Principal ação do governo federal para reduzir o estoque de armas em circulação no país, a Campanha Nacional do Desarmamento tem encontrado dificuldades na Região Norte. É nessa parte do país onde têm sido registradas as piores taxas de adesão à entrega voluntária de armas em 2013. Entre os cinco estados com menor desempenho estão Roraima, Amapá, Pará e Amazonas. O Maranhão, único representante do Nordeste, completa esse grupo. Todos eles aparecem nas estatísticas oficiais com um recolhimento de menos de duas armas por cada cem mil habitantes, um índice muito abaixo da média nacional, que é de seis armas.
O recordista atual da campanha é a Bahia, com 16 armas entregues por cem mil habitantes. O Rio de Janeiro aparece em 12º lugar, com cinco. Em todo o país, foram recolhidas, até o início de maio, 13.292 armas.
Ontem, O GLOBO mostrou que a venda de armas no Brasil cresce exponencialmente desde 2007 e chegou a superar os patamares de 2003, quando entrou em vigor o Estatuto do Desarmamento. Depois do sucesso da primeira campanha, realizada em 2004 e 2005, quando cerca de 450 mil armas foram doadas, o governo tem registrado queda nesses números. Em 2011, foram 37 mil e, no ano passado, dez mil a menos. A indenização varia de R$ 150 a R$ 450 por arma entregue.
A imensa área rural e de floresta é apontada como o principal entrave para a campanha na Região Norte.
– Nessas regiões há uma cultura mais forte de uso da arma seja para defesa ou para o trabalho – avalia o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Denis Rosenfield.
O coordenador do Programa de Controle de Armas do Movimento Viva Rio, Antônio Rangel, concorda, mas faz uma ponderação:
– O engajamento político faz toda a diferença. O Rio Grande do Sul, apesar da cultura fortíssima a favor das armas, tem registrado neste ano um dos melhores índices na campanha – disse Rangel.
O Rio Grande do Sul aparece como o terceiro estado que mais está recolhendo armas em 2013.
O número de postos de entrega também é muito baixo no Amazonas, em Roraima e no Amapá. São apenas três em cada estado.
O governo promete um fortalecimento da campanha de desarmamento em 2014, com a realização da Copa do Mundo no Brasil.
– O que deve afetar negativamente a compra de armas e dar força à entrega voluntária é a escolha do tema social para a Copa, que será “Por um mundo sem armas, drogas, racismo e violência”. O governo vai implementar em parceria com a sociedade civil algumas ações importantes, como a troca de armas por ingressos e a realização de uma campanha mundial de desarmamento.
O presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados, Otávio Leite, cobrou ontem do governo um balanço sobre o Estatuto do Desarmamento, que completará em dezembro dez anos.
Fonte: O Globo