Expulso da reserva indígena Raposa/Serra do Sol (RR) em 2009, após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), o fazendeiro e deputado federal Paulo César Quartiero levou o cultivo de arroz para a Ilha de Marajó, no Pará, onde enfrenta agora resistência de moradores. Pescadores, quilombolas, ribeirinhos e trabalhadores rurais temem que a cultura, feita com agrotóxicos e captação de grandes volumes de água, prejudique o ambiente.
Quartiero introduziu a rizicultura em larga escala no Marajó, região tradicionalmente focada na pesca, pecuária e extrativismo. Por R$ 4 milhões, ele comprou, em 2010, uma área de 12 mil hectares (equivalente a quase duas vezes a Osasco) no município de Cachoeira do Arari. O filho do parlamentar, Renato Quartiero, comanda o negócio.
Após a chegada deles, outros arrozeiros se interessaram pela região. São apoiados pelo prefeito Jaime Barbosa (PMDB), que quer alavancar a economia. A produção intensificou-se na fazenda dos Quartiero neste ano, e atritos começaram a vir à tona. Um deles é sobre os limites de sua propriedade. As cercas da fazenda foram fincadas dentro de um pequeno rio, afetando a passagem de pescadores.
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) diz que a área, por ser zona de rio, é da União. A propriedade ocupa as margens da estrada que chega a Cachoeira do Arari. Até o cemitério está dentro da fazenda. No plantio, de agosto a outubro, aviões sobrevoam a área para aplicar agrotóxicos, assustando moradores.
Sem problemas
A Agência de Defesa Agropecuária do Estado, porém, fez uma fiscalização em outubro e não encontrou problemas no uso dos defensivos. Nova visita deve avaliar a qualidade das águas. Os pescadores afirmam ser os mais afetados. Eles são cerca de 6.000 dos 20 mil moradores. Luiz Augusto Martins, 30, reclama. “Neste ano, os peixes não estão aparecendo”. A agência diz que não constatou isso na fiscalização.
Seus colegas se queixam de serem impedidos de pescar perto da fazenda. Os comerciantes, porém, estão satisfeitos. O arroz “Acostumado”, dos Quartiero, é o mais barato e o mais vendido nos mercados locais.
Fonte: Diário do Nordeste – Foto : Agência Brasil