Escalado para ser o correspondente do Blog na Audiência Pública realizada ontem (19) em Parauapebas para discutir a construção do ramal ferroviário do sudeste do Pará, da mineradora Vale, que cortará Parauapebas vindo de Canaã dos Carajás, o jornalista Diego Pajeú (foto) descreveu assim o que presenciou ontem na quadra da Escola Chico Mendes:
“Temo não poder aplicar aqui a neutralidade, objetividade e imparcialidade pretensas à escrita da notícia, para falar da audiência pública que tratou do Ramal Ferroviário Sudeste do Pará na noite desta quinta-feira, 19. Tanto porque o espírito das manifestações ocorridas no evento não caberia na receita pasteurizada a que o nosso jornalismo se habituou quanto porque foi inevitável o envolvimento emocional diante da temática que se impunha.
Os que deixaram a quadra da Escola Chico Mendes após o intervalo que precedeu a participação da comunidade não puderam notar que aquele seria um evento diferente. A primeira parte da audiência, que começou formalmente por volta das 19h e foi presidida pelo coordenador de Obras Civis da diretoria de Licenciamento Ambiental do IBAMA, Jorge Luiz Reis, não teve nada de novo. Após a abertura oficial realizada pelo superintendente do IBAMA no Pará, Sérgio Suzuki, seguiram-se as apresentações do projeto do ramal e dos estudos ambientais realizados pela empresa de consultoria em meio ambiente e planejamento econômico contratada pela Vale. A gerente técnica da Arcadis Tetraplan, Maria Cláudia Braga, falou pela consultoria e quem representou a mineradora foi o engenheiro Renzo Albieri, líder de implantação do projeto.
A equipe estava bem preparada, com o discurso alinhado, tudo na ponta da língua. Mesmo assim, a ponta de um grande iceberg foi o que eles conseguiram apresentar à comunidade. E o choque com o projeto que, caso aprovado, trará impactos permanentes à dinâmica do município não poderia ter sido menor que a enorme massa de demandas sociais e ambientais, ainda sob a superfície da discussão. Os 27 programas ambientais propostos em contrapartida aos 47 tipos de impacto gerados pelo ramal ferroviário, a apresentação das ações da Vale no território e os três mil possíveis-futuros-novos empregos gerados não foram suficientes para conter a insatisfação de quem se manifestou.
Logicamente, nem todas as quase 1400 pessoas que foram à audiência pública fizeram perguntas por escrito ou falaram ao microfone. Fosse assim, a discussão teria se estendido para muito além da 1h da manhã, horário em que Jorge Luiz deu por encerrado o evento. Lá pela meia-noite ainda resistia um público de modestos 70 ou 80 participantes, de onde continuou surgindo o descontentamento até a última fala. O chefe da Floresta Nacional de Carajás e analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Frederico Drummond, definiu em tempo o que se viu naquela noite: “houve muita participação da sociedade e uma diversidade muito grande nessa participação, o projeto recebeu uma grande insatisfação e da maneira como se apresenta atualmente ele é indigesto, quiçá, inviável”.
Representantes de associações, movimentos sociais, professores, jornalistas, vereadores, estudantes, empresários, pessoas mais simples da comunidade, todos contribuíram com essa conclusão. E apesar de a atuação da Vale ter sido o alvo principal do descontentamento, também sobraram farpas para os poderes legislativo e executivo, Ministério Público e IBAMA.
Houve quem exigisse ações de mitigação dos impactos maiores do que as apresentadas pela empresa (nesse ponto falou-se muito sobre a criação do pólo universitário tecnológico, visto pelos participantes como fundamental, mas insuficiente). Também falaram os mais incisivos quanto a não aceitação do projeto, como o vereador Faisal Salmen, que fez um desafio ao chefe do executivo municipal: “Se o prefeito tiver a mínima coragem, ele não deixa passar a ferrovia”. O professor Leônidas Mendes também “rogou” à prefeitura que não concedesse a licença e, entre outros documentos, entregou ao IBAMA um parecer da Secretaria Municipal de Meio Ambiente desfavorável ao projeto como se apresenta atualmente.
Mas o que se percebeu foi a necessidade de um debate mais amplo, qualificado e profundo sobre o projeto do ramal ferroviário, antes que se passe a uma etapa seguinte de licenciamento. Diversos participantes pediram novas audiências sobre o assunto com a Câmara Municipal, Ministério Público e outros órgãos relacionados à temática. Também foi sugerida uma nova audiência pública presidida pelo IBAMA e antecedida por reuniões amplas de estudo e debate com a comunidade.
