Em apenas três meses, o Pará fez brotar um exército de novos desempregados quase do tamanho atual da cidade de Cametá. É gente a perder de vista. De janeiro a março deste ano, o estado consolidou 57 mil trabalhadores nessa condição e viu a taxa de desocupação de 9,2% encerrada em dezembro saltar para 10,6% no final de março. E isso porque o primeiro trimestre praticamente nem pega os efeitos mais devastadores da pandemia do novo coronavírus sobre o mercado de trabalho.
As informações foram levantadas com exclusividade pelo Blog do Zé Dudu, que analisou os dados detalhados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Trimestral (PnadC-T) divulgados nesta sexta-feira (15) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), segundo quem o estado contabiliza impressionantes 413 mil desocupados, a maioria jovens. Em dezembro, o volume de desocupados do estado era de 356 mil.
Hoje, o Pará é o 11º do país em quantidade de desocupados, espremido entre os 423 mil de Goiás e os 277 mil do Amazonas. São Paulo, estado mais populoso do Brasil, lidera com 3,096 milhões de desempregados enquanto Roraima, menos populoso, está no extremo oposto com 42 mil desocupados. De dezembro de 2019 para março deste ano, Minas Gerais e Bahia ganharam os maiores volumes de novos desempregados: 212 mil e 170 mil, respectivamente.
No caso do Pará, o primeiro trimestre deste ano, apesar do crescimento registrado, está melhor que os primeiros três meses do ano passado, quando foram registrados 441 mil desocupados. À época, a taxa de desocupação era de 11,5%. Hoje, segundo o IBGE, 3,881 milhões de paraenses estão na força de trabalho, apenas 40 mil a mais em relação ao primeiro trimestre de 2019.
Os “sem carteira”
À medida que ganha de presente novos desempregados, o Pará não tem forças para resolver uma situação quase análoga à escravidão moderna: trabalhadores de empresa privada sem carteira assinada. O Blog do Zé Dudu levantou que os trabalhadores nessa condição aqui no Pará somam 555 mil. É como ter um batalhão do tamanho de duas cidades de Marabá e uma de Tucuruí repleta de pessoas trabalhando sem direitos constitucionais.
Nesse quesito, o Pará ocupa, vergonhosamente, a 6ª posição em quantidade de trabalhadores, mas é o 3º em termos proporcionais, já que 45,5% dos empregados do setor privado no estado não têm carteira assinada. Só Piauí (46,1%) e Maranhão (51,7%) têm números ainda mais vexatórios.
Na informalidade
Além disso, o Pará é o campeão nacional da informalidade. Enquanto a taxa nacional ficou em 39,9% no 1º trimestre, aqui no estado ela alcançou 61,4%. Para cálculo da taxa de informalidade da população ocupada, são considerados os seguintes parâmetros: empregado no setor privado sem carteira de trabalho assinada; empregado doméstico sem carteira de trabalho assinada; empregador sem registro no CNPJ; trabalhador por conta própria sem registro no CNPJ; e o trabalhador familiar auxiliar.
O Blog apurou que, atualmente, o Pará tem 178 mil trabalhadores domésticos sem carteira assinada, 194 mil trabalhadores auxiliares e 1,22 milhão de autônomos. O número de autônomos aqui, aliás, é metade do volume do estado de São Paulo, mesmo aquele estado sendo cinco vezes mais populoso.
Rendimento pífio
O rendimento médio dos trabalhadores paraenses estagnou, fazendo com que localidades com menor renda ultrapassassem o estado, este o qual já se encontrava nas últimas colocações — e agora é o 4º pior. A média de ganhos de todos os trabalhos por quem está na ativa aumentou ínfimos R$ 3, passando de R$ 1.622 para R$ 1.625 entre dezembro do ano passado e março deste ano. Alagoas, Maranhão e Piauí, estados onde o trabalhador ganha menos no país, tiveram consideráveis avanços, superiores a R$ 50 no trimestre.
Na lanterna dos indicadores de trabalho e rendimento, não é demais lembrar que o Pará é um dos maiores produtores de riqueza do país, sendo o líder na produção mineral e o 5º maior exportador brasileiro. No entanto, historicamente as riquezas produzidas no estado não são devidamente apropriadas e distribuídas para promover qualidade de vida ao povo paraense, que ainda vive relações de trabalho promíscuas e absurdamente lesivas.