Brasília – Com o anúncio no domingo (6), do afastamento de Rogério Caboclo, da presidência da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), acusado de assédio moral e sexual por uma funcionária, pela terceira vez o coronel da reserva da Polícia Militar do Pará, Antônio Carlos Nunes, 82, vice-presidente mais velho entre os oito da confederação, assumiu por 30 dias o cargo máximo do futebol brasileiro, enquanto Caboclo permanecer longe da presidência. Mas o prazo pode ser estendido.
Nunes de temperamento discreto e avesso a entrevistas é visto pelos colegas como um “pacificador” em momentos de crise pela qual a entidade passou nos últimos anos. O dirigente do Pará já havia dirigido a CBF de fevereiro de 2017 a abril de 2019, após Marco Polo Del Nero ser banido do futebol. Saiu quando Caboclo tomou posse.
Antes disso, já havia ficado 150 dias na função, em 2016, quando Del Nero se licenciou após ser indiciado pela Justiça dos Estados Unidos no caso que ficou conhecido como Fifagate.
Da mesma forma que em suas passagens anteriores pela presidência, coronel Nunes não terá autonomia plena para a tomada de decisões que caberá nesse período ao colegiado dos oito membros da diretoria.
Nos 26 meses de seu mandato tampão (assim como em 2016), ele estava lá para representar os interesses do grupo comandado por Del Nero. Desta vez, será a face mais visível de uma administração que estará a cargo de vices mais influentes, como o gaúcho Francisco Novelletto, o presidente da Federação Mineira, Castellar Modesto Guimarães Neto, e o membro do comitê executivo da Fifa, Fernando Sarney.
Nunes fez sua carreira na CBF como um nome conveniente em momentos difíceis. Foi eleito às pressas para a vice-presidência há cinco anos para evitar que a presidência fosse ocupada pelo catarinense Delfim Peixoto, 75, opositor de Del Nero. O coronel era a escolha ideal por ser mais velho e ter preferência na sucessão. Como se repete agora.
Foi assim também que ganhou o pleito para presidente da Federação Paraense, em 1997. A votação contra Euclides Freitas Filho terminou empatada e a idade era critério para definir o ganhador. Deu Nunes. Ele comandou o futebol paraense por quase 20 anos.
Nas poucas vezes em que teve decisões de autonomia como presidente da CBF, causou polêmica. Em abril de 2016, usou jato pago pela confederação para ir a Fernando de Noronha. A explicação dada por ele à entidade foi ter viajado para se reunir com dirigentes do futebol local. Não há clubes profissionais no arquipélago que pertence a Pernambuco.
Ele também foi barrado em festa de lançamento da Copa do Nordeste, em Maceió, em outubro de 2018, porque se recusou a colocar uma pulseira de identificação.
“Eu sou o presidente da CBF. O presidente da CBF não precisa de pulseira”, argumentou.
Mas nada foi pior do que junho de 2018, quando ele quebrou um acordo feito entre todas as confederações sul-americanas para votar na candidatura conjunta de Estados Unidos, Canadá e México para sediar o Mundial de 2026. Por iniciativa própria, Nunes escolheu o Marrocos e desatou uma séria crise na cartolagem. Claudio Tapia, mandatário da AFA (Associação de Futebol Argentino), disse que os brasileiros eram “traidores”.
O coronel tentou jogar a culpa nos delegados brasileiros, mas quando ficou comprovado que não era verdade, mudou o discurso. Disse ter escolhido o país africano porque este jamais havia recebido uma Copa do Mundo.
Nunes serviu na Aeronáutica de 1957 a 1966 e saiu da corporação como cabo. Entrou na Polícia Militar do Pará em 1967 e permaneceu até 1991. Ficou conhecido no estado como comandante do Batalhão de Choque. Em 1977 foi nomeado pelo governo militar prefeito de Monte Alegre, sua cidade natal.
Avesso a declarações públicas e ao contato com jornalistas, ele disse ao diário Lance! em 2015 acreditar que não existe corrupção no futebol brasileiro e que as suspeitas seriam ilações de seus opositores.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.