A Vale se mostrou aberta ao diálogo e acredito que a sociedade de Parauapebas deve aproveitar esse momento que me parece um divisor de águas. Não é o caso de ser contra ou a favor de uma empresa ou projeto. A questão é muito maior. Trata-se de estar ao lado do desenvolvimento social, cultural, ambiental, econômico e até político do município. Um desenvolvimento que deve ser pautado em bases democráticas, de justiça e de respeito pela nossa geração e pelas gerações futuras.
A discussão sobre a implantação ou não do Ramal Ferroviário Sudeste do Pará não deverá resolver todas as demandas históricas existentes entre a capital do minério e a maior mineradora do mundo. Mas pode, sem dúvida alguma, significar um novo ponto de partida, um novo começo, para que nessa relação peculiar entre Vale e Parauapebas o ingrediente essencial seja a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas”.
Arquivos – A partir de amanhã o Blog disponibilizará farto material sobre o projeto do ramal ferroviário, tais como o Estudo de Impactos Ambientais, Relatório de Impactos sobre o Meio Ambiente e os demais anexos do Projeto, para conhecimento e análise dos leitores.
* – Diego Pajeú é jornalista graduado e possui formação superior em Gestão Empresarial. É graduando em História, pós-graduando em Gestão da Comunicação e Marketing Institucionais e MBA em Planejamento e Gestão Estratégica.
14 comentários em “Comunidade e Vale discutem o ramal ferroviário do sudeste do Pará”
Jorge e Zé Dudu,
Agradeço pelos elogios e aproveito para reafirmar a minha opinião pessoal: penso que a questão da implantação ou não do Ramal Ferroviário Sudeste do Pará ainda não foi debatida suficientemente a ponto de termos a certeza de qual a melhor alternativa para o desenvolvimento harmônico do nosso município.
Não sei se o IBAMA irá acatar o pedido de novas audiências públicas, apesar de sabê-las necessárias. No entanto, em conversa com Frederico Drummond, chefe da FLONA e analista ambiental do ICMBio, soube que é possível que a própria sociedade provoque novas audiências sobre o tema. Como? Basta que uma solicitação formal e justificada seja enviada ao IBAMA, com cópias para o ICMBio e Ministério Público Federal sediado em Marabá. Segundo consta no site do IBAMA, “as audiências públicas poderão ser realizadas por determinação do IBAMA, sempre que julgar necessário, ou por solicitação de entidade civil, do Ministério Público ou de 50 ou mais cidadãos”.
Mas a realização de novas audiências, por si, não é o suficiente. Sem o preparo devido, elas podem se tornar apenas réplicas vazias daquela que iniciou essa discussão. Talvez a criação de grupos de estudo e trabalho, além de assembleias setorias possa ser um bom começo para qualificar a discussão. Além do mais, esse um assunto muito sério e não merece ser tratado às pressas.
Isso tudo, claro, se houver uma disposição sincera ao diálogo.
Bem estive la na audiencia publica do ramal ferroviario e tirei algumas conclusões:
1ª a Vale não se mostra nem um pouco interesada em colaborar com a construção do polo universitario. fato !
2ª O cara que estava presidindo que era do IBAMA não se mostrou nem um pouco imparcial acho ate que defendeu a VALE mais do que devia. fato
3ª A população se mostrou indignada tiro isso pelos discursos que eu ouvi de lideranças.
4ª Bem acho que vale ouviu todo o nosso descontetamento acerca de sua atuação autoritaria eu fui um dos que discursei e deixei bem claro que nos estudantes não ficaremos apaticos e exigiremos do governo: Estadual Federal, e Estadual e ate mesmo da vale a implantação do campus UEPA e UFPA por isso estamos organizando a semana pro campus universitario justamente para exclarecer aos estudantes a nossa causa de luta. e continuaremos essa luta pois o nosso slogan é Campus UEPA E UFPA é Causa essa causa é dos estudantes.
por: Elton Batista Representante da UBES no municipio de Parauapebas.
Ze Dudu.
Veja, a Vale antes de qualquer outro processo nos disse : Vou fazer o ramal ! . Sou um dos que acha que, sem as devidas informações que devem estar as claras a scoedade, nossa primeira palavra de ordem é NÃO. Mas, como fazemos agora em seu blog, emitindo opiniões de modo sádio e democrático, que sabe não me convensa do SIM.
