumaça do local da queima diretamente ao cérebro ao ser aspirado. Cerca de cinco vezes mais potente que a cocaína seu efeito chega ao sistema nervoso central em 10 segundos e dura de 3 a 10 minutos, que para seus usuários é uma eternidade que logo dá lugar a profunda depressão só combatida com nova dose, o que leva a um círculo devastadoramente vicioso. Estudos mais recentes dão conta que usado diariamente pode causar dependência em apenas uma semana.
Dando sequência ao enfrentamento que já havia sido iniciado em 2010 pelo presidente Lula, com o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack, a presidente Dilma Rousseff lançou dia 7 de dezembro em Brasília o Plano de Enfrentamento ao Uso do Crack e outras Drogas, uma de suas principais promessas de campanha. O programa, com investimento de 4 bilhões de reais, terá como ações o atendimento ao dependente químico e a seus familiares, o combate ao tráfico de drogas e a prevenção ao uso dessas substâncias.
Tendo como uma de suas principais meta o novo Plano pretende capacitar 210 mil professores para o Programa de Prevenção do Uso de Drogas nas Escolas e 3.300 policiais militares para o Programa Educacional de Resistência as Drogas, que beneficiaria cerca de 2.800 milhões de alunos por ano. Visa ainda, o ambicioso Plano, centrar esforços com policiamento nos locais de consumo e nas fronteiras, por onde entra a droga no país.
Não se discute a nobreza da intenção do Governo no combate a essa verdadeira epidemia que é o crack, A questão é saber onde está sendo aplicada essa dinheirama toda (4 bilhões), e o que será feito para evitar o desvio na aplicação dessa fortuna, principalmente em um ano de eleições como é agora 2012.
O grande defeito de origem desses mega planos é a centralização em suas concepções. Um plano de tamanha importância e envergadura deveria necessariamente passar por um amplo debate envolvendo toda a sociedade para dar certo. Idealizado nos gabinetes de alguns poucos avizinhados ao poder, muitos dos quais sem o menor conhecimento sobre o assunto, invariavelmente a tendência é seguir o caminho do fracasso, o que, convenhamos, é deveras lamentável.
A propósito, será que chegou, ou chegará algum trocado para nosso município? E se chegar, o que será feito de fato, numa cidade cujos serviços públicos de saúde e educação estão completamente deteriorados por falta de gestão? É esperar (quem tiver paciência e acreditar ainda nesse governo), para ver. Muitos já perderam tanto a paciência como a credibilidade nesta moribunda administração. Só não perderam o sonho de ver Marabá um dia no lugar que de fato merece estar.
3 comentários em “Coluna do Frede Silveira: Crack, uma epidemia”
Povo deste gigante Brasil, cade os grandes traficantes ou será que a droga cai do céu, oxalá que Deus de entendimento as autoridades competentes e justas deste País.
Estamos precisando mesmo trazer à tona a questão do crack e suas consequências sociais. O plano do governo, como foi dito, tende ao fracasso, menos pelos possíveis desvios de verbas do que por um equívoco de princípios.
Vejam, estudos recentes (principalmente do psiquiatra Datiu Xavier da Silveira, que trabalha há mais de 10 anos com dependentes químicos) dão conta que as internações compulsórias de dependentes chegam a incrível percentual de 98% de fracassos, ou seja, de pessoas que, de volta à liberdade, voltam a usar a droga. Os tratamentos ambulatoriais (ou seja, em liberdade) conseguem recuperar 35 a 40% dos usuários.
Pois bem, o governo Dilma resolveu investir justamente no tratamento que retira o usuário do convívio social, ou seja, no modelo de tratamento das comunidades terapeuticas, já reconhecidamente ineficazes. Mas por que isso? Por que o Brasil que tem uma política de saúde mental que busca o fechamento dos manicômios e de quaisquer instituições totais, resolve investir no encarceramento dos dependentes e deixar os traficantes soltos?
Alguém deve estar ganhando com isso. São os donos dessas instituições, geralmente de cunho fortemente religioso, que estão fazendo pressão política pra que o governo federal lhes pague pra enxugar o gelo da droga.
Pra isso, criam campanhas para demonização do crack. Por que nunca revelam que o álcool e o cigarro matam muito mais que o crack? Por que nunca falam que os usuários de crack estão morrendo sim, mas não é de overdose e sim de violência e desassistência dos órgãos públicos, sobretudo a saúde? E que, principal, o crack cresce no mesmo ritmo da desigualdade, e da miséria?
Não estou querendo com isso diminuir o caráter devastador do crack, mas sim mostrar que antes da droga precisamos olhar o usuário e o seu contexto. O governo acerta ao combater o tráfico e com veemência, mas erra feio ao não conjugar a sua política de combate às drogas com outras políticas sociais como: moradia, emprego, assistência, educação, entre outros.
Wagner Dias Caldeira
Psicólogo