Personagens fundamentais no processo de diagnóstico e tratamento de pacientes acometidos pela Covid-19, técnicos, tecnólogos e auxiliares em Radiologia do país inteiro lidam com os desafios de enfrentar a maior pandemia dessa geração. Rotinas extenuantes, preconceito e falta de reconhecimento são alguns dos problemas apontados pelos trabalhadores da área. A categoria alcançou a lamentável marca de 20 vítimas fatais pela doença, segundo o Conselho Nacional de Técnicos em Radiologia (CONTER), que monitora os casos.
No final de março, o técnico em Radiologia Alexandre Henrique Diniz, 50 anos, da cidade de Serra, no Espírito Santo, viu sua rotina ser transformada pela crescente onda de casos de Covid-19. Naquele momento, cumpria plantões seguidos e, voluntariamente, já havia se isolado da família – ele não sabia, mas a atitude livrou os parentes do vírus, pois ele também foi contaminado. “Na primeira semana de abril, comecei a sentir os sintomas. Ao ir à UPA, o médico suspeitou de dengue e fui tratado como um caso de término de dengue,” relata. Como realizara plantões seguidos, pôde ficar alguns dias sem ir ao trabalho e manteve-se isolado.
Os piores momentos, contudo, aconteceriam dias depois: “Em 14 de abril, às 5h da manhã, ao me levantar, não senti ar para respirar”. A frieza característica de um profissional da saúde o ajudou a controlar a situação. “Fui para a varanda do apartamento e me mantive concentrado; mentalmente, pedi a Deus para me dar mais vida. Comecei a sentir o retorno do ar aos meus pulmões. Tive medo da morte. Pensei que ia morrer!”. Após o episódio, retornou à UPA e realizou o teste para a Covid-19 que, três dias depois, confirmaria a contaminação.
Essa foi uma realidade vivida por mais de 400 trabalhadores da área. A categoria profissional é responsável pela condução dos exames de imagem e, portanto, é fundamental no diagnóstico e acompanhamento da evolução da Covid-19 no organismo. Como os casos mais graves da doença evoluem para problemas do trato respiratório, com potencial alcance dos pulmões, radiografias e tomografias estão presentes em todo o processo de tratamento dos pacientes contaminados pelo novo coronavírus.
Percepção dos gestores
O Conselho Regional de Técnicos em Radiologia do Distrito Federal e região (CRTR1) não registrou mortes e conta com 14 casos contaminação de profissionais. Valcir dos Santos Bezerra, presidente do CRTR1, informa que o fornecimento de Equipamentos de Proteção de Individual (EPIs) está regular, mas afirma que não se pode relaxar nas medidas de proteção. “Por comporem um dos grupos mais expostos ao vírus e estarem na linha de frente do combate à doença, os números de profissionais das técnicas radiológicas contaminados pela Covid-19 estão numa crescente,” pondera.
O estado que concentra a maior quantidade de óbitos entre trabalhadores da Radiologia é o Pará – foram seis, no total. A situação reflete também a dificuldade do enfrentamento da crise em todos os âmbitos. Os números gerais são alarmantes: foram 57.570 casos e 3.835 óbitos. O presidente do Conselho Regional do Amapá e do Pará (CRTR14), José Marcos dos Santos Neto, atribui o problema a diversos fatores, entre os quais, o desrespeito às medidas de isolamento.
José Marcos ressalta, ainda, a importância de manter os trabalhadores da saúde devidamente protegidos: “Com um maior investimento na proteção para os profissionais, teríamos um número reduzido de infectados,” afirma. No Pará, houve protestos em razão da falta de equipamentos de proteção.
Os gestores destacaram algumas medidas para controle e diminuição de contágio, como a priorização dos profissionais da saúde em testes. “Precisamos da aprovação do Projeto de Lei 1409/2020, que tramita no Congresso e que prioriza os profissionais da saúde na realização de testes da COVID-19,” pondera José Marcos. “Enviamos ofícios à Secretaria de Saúde do DF, solicitando a liberação dos profissionais do grupo de risco e cobrando a vacinação contra a Influenza a todos os profissionais das técnicas radiológicas,” relata Valcir.
Luciano Guedes, diretor-presidente do CONTER, destaca o papel do órgão durante a crise: “Os canais de comunicação do Conselho tornaram-se fontes de informação sobre prevenção. Criamos uma cartilha de orientações, além de um canal de denúncias e passamos a monitorar os casos de contaminações, que têm servido como referência para o Ministério da Saúde e para as secretarias estaduais”.
“Nosso papel também tem sido exercido no sentido de conscientizar a sociedade que nós somos fundamentais, especialmente, neste momento e precisamos ter garantida a proteção pelo estado,” finaliza.
Fonte: CONTER/Ascom