Um decreto editado pelo presidente Jair Bolsonaro torna as atividades religiosas parte da lista de atividades e serviços considerados essenciais em meio ao combate ao coronavírus e às críticas de que ele mesmo, o presidente, tem sido alvo de diversos setores da sociedade pela forma como tem lidado com a pandemia, inclusive contradizendo ações e recomendações do Ministério da Saúde.
Por serem consideradas essenciais, as atividades religiosas — isto é, as igrejas — podem abrir as portas e ficam autorizadas a funcionar mesmo com a restrição ou quarentena em razão do vírus. O governo esclarece, contudo, que o funcionamento deverá obedecer as determinações do Ministério da Saúde. A medida teria sido tomada a pedido de religiosos de diferentes igrejas. O Blog do Zé Dudu fez as contas com base nos dois últimos censos demográficos, de 2000 e 2010, e constatou que a medida pode alcançar 4,91 milhões de católicos e 2,86 milhões de evangélicos autodeclarados hoje no estado. Em meio a esses números, os idosos com mais de 60 anos — grupo de risco para o coronavírus — são aproximadamente 5% dos católicos praticantes e 1,75% dos evangélicos, segundo o IBGE.
A Igreja Católica, maior denominação religiosa do país, tem quase 5 milhões de fiéis, mas ainda não há consenso se, durante o período de quarentena, a instituição vai abrir suas portas no estado para missas presenciais. Nos municípios de Primavera (9,21%) e Nova Timboteua (9,01%) estão os maiores percentuais de idosos católicos que não perdem uma missa. Já em Parauapebas (1,23%) está, segundo o IBGE, a menor proporção do estado.
Entre as evangélicas, a Igreja Assembleia de Deus é, de longe, a mais populosa, com 1,27 milhões de membros e será beneficiada pelo decreto. Assim como os evangélicos da Quadrangular (345 mil), Adventista (190 mil), Universal (130 mil), Batista (119 mil) e Deus É Amor (87 mil), igrejas mais povoadas no Pará depois da Assembleia. Curionópolis (3,3%) e Rio Maria (2,89%) detêm as maiores participações de idosos em cultos evangélicos, enquanto em Gurupá a participação chega a apenas meio ponto percentual.
Os espíritas (41 mil) e as testemunhas de Jeová (38 mil) também são numerosos e poderão ter seus encontros liberados, conforme o decreto. Mas o número de idosos que frequentam as reuniões é pífio. Os templos religiosos, não é demais lembrar, têm imunidade tributária.
No Pará, por outro lado, os sem religião, ateus e agnósticos, descobertos pelo decreto presidencial, totalizam 677 mil. Em Eldorado do Carajás e Curionópolis, curiosamente, o número de idosos “descrentes” chega a quase 1%, taxa mais alta do estado. Todos os sem religião paraenses seriam suficientes para erguer três cidades do tamanho de Marabá, a quarta mais populosa do estado.