Copom inicia ciclo de cortes da taxa Selic e reduz 0,50 p.p., a 13,25%

Por 5 votos a favor e 4 contra, o presidente do Banco Central exerceu o voto de minerva e desempatou escore para redução maior
Membros do Copom, em primeira reunião de Galípolo e Aquino (Foto: BCB)

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Brasília – Os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) concluíram, no início da noite desta quarta-feira (2), a votação da quinta reunião anual do colegiado, reduzindo em 0,50 pontos percentuais a taxa de juros Selic dos atuais 13,75% para 13,25%, após um ano sem alteração.

A decisão dividiu o comitê. Diante de um empate, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, exerceu sua prerrogativa do voto de minerva e desempatou a votação, somando cinco votos a favor da redução de 0,50 p.p., contra 4 votos para o corte de 0,25 p.p.

Após meses de pressão do governo para cortar juros, o Copom decidiu iniciar o ciclo de corte. A Selic ficou estacionada em 13,75% ao ano por 12 meses depois do ciclo de alta mais agressivo desde a criação do regime de metas para a inflação, em 1999. De março de 2021 a agosto do ano passado, a autoridade monetária elevou os juros em 11,75 pontos percentuais.

A decisão veio acima da mediana das expectativas do mercado, embora tenham crescido as apostas por um corte mais agressivo nas últimas semanas.

Essa é a primeira reunião do Copom com a participação dos diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT): Gabriel Galípolo (política monetária) e Ailton Aquino (fiscalização).

Os dados mais recentes de inflação mostraram um cenário mais favorável para a política monetária. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu 0,08% em junho, segundo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O resultado acumulado em 12 meses ficou em 3,16%, perto do centro da meta de 3,25%, com tolerância de 1,5 ponto para mais e para menos. Para os anos seguintes, o objetivo foi fixado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 3% com o mesmo intervalo. A expectativa, contudo, é que a inflação volte a subir até o fim do ano. Outro componente que pode alterar o IPCA, por exemplo, é o preço dos combustíveis; caso a gasolina suba, as contas devem ser refeitas.

Além da queda no índice cheio, a média de cinco núcleos de inflação, que retiram do cálculo itens mais voláteis, passou de 6,72% em maio para 5,99% em junho. Esses indicadores são acompanhados de perto pelo colegiado e ainda estão acima da meta.

As projeções de inflação levantadas pelo boletim Focus também recuaram nas últimas semanas. Para este ano, os analistas esperam alta de 4,84%, contra 4,98% há quatro semanas, e 3,89% para 2024, ante 3,92%. Para 2025 e 2026, a projeção é de 3,50%.

Na reunião de junho, o BC não sinalizou claramente no comunicado que cortaria juros em agosto, mas suavizou o discurso e explicitou na ata do encontro, que é divulgada uma semana depois, que havia uma divergência entre membros do colegiado sobre a indicação dos passos futuros.

Um grupo minoritário estava mais cauteloso e preferia esperar, enquanto a maioria achava que “a continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas”, poderia “permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão” na reunião de agosto.

O Copom publicará a íntegra da ata na próxima quarta-feira (9). O colegiado volta a se reunir novamente em 19 e 20 de setembro, quando deve ocorrer mais um corte da taxa.

Por Val-André Mutran – de Brasília