Eu, filho da mãe-d’água, gerado no ventre das fontes, nascido das matas, crescido nos pés de ingás e de cutites e de beribás; eu que fortaleci o muque de moleque nas correntezas dos igarapés, eu sei o que sofri. Eu, sumano dos açaizeiros, neto dos mapinguaris, sobrinho das estrelas, sei o que sofri. Declaro para todos os fins, que sou órfão dos homens civilizados, que assumiram meus destinos desde “minino”. Eu poderia ter sido muitas coisas… se o destino fosse meu.
Esses homens são bárbaros barbalhos que marcaram na pele queimada da minha geração suas histórias de poder sobre fracos e reprimidos. Aproveitaram-se da ingenuidade de nossas almas pobres e roubaram o brilho que a gente trazia na cara, a base de troca de espelhos e outras quinquilharias que jogavam de seus mutáis (palanques) para nossa tribo que ávida de novidades se deixou embebedar pela aguardente que tirou o sentido do certo e do errado. Foram tantas migalhas ao longos de luas e luas (décadas), que desaprendemos a caçar, pescar e mesmo catar no pé de uma mangueira uma fruta doce e “piturisca” cheia de um doce que enchia nossa barriga de uma coisas que nunca mais sentimos. Tiraram de nossos pés a ligeireza e passamos a ter medo de ir buscar um cacho de açaí lá em cima, pendendo para o leito dos rios. Tiraram-nos a sorte de fisgar um cará teimoso que brincava no anzol onde se contorcia a minhoca tirada da terra dos férteis quintais sem limites que cercavam nossas ocas. Esses homens que fizeram isso, seu Doutor, são jarbas passarinhos, são hélios gueiros, são alacides nunes… eles fizeram a gente desaprender o caminho estreito das roças. A título de compensação fizeram povoados nas cidades onde a gente não tinha uma nambu pra pegar numa arapuca armada no finzinho daquelas tardes que enchiam a gente daquele cheiro natural do mato verde e fresco e daquela comida que nossa mãe cozinhava nos fogões de barro e lenha que tinha numa cozinha abençoada. Lugares cheios de crendices que amávamos inocentemente.
Já tiraram tanta coisa da gente. Agora queremos seguir adiante. Não dá mais pra voltar lá pra beira do igarapé, porque o igarapé não existe mais. Secou. Roubaram até as águas com peixe e tudo, também não tem mais mangueira e nem os pés de goiabeira lá onde a gente se alimentava de ar fresco e saúde que o vento trazia sem cobrar nem um conto de rés. Mandaram a gente embora da roça, do sítio, que tinha sempre uma lagoa cheia de traíra e sarapó. No terreiro tinha capote, pato e galinha. No fim de semana a gente comia carne e não faltava uma história de trancoso quando nossas famílias armavam uma rede cheia de feijão na casca e a meninada se misturava aos adultos para “disbulhar” e ouvir aqueles contos de terror que matava a gente de assombro e perseguiam nossa imaginação pura durante o sono iluminado por uma lamparina a querosene.
Tudo isso foi tirado a força do coração do meu povo. Fizeram das nossas terras, terras deles. Esses homens mandaram nas nossas vidas como se propriedades deles fossem. Agora queremos um pedaço desse chão pra nós, seu Doutor Juiz. Julgue o senhor se por direito merecemos um pedaço. Se assim for, separe um pedaço pra nos daqui do Carajás e deixe um pedaço pro povo lá das bandas do oeste – um povo que se chama Tapajós. Também deixe um eito pra eles, que podem continuar chamando de Pará. Nós aqui da tribo da nossa tribo ficaremos com um pedaço bom para plantar e para colher e sustentar nossos curumins. Só num deixe que nos roubem também essa crença.
