“Sonho com o dia em que a Justiça correrá como água e a retidão como um caudaloso rio”
(Martin Luther King)
Estou com uma semana tendo sonhos iguais, o desenrolar dos devaneios acontecendo em capítulos, como se fosse uma novela tragicômica. Tem momentos que se ri, tem momentos que se chora. E eu sou um rei barbado de uma grande nação, falando com sotaque caipira uma língua conhecida, chamada português. .
Fui coroado rei, faz mais de seis anos, numa festa muita linda e participação do povo, que me ama muito. Minha coroa de ouro, cravejada de pedras preciosas, centenas delas, ficou muito pesada, proporcionando um esforço enorme para mantê-la na cabeça. Pelos anos de reinado, com o peso da coroa, meu pescoço foi enterrando, ficando só um garrinha. Meu conselheiro mais próximo tem me dito para ir preparando o meu sucessor, herdeiro da coroa, que é uma mulher, porque ele acha que até 2010 meu pescoço vai sumir, entrando de corpo adentro, ficando só o tronco sem cabeça. E como é que se pode governar sem olhos e boca pra falar?
No sonho, tomei algumas providências para deixar o reino limpo de gente falsa, desonesta, corrupta, “os mãos ligeiras” do erário público, e mandei prender 294 deles, entre governadores de províncias, senadores, deputados federais, estaduais, vereadores, prefeitos, ministros, inclusive meu ministro da Casa civil, que se descobriu ser o chefe de todos os bandidos.. Não aceitei que se formassem comissões parlamentares de Inquérito, porque, sabia por experiências anteriores, que tudo terminaria em pizza, o que iria desagradar os meus súditos.
Como sou rei, de minha vontade própria juntei um juiz togado, um capelão do reino, uma madre superiora de um convento de freira, um pastor evangélico, um sem-terra, um liso, um caixeiro-viajante, um jogador de pif-paf e o craque goleador do mais querido time do reino, e formei um tribunal para julgar os acusados, é evidente, sobre a presidência do juiz. Os processos correram normalmente com todos os trâmites legais, depois de onze meses de vistas e pareceres. Até que chegou o dia do julgamento.
Os primeiros a sentarem no banco dos réus foram os ministros. Nenhum escapou de ser condenado. A pena mais branda instituída foi de confinamento, seis anos numa terra árida do Piauí, onde quase não chove, bebendo água salobra de cacimbas e se alimentando de calangos, camaleões, e uma vez por semana de carne seca do pescoço do bode; deputados federais, senadores que tomaram parte do seboso “mensalão”, foram condenados a doze anos de prisão, a cumprir na Penitenciária dos Políticos Safados, localizada perto de um pântano infestado de pernilongos, mutucas hematófagas, e grilos cricrilando a noite toda; já os prefeitos e vereadores foram condenados a dormirem nus em um presídio especial da cidade de São Joaquim, Santa Catarina, Brasil, 1.360 mts de altitude, temperatura que chega a abaixo de zero, tendo apenas para esquentar o ambiente uma vela de cera acesa bem grossa de um metro de tamanho, podendo o condenado, se quiser cometer suicídio, e usar a referida vela como instrumento da imolação.
Meu povo ficou feliz em se vê livre de tamanhas pestes que só prejuízo davam à nação, roubando até o leite das crianças mais carentes.
A última vez que sonhei ia voando no espaço infinito, tendo ao meu lado o Anjo Gabriel, que não cansava de olhar para mim e perguntar:
-Onde foi parar sua cabeça?