Ele não tem minério de ferro, cobre ou ouro para fazer despejar mensalmente no caixa da prefeitura milhões em recursos de royalties — que, inclusive, deixam muitos gestores por aí sem saber o que fazer, pelo excesso e não pela falta. Ele também não é lembrado nas rodinhas de fofocas de prefeitos da região para discutir “desenvolvimento” ou consórcio disto e daquilo.
Eldorado do Carajás parece ter sido historicamente abandonado à própria sorte, com o azar de ter sido palco memorável de massacre de repercussão internacional, lembrado todos os anos. Sua sede, embora cortada transversalmente pelas duas rodovias por onde mais corre PIB no Pará (a PA-275 e a BR-155), não lhe traz muitos benefícios comerciais. Eldorado só vê o “progresso” passando, para cima e para baixo, dentro de sua área urbana sem, contudo, usufruir.
Quando o Governo do Estado e os municípios circunvizinhos descobrirem, um dia, o papel de eixo estratégico de Eldorado do Carajás, incentivando-o a ser um dos protagonistas da mudança, o desenvolvimento da região nunca mais será o mesmo. Até lá, ele só escuta a zoada dos vizinhos, fazendo isto ou aquilo de forma mirabolante.
Mas se falta sororidade da turma da esquina para com Eldorado do Carajás, sobra a competência e a boa vontade da prefeita Iara Braga, que está fazendo a diferença dentro de suas possibilidades, mesmo com poucos recursos e após ter pego uma prefeitura literalmente quebrada, do ponto de vista financeiro. Até hoje, a gestão passada não encaminhou ao Tesouro Nacional, por exemplo, o Relatório de Gestão Fiscal (RGF) do 3º quadrimestre de 2020 reportando a despesa com pessoal do período, mas o Blog do Zé Dudu apurou que essa despesa ultrapassou o teto previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
Cuidando da saúde
Mas os sinais de mudança de realidade em Eldorado do Carajás estão começando pelos pequenos gestos. A prefeita Iara Braga autorizou um pregão para registrar preços de passagens terrestres para bancar o deslocamento de pacientes que fazem tratamento de saúde fora da cidade. A medida, orçada em R$ 707 mil, é uma mão na roda para população eldoradense. Os destinos a serem buscados para o Tratamento Fora de Domicílio (TFD) são Tucuruí, Belém, Goiânia (GO) e Campinas (SP).
A iniciativa é louvável e necessária porque Eldorado não conta, por exemplo, com centro cirúrgico e todas as cirurgias precisam ser feitas por unidades de saúde parceiras. De acordo com a prefeitura local, também não há hemocentro para atender pacientes que precisem fazer hemodiálise, de maneira que todo e qualquer atendimento especializado tem de ser feito fora.
No ano passado, de acordo com levantamento da Secretaria Municipal de Saúde, foram emitidas 4 mil passagens de pacientes em TFD (Tratamento Fora de Domicílio) e seus acompanhantes. “Estamos trabalhando para melhorar os serviços de saúde oferecidos e atender com qualidade a nossa população”, diz justificativa que acompanha o edital do pregão.
No anonimato de Eldorado, a prefeita Iara Braga vai fazendo o que pode pelos seus 34 mil habitantes e se destacando em nível municipal. A receita miúda, de R$ 74 milhões este ano, não a impede de trabalhar e sonhar em oferecer dias melhores ao povo eldoradense, o que o passado sempre negou.