Uma coisa são as ameaças de pegar e esfolar os supostos inimigos dos avanços democráticos após a eleição do “pacificador do Cone-Sul”, outra é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), decidir se seu terceiro mandato dará certo. E só depende única e exclusivam♠ente do próprio almirante dos Mares do Sul. Se resolver não continuar acreditando no seu melhor ministro até agora, justamente o comandante da política econômica, o professo Fernando Haddad não terá o elemento vital necessário para continuar sua saga para colocar as contas públicas sob controle. Com orçamento limitado, uma lei de responsabilidade fiscal (arcabouço fiscal) que pode se tornar uma bomba de efeito retardado, e a sanha de gastança nunca antes vista nesse país, Haddad praticamente não terá folga neste final do ano.
Pela rapidez da última sessão — conjunta —, do Congresso Nacional, na manhã da sexta-feira (22), aprovada em votação simbólica, o que se viu foi a aprovação de um acordo com cartas marcadas, pelo crupiê (o dirigente da mesa de jogo no cassino) — é claro. Haddad pouco pode fazer para demover o que já estava decidido há meses pelos congressistas, que não vão abrir mão do controle de um conjunto de emendas que lhes garantam a prática política, e que se exploda quem seja o presidente: de direita ou de esquerda, não importa, porque na dificuldade, tá com fome? Meu pirão primeiro.
Com PPA, LDO e LOA, a trinca que compõem a peça orçamentária finalmente foi aprovada. Antes, na madrugada de sexta-feira (22), a Câmara dos Deputados aprovou a regulamentação do mercado de apostas on-line no Brasil, e incluiu novamente os jogos ou cassinos on-line no texto. Essa modalidade compreende desde games como o Fortune Tiger, popularmente conhecido como “Jogo do Tigrinho”, até bingos virtuais. Para especialistas, a mudança cria uma incongruência, porque jogos de azar em estabelecimentos físicos continuam ilegais no Brasil.
Ocorre que esse ponto do texto pode ajudar a cruzada do ministro da Fazenda atingir seu objetivo de zerar o déficit fiscal — um transatlântico à deriva e sujeito a acidente num mar cada vez mais agitado, pós pandemia.
É o sucesso no campo econômico que pode alavancar os planos do PT de ganhar o maior número possível de prefeituras em 2014. Blá, blá, blá de política internacional, guerra Ucrânia-Rússia, Hamas-Israel, ameaças de Venezuela invadir a Guiana, e do excêntrico Milei (novo presidente da Argentina) implodir o Mercosul; nada disso interessa ao morador do município de Parauapebas (PA) ou Gramado (RS).
De Codó (MA) a São Gabriel da Cachoeira (AM) o povão quer emprego, renda e alguém que lhe atenda quando a doença chegar. A luta pela sobrevivência no país nunca pode ser subestimada, girando a cada mês em torno de 20 milhões de pessoas que acordam e não sabem se vão ter o que comer nesse dia.
Haddad está em São Paulo para passar o Natal com a família, volta no dia 26 para Brasília, um dia após a data festiva e já convocou toda a sua equipe para serões sem dia para acabar.
Quantos petistas do Alto Comando do Komitê farão serão? Haddad não está preocupado com isso, afinal 2024 será a “prova de fogo” de que a sua tese para equilibrar as contas públicas e continuar domando o dragão da inflação, que não poupara lulistas ou bolsonaristas, está certa ou errada.
Vexame
Que ninguém se faça de leso e esqueça que, logo após a divulgação do resultado das eleições, ainda no ano passado, o mercado financeiro protagonizou um dos maiores vexames de sua história, precificando erradamente como seria a condução da política econômica sob o comando de Fernando Haddad.
Quase um ano depois, ao longo dessa última semana do ano, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) bateu quatro recordes sucessivos. O Ibovespa encerrou a sessão de sexta-feira (22) em alta e renovou máxima histórica intradiária, acima dos 133 mil pontos, e de fechamento — o quarto na semana —, ainda sob efeito das expectativas globais por juros menores em 2024 e com liquidez em queda por conta da proximidade das festas de fim de ano. Bancos e Petrobras estiveram entre as maiores influências altistas da sessão. O índice subiu 1,96% apenas nessa semana. Os papéis da
Vale S/A, que tem o maior peso na bolsa também ajudaram a empinar o índice.
No fim do dia, o índice subiu 0,43%, aos 132.753 pontos. Nas mínimas intradiárias, tocou os 132.094 pontos, e, nas máximas, os 133.035 pontos. O volume financeiro negociado na sessão (até as 18h30) foi de R$ 14,94 bilhões no Ibovespa e R$ 20,99 bilhões na B3. Em Nova York, o S&P 500 subiu 0,17%, aos 4.754 pontos, Dow Jones fechou em queda de 0,05%, aos 37.385 pontos e Nasdaq subiu 0,19%, aos 14.992 pontos.
Com a proximidade das festas de fim de ano retirando liquidez dos mercados, o Ibovespa oscilou entre os campos positivo e negativo durante a manhã de sexta, mas firmou tendência de alta à tarde. Globalmente, investidores analisaram a leitura de novembro do PCE, o indicador de inflação favorito do Federal Reserve (Fed), o Banco Central norte-americano, que mostrou alguma acomodação. A extensão dos ganhos já aferidos pelos mercados nas últimas semanas limitou movimentos mais amplos, mas o índice seguiu renovando máximas históricas. As três principais Bolsas estadunidenses experimentam altas consecutivas há oito semanas.
Na sessão de sexta na B3, destaque para Petrobras, com as ações ordinárias subindo 1,34% e as preferenciais registrando alta de 0,96%, apesar do preço do barril de petróleo Brent — preço referência da Petrobras — virar para queda no fim do dia. No noticiário corporativo, a empresa assinou contrato com a Enauta para vender sua participação total nos campos de Uruguá e Tambaú, em águas profundas no pós-sal na Bacia de Santos. E confirmou que estuda parceria com a Mubadala Capital — o trilionário fundo soberano de investimentos do Emirado de Abu Dhabi, para investir em refino no Brasil.
Entre os bancos, Itaú PN subiu 1,59%, Bradesco PN avançou 0,87% e Santander units teve alta de 0,51%, após o Conselho Monetário Nacional (CMN) regulamentar na quinta-feira (21) a lei que estabelece um teto de 100% de juros no rotativo do cartão de crédito e a nova regra do juro sobre capital próprio (JCP) a ser aprovada pelo Congresso. “O setor está indo bem porque alguns riscos regulatórios estão ficando para trás, com desfechos melhores do que o esperado”, diz um gestor, provavelmente com a língua queimada.
* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.