Crônica do Marcones

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Por Marcones Santos ( * )

Nos idos de 1980 minha família atuou no forte ramo industrial de substância saborizada, congelada e ensacada.

Pra uma família com dez pessoas e, consequentemente, vinte mãos e dez pares de orelhas, seria fácil a produção em grande escala pra abastecer o mercado internacional, tão carente da nossa substância saborizada refrescante. Todavia e entretanto, optamos pelo mercado varejista interno de Imperatriz-MA.

Como de sabimento geral e irrestrito, o Sul do Maranhão só perde pra Teresina-PI em caloramento solar, beirando os 50°C na sombra em dias chuvosos. Até recordo do tempo em que eu dormia dentro da geladeira, mas isso é outra estória.

Logo pra iniciar a distribuição comercial varejante, a forte família Santos da Silva adquiriu duas caixas isotérmicas com tampa e alça pra facilitar a logística nos centros urbanos de Imperatriz, viabilizando o acesso dos representantes comerciais no interior de residências e comércios.

O Grupo familiar produtor se iniciou sob a presidência do patriarca Faustino, com direção de produção de sua filha mais velha, a mãe do escrevente, e direção de distribuição e logística do filho mais novo, o Bida.

Para o diretor de distribuição e logística foi estabelecida uma meta mensal de vendas bastante agressiva, visando o avanço contínuo do produto ensacado e refrescante no mercado regional, Bida recebia participação in natura nas vendas. Um certo dia Bida foi visto por um dos supervisores da família com todos os produtos de sua caixa sobre uma calçada, ele contava e separava os seus, mas isso é também outra estória.

Optou-se de início pela produção com sabores nativos, o coco principalmente. Em seguida foram incluídos os sabores de abacate e banana. Visando os turistas e sulistas residentes na cidade, a empresa Santos da Silva incluiu também os sabores morango e uva.

Nosso produto saborizado, ensacado e congelado ganhou o mercado regional, o diretor de distribuição e logística concluía rapidamente suas vendagens e logo retornava pra sede da empresa com a caixa vazia, a cada dia mais cedo.

Logo fomos orientados pelo contador e consultor financeiro da empresa, o Cláudio, que tinha um grande escritório na principal avenida de João Lisboa MA, a ampliar os negócios, mas isso é outro estória.

GeladinhoAlém das vendas externas através de caixas térmicas, coordenadas pelo diretor Bida, a empresa fazia vendas promocionais na sua sede, quem chegasse na entrada do imponente imóvel já via de plano a placa midiática promocional da comercialização de nossa substância refrescante, saborizada e ensacada, com a seguinte mensagem somente vista em Wall Street: VENDE-SE GELADINHO.

( * ) – Marcones Santos é advogado formado pela Universidade Federal do Pará, escritor e poeta. Maranhense de nascença e paraense por opção. Escreverá semanalmente aqui no Blog algumas crônicas que mostram o jeito maranhense/paraense de ser.

2 comentários em “Crônica do Marcones

  1. CONTERANEO

    Parabéns ao Marcones, ao desenvolver a leitura me vejo caindo em risos em lembrar que as coisas realmente aconteciam dessa forma alguns anos atrás. E melhor ainda a forma linguística aplicada no texto. Parabéns.

  2. mosquito encebado

    Marcones,tu és um cara de sorte,mais uma vez a cronologia nos separou,primeiro no futebol,agora no competitivo mercado de produtos atenuantes do calor sul maranhense,quem morou em imperatriz na década de 70 certamente conheceu o império industrial dos “PICOLÉS BICO DOCE”,eu era para essa “indústria”,o que Bida foi para de vocês,com uma diferença,não tinha laços familiares com a diretoria,lembro-me bem do nosso presidente,”seu zé”sujeito graúdo,devia medir um metro e meio e pesar uns duzentos e cinquenta kg,esse território adiposo estava sempre coberto com imensas bermudas e camisa com motivos florais,diziam as más línguas que suas vestimentas eram feitas de lona de circo,já as de sua esposa que se cuidava e mantinha a forma, devia ter só uns cento e cinquenta kg,a mulecada dizia que eram capa de bujão de gás.mas enfim, as minhas e as suas certamente são lembranças de uma infância feliz,dias bem vividos que nos deram a base para seguir na estrada da vida,hoje seríamos rotulados como como escravos infantis ,hoje tá chique,menino não pode trabalhar,mas,pode roubar,matar,é tudo mais moderno,menino nem toma mais “bença”…(nosso senhor louvado seja a benção Marcones) um abraço e senta pua

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