Brasília – O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) começa a semana enfrentando a maior crise política desde o início de sua administração. Pressionado pelo Congresso, setores empresariais e pela devastadora pandemia do novo coronavírus, a segunda-feira (29), marca a queda de dois importantes ministros no mesmo dia: o chanceler Ernesto Araújo, das Relações Exteriores e o general Fernando Azevedo e Silva, ministro da Defesa. Ambos integravam a linha de frente desde o primeiro dia do governo, em janeiro de 2019.
O chanceler Ernesto Araújo não resistiu à pressão iniciada há meses. A fritura ganhou ainda mais força nas últimas semanas por causa do avanço do número de mortes na segunda onda da pandemia de Covid-19. Depois do general Eduardo Pazuello ter sido demitido no Ministério da Saúde, o chanceler teve sua “cabeça” colocada a prêmio pelo Centrão.
O ministro Ernesto cancelou compromissos nesta segunda-feira com autoridades estrangeiras para discutir seu futuro com secretários da sua equipe. Ele foi chamado de última hora por Bolsonaro no Palácio do Planalto. Na reunião, segundo aliados, o ministro disse ao presidente estar disposto a deixar o cargo para não ser mais um problema para o governo na relação com o Congresso. Auxiliares diretos do ministro consideram que a situação é “irreversível”.
Os dois irão se reunir novamente à tarde para decidir sobre a demissão. Araújo enfrenta forte pressão do Centrão, que forma a base de sustentação de Bolsonaro no Congresso e a temperatura elevou após uma troca de farpas no domingo (28), após mensagem publicada pelo chanceler em suas contas nas redes sociais acusando a senadora Kátia Abreu (PP-TO) de lobby no leilão 5G. Ela preside no Senado a Comissão de Relações Exteriores da Casa (veja aqui).
Mais uma baixa
O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, comunicou nesta segunda-feira, sua demissão da pasta. A informação foi confirmada pela assessoria do ministério, em nota. O próprio presidente Jair Bolsonaro havia pedido a saída do ministro do cargo.
No comunicado, Azevedo agradeceu ao presidente Jair Bolsonaro e reforçou sua lealdade ao chefe do Executivo. “Agradeço ao Presidente da República, a quem dediquei total lealdade ao longo desses mais de dois anos, a oportunidade de ter servido ao País, como Ministro de Estado da Defesa. Nesse período, preservei as Forças Armadas como instituições de Estado”, informou. “Saio na certeza da missão cumprida”, completa. Na agenda do presidente consta que os dois se reuniram no início da tarde desta segunda.
A versão que corre nos corredores do Planalto sobre o motivo da saída do ministro da Defesa teria sido uma entrevista do general Paulo Sérgio, responsável pela área de saúde do Exército, ao jornal Correio Braziliense. À publicação, o militar apontou a possibilidade de uma 3.ª onda da covid-19 no País nos próximos meses e defendeu lockdown, contrariando o que prega o presidente, crítico a medidas de isolamento social.
Bolsonaro defendeu uma punição ao oficial, mas Azevedo não concordou. O presidente, então, pediu sua demissão.
Nas redes sociais, várias lideranças da oposição estão “surfando” com a crise e aproveitam para pedir a renúncia do presidente.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.