Por isso respeito sua opinião, pelos motivos ditos pro voce. Eu permaneço com a minha até que esteja convencido que os bonos são maiores que os onus que esta parte do projeto de expansão mineral expresa.
coloquei o comentario aqui pois não consigo no fale conosco…
Caro Zé dudu aqui em nossa querida cidade já estão ocorrendo as maracutais eleitoraisfoi criada uma enquete em um certo blog que coloca o atual e pessimo gestor na frente na corrida eleitoral sendo que temos que votar duas vezes em um mesmo candidato para que seja computado o vota e as vezes nem computa… é meu amigo ze dudu Canaã dos Carajás está as moscas…
coloquei isso no referido blog mas tenho certeza que não será publicado…
Blog do Bekão
Que putaria de enquente é essa, foi feita pra favorecer esse prefeito bandido, corrupto, ladrão, bandido…
vocês tem que criar vergonha na cara e para de roubar o dinheiro do povo… ninguem aguenta mas um vagabundo de um prefeito desse que não faz nada pela população, vagabundo só sabe roubar, as ruas estão todas com buracos enormes, o unico semafaro não funciona… onde que o povo vai querer reeleger um cara de má indoli, se esse que se diz prefeito tivesse vergonha na cara pegava a troxa dele e vazava daqui… não queremos o regresso… queremos alguem que cuide da cidade, educação, saude, servidores…. que quando alguem de sua propria familia tiver que fazer qualquer tipo de tratamento faça na cidade no hospital publico que está largado…
e não sai pra fazer fora da cidade…
CORRUPTOS, VAGABUNDOS, LADRÕES…
QUERO VER É PUCLICAR ISSO AQUI…
Caro Marcio, não sei qual sistema alguns blogs usam para fazer enquete. No meu particularmente uso um sistema que faz a leitura por IP, isso não permite que a mesma pessoa vote quantas vezes quiser. O prefeito de Canaã verá em outubro de 2012 qual a verdadeira enquete, aquela que não deixa nenhuma sombra de dúvidas.
Grato pela visita.
Pajéu.
Poucas vezes li uma cobertura textual tão fiel como feita por vc a cerca da audiencia sobre o Ramal Ferroviário. Acredito cada vez mais que jovens como vc podem e devem fazer de nossa imprensa algo mais que menina de recados das classes dominantes. parabens a vc pela coragem jornalistica. Parabens ao povo de Parauepbas que começa a despertar de um longo e tenebroso periodo de imbernação.
-RAMAL FERROVIÁRIO NÃO!
Jorge, acredito que você esteja de parabéns ao elogiar o amigo Diego pela brilhante cobertura na AU sobre o ramal. Permita-me discordar de você no tocante a autorizar o ramal. Acredito que devemos autorizar sim, todavia devemos receber uma boa contrapartida por isso e não apenas promessas. Não podemos deixar de pensar que o vizinho município de Canaã também merece usufruir dos lucros da mineração e por isso acredito que devamos autorizar sim.
Entre todos os acontecimentos da audiência, o mais importante é que ocorram novas reuniões para que a população tenha a informação do assunto e possa realmente cobrar uma maior contrapartida da mineradora para com o nosso município. Esta será uma das poucas oportunidades para garantir algum investimento para Parauapebas.
VALE tenta intimidar os presentes na Audiência Pública, com aparato policial desnecessário, em Canaã dos Carajás.
Canaã dos Carajás- AUDIÊNCIA PÚBLICA.
Luz, Câmeras, AÇÃO!
Um aparato policial, UTI Móvel, dentre outros, tudo para dar suporte a uma ‘medíocre’ Audiência Publica objetivando ‘discutir’ o Ramal Ferroviário Sudeste do Pará que aconteceu na ultima quarta-feira, (18), na Escola Futuro Educacional Êxito, em Canaã dos Carajás.
O real sentido da audiência ficou em segundo plano, pois o que se tornou evidente foi à condição de superioridade imposta pela mineradora, VALE diante da fragilizada população de Canaã dos Carajás, com o aval do representante do IBAMA que ao invés de agir com ‘imparcialidade’, se mostrou um defensor dos interesses da mineradora durante o transcorrer de toda audiência.
Atitudes desprezíveis e até certo ponto irresponsáveis podem ser atribuídas à parte interessada, mineradora VALE que não disse a que veio, não respeitando direitos, daqueles moradores que residem nas áreas afetadas pela construção da ferrovia, querendo adquirir apenas partes das propriedades, forçando uma venda futura a preços irrisórios, diante das praticadas pelo mercado imobiliário.
