Crônica do Marcones

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Por Marcones Santos

Como todos os que residiram na Av. Bernardo Sayão, em Imperatriz-MA, sabem eu já fui um grande jogador de futebol.

FutebolNos idos de 1990, eu e uma cambada de “mal-acabados”, fundamos a maior agremiação futebolística já produzida, inventada, editada, composta e exposta em campo de todos os tempos no mundo!

Tratava-se do poderoso e temido C.F.C, o Canela Futebol Clube, uma potência psicológica do ramo de bola redonda em grama verde de campo retangular.

Apesar da pressão midiática, dos telefonemas, dos empresários e marqueteiros batendo na porta, principalmente da Nike, Puma, Adidas e Umbro, optamos pela camisa de marca própria.

Produzimos nosso uniforme industrialmente com as próprias mãos, ambas as duas, conjuntamente ao mesmo tempo. Era um manto branco adquirido na elitizada feira do mercadinho em Imperatriz.

As letras e números foram impressos modernamente com tinta guache e com utilização de formas em papelão ecológico recortadas com facas da famosa Tramontina. Tudo coisa de primeira.

Logo que prontos os uniformes a diretoria de futebol internacional se reuniu na calçada de minha casa para identificação do perfil dos jogadores com condições de atuar no CFC.

Após dias, horas e minutos de reunião e elaboração do estatuto, regimento interno, regulamento e manual, não escritos, abrimos negociações para contratações na vizinhança esquerda, direita e da frente.

Para a primeira temporada da história do Clube, contratamos os seguintes jogadores:

  1. Charles Malária, goleiro;
  2. Eu mesmo, banco;
  3. Marcos Amado Batista meu irmão, zagueiro, meia, lateral ou atacante;
  4. Ronaldo Gordo, no caso de faltar alguém e não termos banco e o gandula não aceitar jogar;
  5. Adãozim, zagueiro, meia, lateral ou ataque;
  6. Cláudio Cabeção, pro ataque, mas na verdade era pra dar carona no Jeep ano 54 dele;
  7. Silson, meia, um craque e ex-quase possível jogador do Flamengo;
  8. Sinval Piolho, meia, mas não jogava;
  9. Panelada, meia, mas era maluco e obeso;
  10. Marcinho Gogó, ataque, mas trabalhava muito e não podia jogar;
  11. Marquinhos, ataque, mas não gostava de futebol;
  12. Marcos Paulista, que já tinha visto futebol pela TV quando morava em São Paulo;
  13. Renato Perneta, para as laterais, esquerda e direita ao mesmo tempo.

Nosso primeiro jogo foi um épico empate com um time do Clube da Telma, quase ganhamos, não fosse o Charles Malária ter levado um gol no início do jogo por esquecer que ao goleiro cabia a prerrogativa de pegar a bola com as mãos.

Depois de horas conseguimos empatar com uma brilhante jogada nossa, que fez o zagueiro deles ter crise de riso e recuar a bola pro canto errado do goleiro, um lindo gol, contra, motivado por nossa estratégia de fazer o zagueiro rir e se distrair.

No segundo jogo conquistamos outro empate com o time do Colégio Urbano Rocha, por 0x0. Nessa inesquecível partida os atacantes e o goleiro do time adversário faltaram e eles jogaram com 3 a menos, dois atacantes e sem goleiro. Sabe como é, time bom tem que ter sorte.

Na terceira partida, conquistamos nossa primeira vitória, um feito memorável por W.O contra o time da Rua Piauí, que perdeu o ônibus coletivo do dia.

A quarta partida e última do torneio de seleções mundiais do bairro foi um empate, não vencemos por um detalhe. A estratégia final foi de fechar a trave e a zaga, colocamos no gol o Ronaldo Gordo e o Panelada. Pra zaga escalamos todos os demais. Transcorridos 35min do segundo tempo, o Marcinho Gogó chegou do trabalho, de sapatos Vulcabrás 777, deu uma bicuda na bola na direção que apontava o nariz, a bola resvalou no tijolo que segurava a trave, bateu no zagueiro, na trave, na orelha do goleiro e entrou. Gol nosso!

Infelizmente por um descuido dos goleiros, ambos estavam comprando geladins e pastel dos vendedores que ficam no pé da trave, e assim não viram a bola chutada pelo adversário entrar e empatar o placar.

Enfim, já na sua primeira temporada o CFC teve desempenho espetacular e terminou invicto no seu grupo. Nascia e morria ali um dos grandes gigantes do futebol.

Depois disso imagino que Milan, Real Madrid, Barcelona e Chelsea, entre outros, tenham tentado conseguir o número do orelhão de nossa rua pra contratar todos nós, mas pela deficiência da Telma, não fomos localizados. Por falta de comunicação não estamos até hoje na ativa jogando na Europa.

Enfim, não obtivemos dinheiro, mas fama e beleza nunca nos faltou.

( * ) – Marcones Santos é advogado formado pela Universidade Federal do Pará, escritor e poeta. Maranhense de nascença e paraense por opção. Escreverá semanalmente aqui no Blog algumas crônicas que mostram o jeito maranhense/paraense de ser.

9 comentários em “Crônica do Marcones

  1. Orimar Responder

    Muito bom! me fez lembrar dos meus tempos de “craque”. na verdade fiquei emocionado ao ler este texto…

  2. Susy Responder

    KKKKKK muito boa a história, lembrei de quando fomos jogar no maranhão a cidade se resumia em uma curva, o campo era todo inclinado e cheio de imperfeições, a comida era oferecida pelos moradores da cidade gentis e hospitaleiro.

  3. Critico Literario Responder

    A velha historia do pato !
    Nada mal , voa mal e anda mal .
    Faz as três coisas porem nada bem feito.
    Texto ??????????????????????????????

    • Molotov Responder

      a vida é assim,uns nascem para somar,outros da dividir,alguns tem estórias para contar…
      os cães ladram,a carruagem passa……..

  4. WALTER Responder

    Boa noite!!!!!

    Não conheço o escritor mais cara estou chorando de tanto rir…ele simplesmente contou minha vida de quase um jogador! eu sou o cara do jipe no meu caso era uma variante,só jogava pq era dono da bola e do transporte kkkkk…..show

  5. mosquito encebado Responder

    tinha outro time em imperatriz,igual ou pior que o canela,éramos o arranca toco da benedito leite,não lembro de todo mundo,vou citar alguns:pelado no gol(carlos vanei,goleiro metido a poeta)pinha,lobal,neguin da piauí,manel,eu,orácio,helber morde gongó(usava o calção entrando nas partes,parecia um fio dental)douglas,véio,rato branco,latuxa,o maior frequentador da fv(ferra véia,casa de diversão adulta e suas “lindas meninas”)o latuxa perdia o jogo mas não deixava de ir lá fazer o “descarrego”aí vem zeca,pedrão e por aí vai…para a sorte do futebol essas duas potencias, não se encontraram,por puro erro cronológico o meu foi da década de 70 bons tempos,seria o maior de todos os clássicos.

    valeu Marcones,seu texto me fez viajar.

  6. Olinto Responder

    E ele escreve parecendo que é assunto da mais profunda seriedade, e dá um ar de verdade em tudo, nos mínimos detalhes. “Elaboração do estatuto, regimento interno, regulamento e manual, não escritos” rsrsrs tudo ficava na memória dos jogadores!ZÉ vc ganhou de goleada sem WO com este novo cronista, conheço alguns textos dele, muito bom. Ja sei que vou me divertir.

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