Como parte das atividades do “Outubro Rosa”, movimento internacional de conscientização para o controle do câncer de mama criado no início da década de 1990, um seminário realizado na Câmara dos Deputados reuniu especialistas que afirmaram que o atraso no diagnóstico do câncer de mama e de colo uterino continua a representar o maior desafio para o controle da doença no Brasil.
Os participantes ressaltaram que, entre a suspeita do surgimento de um tumor e o início do tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS), pode haver uma demora de até seis meses. Segundo a oncologista do Hospital da Mulher da Universidade de Campinas (Unicamp), Susana Ramalho, nesse tempo a paciente pode perder a chance de cura da doença.
“Dentro de um serviço de tratamento, em menos de 30 a 60 dias, ela começa com o tratamento. Mas até elas chegarem lá, esse tempo vira 180 dias. E quando ele vira 180 dias numa mulher negra, com um subtipo de câncer agressivo, ele pode muito fortemente ser um câncer não curável,” alertou a médica.
Segundo os participantes do debate, o câncer de mama já representa a principal causa de morte de mulheres no Brasil. Como ressaltou o presidente da Comissão Especial de Combate ao Câncer no Brasil, deputado Weliton Prado (Solidariedade-MG), a cada 30 minutos morre uma mulher em decorrência desse tipo de tumor. Por ano, mais de 18 mil mulheres perdem a vida por causa da doença, que, se detectada no início, pode ser curada em até 95% dos casos.
Quanto ao câncer de colo de útero, a médica Gabriela Moreira afirmou que ele mata uma mulher a cada 25 minutos, e representa a segunda principal causa de morte por tumores malignos no país. E, destacou a oncologista, o câncer de colo uterino é o único que tem prevenção e pode ser erradicado.
Quase todos os casos de tumor no colo do útero são causados pelo vírus HPV, para o qual já existe vacina, que, no Brasil, é oferecida de graça no SUS. Além disso, se as lesões causadas pelo vírus forem detectadas no início, podem ser tratadas.
Além da ampliação das vacinas – oferecidas para pessoas entre 9 e 14 anos –, Moreira defende que o SUS também adote o diagnóstico do HPV por meio de teste genético.
“A gente precisa pensar em implementar a genotipagem de HPV como forma de rastreio. Porque, além de mais sensível, ou seja, detecta mais lesões precursoras, quando você tem uma genotipagem negativa, você pode fazer aquela mulher voltar só a fazer de novo o rastreamento do HPV depois de cinco anos. Então isso traz uma redução de custos,” recomendou.
Devido aos problemas de diagnóstico citados, a presidente da Associação de Mulheres Mastectomizadas de Brasília, Joana Jeker, destacou que cerca de metade dos casos de câncer são diagnosticados em estágio avançado no Brasil. Ela propõe a criação de centros que concentrem todas as etapas do diagnóstico, de forma a permitir a entrega do resultado do exame em um único dia.
O centro teria de contar com equipamentos e profissionais especializados, como mamógrafo digital, e aparelho de ultrassom mamário, assim como mastologista e radiologista, defende Joana Jeker.
“A maior parte dos centros já dispõe desses serviços, é só organizar a linha de cuidado, é só ter vontade política, é só querer combater o câncer no Brasil, fazer com que o câncer seja uma prioridade, o enfrentamento dessa doença no nosso país,” concluiu.
Parte das atividades do “Outubro Rosa”, o Seminário foi realizado pela Secretaria da Mulher com a participação da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher. A campanha visa conscientizar a população sobre a necessidade de prevenção e tratamento adequado do câncer de mama.
Por Val-André Mutran – de Brasília