Enfim o publico que se fez presente a Escola Futuro Educacional Êxito, certamente não saiu satisfeito com a forma que representantes da mineradora, VALE e IBAMA conduziram a reunião, tentando intimidar os presentes, não expondo abertamente os benefícios da ferrovia, sendo que apenas teria utilidade para o transporte de minérios, sequer existem condicionantes que possam vir a beneficiar nosso município.
Ouvimos, ouvimos, não fomos ouvidos, sequer tivemos os direitos respeitados, agora seremos obrigamos a ‘engolir’ as decisões da VALE, apenas…
Acesse o http://www.blogdobekao.blogspot.com
Cassandra,
Você tem razão. Também acredito que nunca é tarde para que as próprias pessoas discutam, se manifestem e exijam o que proporciona esse bem-estar para elas, sem ficar continuamente na dependência de decisões alheias. Um passo muito importante para isso é procurar obter o máximo de conhecimento sobre a realidade que as envolve e que as afeta.
Há braços,
Diego Pajeú
“ser ou não ser, eis a questão”. Esta frase do famoso escritor inglês Willian Shakespeare, que vem da peça a tragédia de Hamlet, talvez represente bem esta situação. Um município que tem nas mãos uma oportunidade destas fica aqui discutindo se é contra ou a favor. Vamos focar naquilo que vamos ganhar com isto, e neste caso é garantir para a Vale o direito de fazer a ferrovia e também de investir nos projetos necessários para o desenvolvimento dos nossos jovens. Deveriamos estar discutindo é quanto e onde serão aplicados os recursos, e em tempo, de preferência que esse dinheiro não caia nas mãos dos políticos, porque ai todos conhecem o final da peça.
Eu estive lá e pude perceber tanto o descontentamento, quanto a falta de informação que ainda cercam o projeto. As pessoas ainda desconhecem o básico a respeito do assunto. Apoiei na hora a proposta lançada por vários companheiros, inclusive o Diego, de que se realizem novas audiências públicas, no intuito de esclarecer melhor a população, mas, para fins de praticidade, que elas sejam melhor dirigidas e com temas mais específicos, talvez até com setoriais, para desmembrar o assunto, pois é reamente algo muito complexo e Vale chegar em uma reunião dessas, com camalhaços de documentos (milhares de páginas) e achar que está bom, é brincadeira! Extremamente rico e oportuno o discurso do Secretário de Cultura, Cláudio Feitosa, na minha opinião, o melhor que houve, no dia. Precisamos, sim, de um novo modelo econômico para esta cidade e URGENTE! Não é para amanhã, é para hoje. Até porque esses processos, para renderem frutos, levam décadas, às vezes.
Eu, particularmente, acredito que esta talvez seja a última grande cartada de Parauapebas. Se o acordo não for bem amarrado, essa cidade terá um futuro (não muito distante) sombrio.
A dependência do extrativismo mineral é grande demais. E depender de uma atividade finita, é perigoso e pouco inteligente.
Acho também que os valores levantados na assembléia, com vistas à construção da Cidade Universitária, são insuficientes. 12 milhões pela Vale, 85 milhões por uma parcela do governo…
Gente, o nosso produto está em alta. A China precisa mais e mais dele. O Japão, devido ao seu recente desastre, vai precisar e muito dele (não dele, mas dos derivados dele).. isso tudo, vai fazer o preço disparar no curto e médio prazos. Além disso, discute-se fortemente hoje em dia, a elevação da taxação da atividade, pois sabe-se que o nosso CFEM é um dos mais baixos do mundo (isso, num país que tem os impostos mais altos do mundo, é sacanagem, mesmo). Ou seja, a arrecadação tende a aumentar, por um certo tempo.
Segundo dados da própria Vale, o faturamento neste primeiro trimestre foi de 11 bilhões. Isso dá, por mês, 3,67 bilhões.. dá, por dia, 123 milhões. POR DIA!!! E vocês ficam chorando por 85 milhões pro resto da vida??
Devíamos lançar uma campanha, tipo: “Uma semana sua por uma vida nossa!” – em valores de hoje, isso daria mais ou menos 850 milhões! pensem bem. Esse trem, que em 20 e poucos anos, só vamos ver cheio de riquezas alheias, vai passar PARA SEMPRE, sujando, ensurdecendo e deformando a nossa cidade; 24 horas por dia, 7 dias por semana!
O que diabos representa uma semana em 50 anos???
Sem dúvida o bem estar das pessoas que aqui vivem deveria estar em primeiro plano desde o início. Mas nunca é tarde…
Obrigada Diego por nos deixar a par do acontecimento.