Apesar de alterações, imóvel, localizado em área do DNIT, foi reconhecido por vítimas
Dois camponeses presos pelo Exército e um ex-soldado que atuou no combate à Guerrilha do Araguaia reconheceram na tarde de hoje um imóvel dentro de uma área do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), no Km 01 da rodovia Transamazônica, em Marabá, coma a Casa Azul, um dos mais violentos centros de prisões, tortura e morte de toda a repressão.
A diligência foi realizada pela Comissão Nacional da Verdade que enviou três membros à Marabá: Pedro Dallari (coordenador), José Carlos Dias e Maria Rita Kehl. Os trabalhos contaram com o apoio e a participação da recém-criada Comissão da Verdade do Pará e da Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP).
Os camponeses Pedro Matos do Nascimento, de 75 anos, e Raimundo de Souza Cruz, o Barbadinho, de 74 anos, presos pelo Exército nos anos 70 acusados de suposta colaboração com a guerrilha do Araguaia, foram ouvidos pela CNV dentro da Casa Azul. Ambos reconheceram o local imediatamente e apontaram uma sala da casa, hoje abandonada, como a cela em que estiveram presos no ano de 1973.
Cruz, que trabalhava como farmacêutico na comunidade rural de Brejo Grande, onde vivia, relatou que foi preso doente. Ele se recuperava de uma lesão causada por um tiro acidental e estava com infecção. Isso não impediu que ele fosse torturado com choques, socos e pauladas. “Passei nove dias na Casa Azul, nesse quarto”, afirmou, emocionado.
Soldado confirma – O ex-soldado Manuel Messias Guido Ribeiro, 60 anos, atuou no campanha do Exército contra a Guerrilha do Araguaia. Ele alistou-se em 1974 e após um curto treinamento foi enviado para a região de combate no sudeste do Pará. Ficou na corporação até 1980.
Guido afirma que soldados só participavam dos combates e não da tortura. Ele contou ter sido torturado durante o treinamento e que, por se apiedar dos presos, para quem procurava oferecer água, comida e cobertas, foi repreendido e ameaçado de morte. Guido, hoje pastor evangélico, reconheceu o cômodo da casa indicado por Pedro e Raimundo como prisão e local de tortura.
Ele contou que uma das ameaças de morte que sofreu aconteceu quando o viu o corpo do guerrilheiro Peri, e de um companheiro deste, em Xambioá, crivado de balas e ensanguentado, pronto para ser enterrado numa cova rasa. “Não suportei ver aquela imagem e chorei. E um dos doutores (oficial) que comandava o sepultamento me perguntou com rispidez se eu não queria me juntar a eles (aos mortos). ‘Faço o mesmo com você. Te mato e te jogo aí dentro'”, teria dito o superior, segundo Guido.
Ao final do depoimento de Guido, ele e Pedro deram uma volta no imóvel e localizaram uma alteração na casa: uma porta que foi vedada e transformada em parede. Ambos, apesar da mudanças no local não tiveram dúvida em reconhecer a Casa Azul.
AGENDA – Amanhã, a CNV fará uma diligência, às 9h, no Cemitério da Saudade, no bairro de Nova Marabá. Em seguida, ás 10h30, a Comissão Nacional da Verdade colherá depoimentos de vítimas em audiência pública que será realizada na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa).
Fonte: Assessoria de Comunicação Comissão Nacional da Verdade
1 comentário em “Comissão da Verdade: ex-soldado e vítimas reconhecem casa em Marabá como local de prisão e tortura”
onde está a verdade?lembro-me bem do dia em que sair de casa para buscar o leite na venda do manoel balseiro e dei de cara com uns carros pretos(pick up jeep)em frente a casa do abdias,homens barbudos e até mal trapilhos ocupavam os veículos,na teoria eram os terroristas,voltei correndo pra casa em pânico, eu tinha apenas dez anos de idade e na minha “meninisse”acreditava que seria o fim,as horas foram passando e logo ficou-se sabendo que na verdade os supostos guerrilheiro eram do exercito disfarçados que vieram cumprir a missão de levar consigo os colaboradores dos inimigos,na verdade eles mesmos se entregaram,imaginado que aqueles homens eram amigos dos “bandidos”da mata como também eram conhecidos os guerrilheiros,os hoje vítimas começaram a perguntar por seus ajudados,aí começou a se concluir as prisões,caiu primeiro o sr.Abdias,pedro borba,barbadinho,leonel,entre outros que agora eu não lembro os nomes.
os que hoje demonizam o exercito,não viveram a verdade da região naquela época,era comum ver corpos de soldados mortos em combate em cima de caminhões que retornavam do meio da mata,nessa história não tem santo,como em toda guerra a primeira vítima é a verdade,acho pouco provável que essa comissão traga a tona a verdade verdadeira,o que ela trará é uma versão dos fatos que atende aos interesses escusos do bando que hoje ocupa o poder.