Que aos 11 dias do ultimo mês desse ano de 2011 o sol venha feito um lampião de dentro das serras da nossa aldeia, rasgando a escuridão e trazendo em sua luz a esperança que nunca morreu em nossos corações. Que quando a noite chegar a lua seja mais prateada do que jamais foi nesses últimos dezembros. E então poderemos seguir por uma vereda que nunca deixamos de acreditar. Depois disso procuraremos um sabiá que seja livre e nos traga um hino novo; também misturaremos as cores do urucum, com o roxo do jatobá e faremos a nossa bandeira. Tudo será novo. Prometemos preservar na alma o passado para contarmos aos nossos filhos e netos o que foi que sucedeu quando permitiram que retomássemos nas nossas próprias mãos a capacidade de escrever nossa folha nesse livro do mundo. Deus, o criador dos sonhos, seja louvado.
Pássaro falante, da Tribo dos Carajás – Nascido das manhãs de sol e chuva.
20 comentários em “Demerval Moreno: eu que sou um curupira das lendas do Carajás…”
Mantenhamos a esse PARÀ inteiro que nos acolheu a todos tão bem, sejamos gratos a essa terra de nós paraenses de raiz ou coração ! Esse torrão é de todos nós.
Queremos mais despesas? não; mais desvios ? não; melhor distribuição das riquezas em proporcionalidade? sim…. Então somos todos 55. VIVA O PARÀ !!!
Povo de Belém e região metropolitana… Até quando querem ficar sustentados pelas riquesas de nossa região? Até quando querem gozar do nosso trabalho, sem oferecer nada a quem movimenta a “máquina paraense”? Sabe de uma coisa? VÃO TRABALHAR, E SE SUSTENTAR… CARAJÁ É UMA REALIDADE E CONCRETA!
CARAJÁ FIRME E FORTE!!!
Queridos amigos (e quase amigos) que leram e comentaram o texto. Uma coisa apenas: compreendo os que batem, que açoitam, que não tem pena de chicotear seja com palavras ou literalmente. Os que não tem compaixão de nós se juntam aos que nos humilham. Deixamos um convite: venham olhar a realidade e, depois, podem dizer o que quiserem. Mas não nos julguem à revelia ou à longa distância. Isso os governos já fazem. Grande abraço a todos. Até dia 11 de dezembro ainda falaremos de tudo. É o que podemos gritar.
Demerval Moreno
Demaerval!
Parabens pela consciente declaração cheia de verdades.
Chega da subnissão de Barbalhos, Gueiros, Alcides Nnes e poqrque de JATENES que só enxergam o Sul e Sudeste quando estão em busca de votos para completar suas urnas no ato da apuração.
O sul e sudeste do Pará é como se fosse o a era da escravidão somos os escravos e eles os Coroneis, mandam, maltratam e nos obedecemos produnzindo divisas para eles gastarem nas praias que só eles tem capacidade e facilidade e irem pois para estas regiões tem estrada, tem pontes, tem policiamento rodoviario e nos? nem podemos sair pois para chegarmos de Parauapebas ao Rio Tocantins em Marabá temos que fazer varias orações para que possamos chegar sao e salvo pois o nosso caminho ate nosso destino , cheio de buracos, pontes abandonadas, assaltos programados nos pontos frageis por falta de vergonha e responsabilidade de governos de estado omisso que só agora enxergam que a teta da vaca pode secar.
Que o dia 11 chegue e faça justiça.
Os favoráveis ao NÃO estão completamente desinformados. Pois se assim o fossem saberiam que a divisão num contexto geral e benéfica para todos, inclusive aos seus apoiadores. Portanto bairristas sem causa.
Quanto ao SIM:
– 98% de apoio dentro da área interresada.
– 30% de apoio fora da área. (sem campanha)
É aguardar para comemorar. Os apologistas do contra estão convidados para a festa.
REALMENTE ESTA DIFICIL AÍ NO PEBINHA….. POUCOS COM MUITOS E MUITOS SEM NADA…IN SAO LUIS.
