O principal produto dos municípios paraenses de Parauapebas, Canaã dos Carajás e Curionópolis está caminhando para chegar a 100 dólares. O Blog do Zé Dudu levantou que ontem, terça-feira (9), a cotação da commodity com entrega imediata no porto chinês de Qingdao chegou a 94,85 dólares a tonelada — 20 dólares acima do valor cotado em 24 de janeiro, um dia antes do rompimento da barragem de rejeitos da mina Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho (MG), desastre que deixou 306 mortos.
Segundo analistas de mercado, os preços subiram, em primeiro momento, em razão do “efeito Vale”, particularmente com os seguidos anúncios de paralisação de operações da mineradora onde havia barragens construídas com o método de alteamento a montante. Há previsão de que a multinacional com sede no Brasil despeje cerca de 60 milhões de toneladas de minério de ferro a menos no mercado transoceânico este ano. Menos oferta diante de demanda elevada, os preços sobem.
Recentemente, gigantes do setor e rivais da Vale, as mineradoras anglo-australianas BHP e Rio Tinto também viram empecilhos na oferta habitual de minério de ferro em razão de fortes ciclones que prejudicaram as atividades industriais e portuárias na Austrália. Como consequência, cerca de 25 milhões de toneladas do minério australiano poderão não chegar à China este ano. Segundo analistas, a demanda da China continua “sólida”, com a produção anualizada de aço subindo 9% entre janeiro e fevereiro. Mas a Vale alega que não vai acelerar a lavra em Carajás.
Cfem em queda: tonelada alta, mas menor produção
A possibilidade efetiva de menos minério na praça pressiona os preços de referência para o produto com teor de 62%. Esse produto viu pela última vez três casas decimais em 16 de maio de 2014, portanto, há cerca de cinco anos. Se o ritmo de mercado se mantiver, no exato aniversário de cinco anos de 100 dólares, a tonelada do produto alcançará a cotação.
Os efeitos práticos da subida da cotação para os municípios do complexo minerador de Carajás, aqui no Pará, são a possibilidade de aumento da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem), chamada de royalties. Não pelo valor vendido em dólar, mesmo porque o produto paraense recebe bônus por possuir teor acima de 65% de pureza (superior, portanto, ao produto de referência, 62%) e esse bônus não é repassado aos municípios — fica inteiramente com a Vale.
Os royalties, e seu aumento, estão atrelados à necessidade de ampliar a produção nas minas da região, principalmente na Serra Norte de Carajás, em Parauapebas, tendo em vista que sua produção despencou de maneira preocupante este ano. O aumento de 20 ou 25 dólares na tonelada do minério tem impacto pequeno na conformação dos royalties, diante de uma produção que despencou 50%. Esse é um dos motivos pelos quais, de março para abril, a cota-parte do recurso de Parauapebas caiu cerca de R$ 15 milhões, mesmo com a elevação do valor do minério na China.
1 comentário em “Com Vale em sufoco, minério de ferro se aproxima de 100 dólares a tonelada”
Bastante interessante. O mercado de minério de ferro é muito dinâmico e sensível.
Este delta no preço de US$20/t trará um incremento muito expressivo no faturamento da Mineradora. Para cada 100 milhões de toneladas vendidas é algo próximo de US$2Bi. Isso deve representar mais de US$6Bi se aplicado no que poderá ser vendido em 2019.