Brasília – A disputa interna pelo poder na Câmara dos Deputados ganhou mais um capítulo duas semanas após MDB, PSD, Republicanos, Podemos e PSC formarem um blocão com 142 deputados. Eis que, na quarta-feira (12), um superbloco com 9 partidos e 173 deputados, composto por PP, União Brasil, PDT, PSB, Solidariedade, Avante, Patriota e a Federação Cidadania-PSDB, passou a ser a maior força política da Casa.
A negociação se arrastava havia semanas. O que estava travando as negociações era tornar público os objetivos da aliança que quer “dar governabilidade ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)”, conforme manifesto publicado pelos líderes do superbloco. Alguns deputados, mesmo aderindo à aliança, não votarão com olhos vendados e incondicionalmente com o governo.
Diante do fato, a Câmara dos Deputados passa a ter nova configuração de poder. O PL continua isolado, mas com a maior bancada individual que conta com 99 deputados. O PT (68) segue com a Federação que compôs com PCdoB (7) e PV (6), totalizando 81 deputados. PSoL (13) e Rede (1), continuam nanicos e há um deputado sem partido, Marcelo Lima, eleito por São Paulo, perdido no meio dessa sopa de letrinhas.
Embora ausente da festiva solenidade de lançamento do superbloco, são explícitas as digitais no comando da articulação para a criação da aliança que gerou o superbloco, do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). Com a criação do blocão há duas semanas, o superbloco renova o poder do líder alagoano que estava sendo minado, nos bastidores, por manobras do senador Renan Calheiros (MDB-AL), seu arqui-inimigo, e pelo próprio presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), na desgastante disputa que literalmente travou a análise de Medidas Provisórias, especialmente do novo governo, no Congresso Nacional.
Entre alguns critérios que nortearão o superbloco, ficou definido que a liderança terá um rodízio. O primeiro líder foi escolhido e será o deputado Felipe Carreras (PSB-PE).
No anúncio da criação do superbloco, o líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), declarou que haverá uma alternância na liderança do bloco, que começará com o comando de Felipe Carreras.
“Esse colegiado tomará decisões e será coordenado por um rodízio de líderes, a ser iniciado por líderes experientes, compromissados com essa Casa e que estão mais afinados com o governo, no sentido de que as pautas prioritárias do país constituem as medidas provisórias em tramitação e alguns projetos com urgência constitucional”, afirmou Nascimento.
Ele disse que o novo superbloco não tem interesse em criar “qualquer tipo de celeuma” com o governo petista. Segundo os líderes partidários, o bloco chegará a 175 deputados com a adesão de dois congressistas a siglas do grupo.
De acordo com Felipe Carreras, a formação do superbloco não envolveu o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmação contestada por fontes ouvidas pelo blog. Carrearas declara que a nova aliança, no entanto, “reafirma a força política de Lira e foi articulada pelo deputado alagoano”, numa clara contradição.
“Uma coisa é certa, mesmo com a criação do superbloco, é bom que fique claro que não há garantia de nenhum dos 9 partidos que todos os 173 deputados votarão coesos com o governo”, disse uma fonte ouvida pela reportagem do Blog.
“Sob o ponto de vista objetivo, esse superbloco vem para disputar mesmo é a nomeação da presidência e relatoria de projetos importantes e medidas provisórias”, complementou a fonte.
Pelo sim ou pelo não, há os partidos que já votariam com o governo de qualquer maneira, como é o caso do PDT, conforme declarou o líder da legenda na Câmara, André Figueiredo (CE). Ele afirmou que, apesar das diferenças históricas e ideológicas entre as siglas, em especial nas questões de política regional, há convergência em relação à pauta prioritária do Congresso, como o novo teto de gastos. O deputado leu um manifesto de criação do grupo.
“Todos esses partidos têm uma convergência com a pauta democrática e queremos, claro, trazer uma frente ampla que garanta a governabilidade para o governo federal e que nós tenhamos aqui dentro do Parlamento esse ponto de consenso em pautas que sejam importantes para o Brasil”, disse Figueiredo.
Reação ao blocão
O movimento para a criação do superbloco foi acelerado depois de o Centrão – grupo de partidos sem coloração ideológica clara que adere aos mais diferentes governos – perder força com adesão do Republicanos no fim de março ao bloco com MDB, PSD, Podemos e PSC, até então o maior conjunto de partidos com 142 deputados.
Arthur Lira se limitou a postar algumas declarações na sua rede social. Ele escreveu: “Vamos somar, não confrontar. Atuar juntos na construção de políticas em prol da sociedade. Respeitando as opiniões e a diversidade. Esse é o melhor caminho para apreciação dos projetos importantes para o país”.
Confira a íntegra do manifesto do novo bloco:
“O Brasil vive, atualmente, um momento de oportunidades. Passado o período em que o país estava dividido em extremos, onde o diálogo havia sido deixado de lado, é chegada a hora de unir forças para viabilizar o modelo de nação que o povo quer e precisa. A Câmara dos Deputados, como Casa do povo, exerce um papel fundamental nos rumos que serão dados no resgate do Brasil, tanto em termos de políticas sociais quanto econômicas.
“É preciso encontrar convergência nos diferentes e viabilizar o diálogo para que a Câmara funcione efetivamente como a força motriz de um sistema de engrenagens que possibilite o desenvolvimento do Brasil em todos os seus aspectos. Sem isso, projetos fundamentais para este momento correm o risco de serem bombardeados no Parlamento. Isso vai desde a tão esperada Reforma Tributária à garantia de verbas para a execução de políticas públicas. Do novo Marco Fiscal ao Bolsa Família.
“Pensando nisso, nós, líderes partidários do PP, do PSB, do União Brasil, do PDT, do Patriota, do Avante, do PSDB, do Solidariedade e do Cidadania estamos ultimando a formação de um bloco único na Câmara dos Deputados, o maior da Casa, com 175 parlamentares.
“Ainda que nossa história passe por divergências ideológicas, estamos nos reunindo para selar um pacto pelo desenvolvimento pleno do Brasil nos âmbitos econômico e social, defendendo as pautas de maior interesse dos brasileiros.
“Este é um ato que supera questões regionais, interesses políticos estaduais ou municipais, que neste momento são pequenos dadas as necessidades de um país onde mais de 33 milhões de pessoas vivem em situação de insegurança alimentar e 9,2 milhões estão desempregadas.
“Somente por meio do diálogo conseguiremos superar as principais dores desta nação. É urgente que os interesses do Executivo e do Legislativo convirjam em torno de projetos que garantam a prosperidade do nosso povo e o papel de destaque que o Brasil merece no cenário mundial.
“A futura formação desse bloco é o compromisso que firmamos com o povo brasileiro para além de disputas eleitorais, de interesses meramente políticos. É a certeza de que estaremos trabalhando por todo o Brasil, cada município, seja da zona rural ou grandes metrópoles, cada estado, cada cidadão.”
Procurado, o deputado Celso Sabino (União Brasil-PA), não retornou o pedido para comentar os fatos.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.
1 comentário em “Deputados de 9 partidos criam o maior bloco da Câmara, com 173 parlamentares”
Pode inventar dinheiro pros roedores,a festa vai começar.