A Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara convidará o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, a “prestar esclarecimentos quanto a eventual interferência do governo na empresa Vale”.
Na terça-feira, 22, o Estado informou que Mantega pedirá ao Bradesco a saída de Roger Agnelli do cargo de presidente da Vale. O banco é um dos maiores acionistas da mineradora, por meio da Bradespar. O governo também tem participação significativa na companhia por meio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e de fundos de pensão como o Previ, do Banco do Brasil. Tanto o governo quanto o Bradesco fazem parte do bloco controlador da Vale.
O requerimento foi feito pelo deputado Mendonça Filho (DEM-PE). Inicialmente, ele queria que a comissão convocasse Mantega, mas, durante a votação, foi aprovado apenas um convite.
Agnelli se reúne com a Previ para discutir Vale
Um dia após vir à tona as conversas do ministro da Fazenda, Guido Mantega, com o Bradesco, o presidente da Vale, Roger Agnelli, aportou na Previ para um encontro com Ricardo Flores, presidente do fundo de pensão. Na terça-feira, o Estado revelou encontro na última sexta-feira entre Mantega e o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Lázaro Brandão, para discutir sucessão na presidência executiva da mineradora.
A Agência Estado apurou que a ofensiva para retirar o executivo do comando da Vale ganhou fôlego nas últimas semanas, inclusive dentro da Previ. Principal acionista da mineradora, o atual comando da fundação tem se mostrado mais preocupado em saber detalhes de como promover uma troca de cadeiras na diretoria.
A mudança que a Previ pretende promover em suas vagas no conselho de administração da Vale também aponta nessa direção. Em abril, quando expiram mandatos de alguns conselheiros, a fundação pretende indicar para uma das cadeiras Nelson Barbosa, atual secretário executivo do Ministério da Fazenda e que ocupa a presidência do conselho de administração do Banco do Brasil.
Fora dos quadros da fundação, a escolha de Barbosa é vista como “incomum” por uma fonte, que lembra que tradicionalmente o mandato é preenchido por funcionários da Previ.
Além de Barbosa, o fundo de pensão pretende indicar ainda o nome de Robson Rocha, atual presidente do conselho deliberativo da Previ. Os dois executivos vão entrar no lugar de Jorge Luiz Pacheco e Sandro Kohler Marcondes. Como principal acionistas da mineradora, a Previ tem quatro vagas no conselho de administração.
Segundo uma fonte, Flores deve permanecer no comando do conselho da Vale, assim, como o diretor da fundação, Ricardo Sasseron, que terá seu mandato renovado como representante da entidade na mineradora.
Apesar das prováveis mudanças na Vale alimentarem rumores há meses, a notícia do encontro de Mantega com Lázaro Brandão foi avaliada negativamente por analistas de mercado, uma vez em que o governo quer na Vale alguém mais alinhado com seus interesses, o que pode prejudicar em parte o interesse dos acionistas da empresa.
“O problema é adotar um comando político na Vale, que pode mudar toda a diretriz da empresa”, avalia o estrategista-chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi, lembrando que não é de hoje que o posto de Agnelli está em xeque. “Mas parece que o governo saiu do muro e mostrou um empenho para que a troca ocorra.”
Já o diretor da Ativa Corretora, Álvaro Bandeira, acredita que a “Vale é muito maior que o Agnelli”, embora reconheça que o executivo vem sendo um importante presidente da companhia, que alavancou a mineradora. “A Vale resistiria uma eventual substituição. A dúvida é quem viria para ocupar o seu lugar.”
Fonte: O Estadão