Comissão Nacional ouve relatos dramáticos sobre a Guerrilha do Araguaia

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Ulisses Pompeu – de Marabá

Na tarde desta sexta-feira, 2 de dezembro, foi realizada uma audiência no Plenarinho da Câmara Municipal de Marabá para ouvir relatos de pessoas que participaram ou conviveram com a Guerrilha do Araguaia, ocorrida entre as décadas de 1960 e 1970, entre Marabá e Xambioá-TO. Cerca de 100 pessoas compareceram à audiência, a maioria ex-militares do Exército ou camponeses que foram arregimentados à força para atuar como guias.

A presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) e procuradora regional da República, Eugênia Augusta Gonzaga, explicou que esta é a primeira vez que eles vêm á região para ouvir as pessoas que participaram diretamente do episódio, como ex-militares e mateiros (pessoas da comunidade que foram obrigadas a guiar os militares do Exército na mata).

Diversas buscas já foram realizadas pelo estado brasileiro na região onde houve a guerrilha. O objetivo das buscas é dar cumprimento tanto a uma sentença judicial proferida pela 1ª Vara Federal de Brasília, quanto à sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos no caso Gomes Lund.

Na sentença, o país foi condenado a localizar os restos mortais de desaparecidos políticos na Guerrilha do Araguaia para entrega a seus familiares, entre várias outras ações que visam a reparar física e simbolicamente os traumas sofridos em função das graves violações de direitos humanos perpetradas no período da ditadura militar.

A audiência contou com a participação do Coronel Joao Batista Fagundes, representante do Ministério da Defesa; Diva Santana, representantes dos familiares de presos desaparecidos, a advogada Rosa Cardoso, representante da sociedade civil e ex-integrante da Comissão Nacional da Verdade, o procurador da República Ivan Marx; e o médico legista Samuel Ferreira.

Criada pela Lei nº 9.140/95, a Comissão funciona junto à Secretaria de Direitos Humanos e é considerada uma das primeiras e principais conquistas dos familiares de mortos e desaparecidos políticos no Brasil em sua luta por medidas de reparação pelas graves violências cometidas pela ditadura.

A comissão, segundo sua presidente, já produziu centenas de relatórios sobre o reconhecimento de vítimas que serviram de base para documentos oficiais, inclusive para as pesquisas da Comissão Nacional da Verdade. A procuradora Eugênia Gonzaga estima que haja em torno de 300 corpos de militantes políticos que devem ter seu paradeiro identificado, além da necessidade de levantamento do destino dado aos corpos de milhares de outras vítimas da repressão como camponeses e indígenas.

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Paulo Fonteles Filho, membro da Comissão da Verdade do Pará, um dos responsáveis pelo evento, lamentou que o major Sebastião Curió ainda abane os seus nesta região e disse que por isso há medo das pessoas em testemunhar o que viram e ouviram. “Não são todos que têm a coragem do que estão aqui hoje. A historia tem sido construída a partir da memória dos que foram presos e a presença dos camponeses. Precisamos contar a história como ela foi. Temos colhido importantes vitórias. De 2009 para cá foram recolhidos 21 ossadas. Não podemos abandonar o que já foi feito, mas precisamos avançar, por exemplo, tombando a Casa Azul”, argumentou Fonteles.

Raimundo Melo, ex-militar do 52º BIS, disse que há vários casos de pessoas que viveram no tempo da Guerrilha e foram guias do Exército. Ele mesmo, conta, sepultou uma pessoa por nome Arildo na região das Formigas. “Mas há outros corpos que não foram retirados pela Operação Limpeza. Num raio de 100 metros estavam ossadas de várias pessoas na base Cabo Rosas. Elas não foram retiradas porque estão no interior da reserva. Um ex-militar amigo meu ajudou a enterrar, dentro do 52º BIS, ossos de pessoas junto com ossos de animais. Ele me disse que mostra exatamente onde é, mas pede sigilo.

Disse também que outro militar amigo seu, conhecido como Lambreta, sepultou Antônio da Dina e fez a sepultura a mando de um general do Exército. “Enterraram até mesmo no Cemitério da Laranjeiras, aqui em Marabá. No Incra há 5 corpos sepultados, que estão concretados. As roupas, botas, ossadas e crânio. A dona da casa pediu para não mexer porque eram ossadas do tempo da Guerrilha”, relata Melo.