Artigo bem reflexivo, gostei das colocações do princípio e das “acusações” de responsáveis por grande desgraça que nos prevalece. Somos sim uma realidade de “pobre” (Miseráveis, abandonados e por cima sem iniciativa (motivação)). mas cabe a nós destinguir nosso futuro.
Jose Armando, sou paraense nascido e criado em Ourilândia do Norte, e também te confesso, até agora eu não vi um comentário sequer sobre planos para os pretensos estados, que ele querem criar dimunuindo o Pará. Os unicos comentários que se ouve, é que eu vou ser prefeito, eu vou ser governador, deputado, juiz, defensor público, conselheiro do tribunal disso daquilo e tudo mais, já tem gente até brigando por cargos. É uma pena que o povo não vê, que esta sendo manipulado por essas elites, e não enxerga que os politicos e seus asseclas serão os unicos beneficiados se essa divisão do Estado vier acontecer (bate na madeira, ai).
Também concordo que os prefeitos, vereadores tem a obrigação de trabalhar pela cidade, afinal eles foram eleitos prometendo isso e aquilo outro, e nada fizeram e não vão fazer.
Nunca vi separar para dar certo.
Esse pessoal que incentiva a divisão do Estado precisa saber que o minério que aflora aqui na região é do Pará.
Carajás é do Pará e ninguém tira.
Fico muito triste em saber que o povo daqui já está totalmente influenciados por esses politicos.
Eu tbm nunca li tanta besteira, antes de ler o seu comentário, sr. Sérgio, que certamente mora em Belém ou em suas cercanias.
………………………………………..
José Armando, a condição diferenciada de Parauapebas não pode servir de parâmetro para os municípios do sul e sudeste paraense. Parauapebas é um privilegiado estivesse localizado em São Paulo ou Rio de Janeiro. Qndo tu fores a Belém, mude de rumo e vire à direita em Eldorado. Vá em Rio Maria ou Pacajás, ou, ainda, se não quiser gastar gasolina e tempo, ande dentro de Eldorado. Aí, meu caro, tu conhecerás a nossa “realidade real” (redundante, assim mesmo!).
………………………………
Parabéns Demerval.
Tu, um paraense que não mora nos arredores de Belém, tens a sensibilidade de desnudar a nossa verdade. Por tua condição, o teu belo texto serve-nos como outrora serviam as tunicas brancas entre os gregos: simboliza a condição moral e a liberdade de pensamento.
Eu, que já há muito me declaro Parioca – metade paraense e metade carioca – não me sinto intimidado com estes discursos preconceituosos e xenófobos, com os quais alguns paraenses, que, normalmente, conhecem de Belém a Salinas, insistem em reduzir o debate. Normalmente é gente que escreve, em seus textos sofríveis, a frase: “vamos acabar com esses forasteiros”.
Sei que temos a companhia de muitos paraenses de nascimento. São os que entendem que a questão de Carajás e Tapajós é uma questão de fortalecimento da Amazônia, do Norte e, por consequência, do Brasil Profundo; aquele país que vive para além de Rio e São Paulo.
São aqueles paraenses que, mesmo morando em Belém, entendem que um rearranjo geopolítico no Norte tem a dupla função de nos fazer mais fortes e de possibilitar que as regiões cronicamente abandonadas experimentem um rápido desenvolvimento.
Além disso, esses paraenses entendem que os novos estados vão liberar as amarras impostas ao Estado do Pará, hoje obrigado – pelo menos deveria ser – a cuidar de vastas regiões que, por inócuos resultados, sentem-se abandonadas, até mesmo desprezadas.
Vamos à luta. Sim para Carajás, Sim para Tapajós
Cláudio Feitosa
Assim qie vai ficar
http://www.zedudu.com.br/?s=trem+da+vale&paged=3
Da uam lida lá
Besteirol puro. Sergio disse tudo. Só discorda quem depende de politico para trabalhar, pois so deve trabalhar em prefeitura das vidas….não sabe o que e outra profissão..só sabe ser cabide de emprego.
