Um clima de medo, de aflição e de tensão tomou conta de 212 famílias de trabalhadores rurais que vivem no acampamento Dalcídio Jurandir, em Eldorado dos Carajás, a 28 quilômetros da sede do município. Em decisão liminar em mandado de reintegração de posse, a Vara Agrária de Marabá devolve a área à Agropecuária Santa Bárbara, pertencente ao grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas.
Na próxima terça-feira, 11, a Vara Agrária irá decidir quais ações devem ser tomadas, para a retirada das famílias do acampamento. A informação é do líder do PT na Assembleia Legislativa, deputado Carlos Bordalo, que nesta semana foi duas vezes à tribuna para apelar à Justiça, ao Ministério Púbico e à Defensoria Pública do Pará para que “tenham a sensibilidade de olhar este caso como caso especial”.
Em defesa da permanência dos moradores no acampamento, Carlos Bordalo citou dados do Diagnóstico da Realidade do Acampamento Dalcídio Jurandir, produzido pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) e divulgado em dezembro de 2017, que mostra que a área é produtiva, com 53 tanques de criação de peixes e cultivo de mais de 45 tipos de frutas, verduras, leguminosas e hortaliças, com destaque para a produção de farinha, leite, milho e banana.
As famílias estão agrupadas em 39 núcleos de base. Somente com a produção de farinha de mandioca, citou Bordalo, o acampamento tem uma receita anual de R$ 808,4 mil. São cerca de 174 toneladas do produto, ao ano, dos quais apenas 4,5% são para o consumo, com o restante sendo vendido em toda a região. “É uma receita expressiva para um acampamento”, disse o deputado.
Na produção de leite, são 184 mil litros por ano, conforme o relatório da Unifesspa, vendidos em municípios como Parauapebas, Xinguara, Rio Maria e até Belém. Com o despejo questionou Carlos Bordalo, “onde serão colocadas as vacas que produzem o leite?” Ele indagou também sobre o destino das 175 crianças que estudam na Escola Carlito Maia, que por ter sido reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC) tem direito à repasse de recursos pela Prefeitura de Eldorado.
“Para onde vão as crianças? Para onde irão os doentes? O que será feito com essa magnífica produção?”, indagou o líder petista. “Qualquer remoção (humana) que for acontecer é um drama que devemos fazer tudo para evitar”, apelou ele, que vê necessidade de serem ouvidos prefeitos e vereadores da região para uma solução pacífica.
Uma década de ocupação
A Fazenda Maria Bonita, hoje Acampamento Dalcídio Jurandir, foi ocupada em 25 de julho de 2008, Dia do Trabalhador Rural, quando em todo o País o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) realizou uma ação intitulada “reforma agrária na terra dos corruptos”.
Em um manifesto publicado nesta semana, o MST ressalta que Daniel Dantas foi acusado pela Polícia Federal de liderar uma organização criminada. “Ele foi acusado de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de quadrilha. Durante a Operação Satiagraha (desencadeada no ano de 2008), o banqueiro foi condenado a mais de 10 anos de prisão, porém uma reviravolta no caso pôs fim à pena”, diz o manifesto.
Passados 11 anos da ocupação, argumenta o manifesto, o que está em jogo não é apenas a luta pela posse da terra. “Não é apenas um pedaço de chão. São mais de 10 anos de vida, de sonhos de construção e vivência coletiva, que podem desaparecer”. O MST frisa ainda que “nossos filhos estão no meio do ano letivo e o despejo trará consequências perversas à vida escolar. A interrupção do ano letivo implica diretamente na formação de crianças e jovens que, assim como nós, sonham com um mundo mais digno”.
Ao final do manifesto, a preocupação com a audiência da próxima terça-feira, na Justiça. “No próximo dia 11 de junho, uma audiência na Vara Agrária de Marabá decidirá nosso futuro diante de tantas injustiças. Não podemos nos calar nem aceitar qualquer violação dos nossos direitos”.
Por Hanny Amoras – Correspondente do Blog em Belém
2 comentários em “Deputado alerta para ameaça de despejo de 212 famílias em Eldorado”
Não Existe País desenvolvido no mundo , aqueles que os socialistas gostam muito de frequentar como EUA, Inglaterra, França. Alemanha … que não respeitem o DIREITO DE PROPRIEDADE… e no Brasil também é Constitucional !
Desde quando está cambada de banqueiros entende humanitarismo tire a conclusão pela cagada que o ministreco entreguista tá fazendo no Brasil.