José Armando, você diz não conhecer a realidade do Tapajós. então não opine em nada a este respeito. Pois viajar de Parauapebas a Belém voce não tem nada a dizer de Carajás.
José Armando, não é responsabilidade dos municípios dar manutenção às rodovias BR 155 e PA 150, e sim da União e do Estado, respectivamente.
Quanto a minha temporária estadia em outro Estado, justifico que o motivo é o estado de saúde de minha mãe.
A matriarca de uma família de 10 filhos, vários netos e bisnetos está morrendo um pouquinho a cada instante, como um candeeiro cujo querosene chega ao fim; tendo apenas um pavio úmido em seu interior lutando pra resistir a pouca brisa que por ali passa…
Diante da situação nós, familiares, não estamos pedindo nada a Deus, senão o merecido descanso para uma guerreira, forte guerreira, que a partirá, certamente, com a sensação do dever cumprido.
Amigo Demerval,
quando li o primeiro comentário postado, referindo ao seu lindissimo poema, como “tanta besteira”, senti um misto de ira e compaixao; trocada, segundos depois, por reconhecimento da falta de conhecimento por parte, de parte, desta gente que se diz paraense.
Mas como disse um célebre escritor: “Ignonar o ignorante é uma forma de fazê-lo pensar.”
Parabéns pelo “lindissimo poema”.
Mesmo estando, temporariamente, em outro Estado faço votos de que breve “o sol venha feito um lampião de dentro das serras da nossa aldeia, rasgando a escuridão e trazendo em sua luz a esperança que nunca morreu em nossos corações”.
Sobre o Sérgio, prefiro nem comentar.
Moro desde 2006 nesta cidade chamada Parauapebas, vim de Belém, aqui ganho 40% a mais do que ganharia lá na mesma função, administrador. Cheguei aqui e fiquei apaixonado por esta terra, seus encantos, seus mistérios, brinco quando meus familiares veem pela tv alguma coisa ruim daqui e falam mal. Digo que somente quem mora aqui pode falar mal. Conheço seus problemas pois viajo quase mensalmente para nossa capital, e peno com a buraqueira que se transformou a “PA”. Mas sejamos honestos, muita, mas muita coisa mesmo os prefeitos e vereadores poderiam ajudar. Eu não acredito que não tenha um pingo de dinheiro para concertar os buracos antes de curionópolis, a buraqueira no meio de eldourado, para terminar o hospital de Parauapebas, e etc. Mudar o cargo dos nossos políticos, de prefeito para governador, de vereadores para dep. estaduais, federais e esenadores não vai adiantar nada. proponho fazer um pacto: Trocar todo mundo de prefeito a vereadores daqui de parauapebas, para onde mudei meu título, e eles prestem contas de quanto a cidade recebeu e em que foi gasto, se mesmo gastando tudo em obras não melhorar 30%, isso mesmo só 30%, eu não somente mudo de opinião como visto a camisa da emancipação. Mas do jeito que estou percebendo nas conversas entre os maiores interessados, o bem de nosso povo não é a maior preocupação. Desculpem-me mas é assim que percebo esta luta pelo estado de Carajás. Não posso falar de Tapajós porque não conheço aquela realidade. mas da minha casa sim.
Um abraço José Armando.
Valeu Demerval, belo pensamento, meu mano; reflete o meu também. Tô contigo!
Esse texto é tão entedeante e fantasioso quanto as idéias separatistas.
Nunca li tanta besteira. Perdi meu tempo, Mais é bom a gente lê essas bobagens para sabermos o grau de ingenuidades desse povo.
Realmente o Pará, não merece esse tipo de gente, voltem para o seu estado e deixem o Pará em paz.
Nós continaremos grande e forte, podes crer.
No dia 11 do ultimo mes do ano de 2011 o povo papachibé vai dar um cala boca nestes forasteiros.
NÃO AO ESQUARTEJAMENTO DO PARÁ