Com o tema “Adolescência, Suicídio e Automutilação”, a Secretaria Municipal de Saúde promove debate nesta quinta-feira (9) no auditório do Instituto Federal do Pará (IFPA), das 8 às 12h, no dia que comemora no mundo a Saúde Mental.
A coordenação do evento é da Rede de Atenção Psicossocial do município e tem o objetivo de atender uma demanda registrada nos atendimentos públicos visando capacitar os professores e profissionais da saúde para enfrentar o desafio de lidar com os jovens, principalmente. De acordo com o psicólogo, Wagner Caldeira “a região Norte tem uma subnotificação de suicídio e tentativa de suicídio. Normalmente são indicadas as mortes por acidente, envenenamento, entre outras causas. Por isso não temos os números reais desse problema social. E o pior: os profissionais de saúde tendem a banalizar a situação e não dão a devida importância caracterizando como frescura e dizem que quem quer se matar, se mata. Assim, as estatísticas são baixas e aí fica até complicado trabalhar a prevenção”, explicou.
As últimas estatísticas mundiais, divulgadas pela Organização Mundial da Saúde – OMS, revelam que uma pessoa tentou se matar a cada 40 segundos. E o Brasil é o oitavo em número de suicídios. Entre os jovens, os números são ainda mais assustadores. A taxa de suicídio entre 10 a 14 anos aumentou 40% e entre 15 a 19 anos, 33%.
O coordenador da Rede de Atenção Psicossocial do município disse ainda que um dos grandes problemas são as automutilações. “Temos informações, por meio dos atendimentos de psicólogos, que essa prática está se alastrando entre os jovens nas escolas. Já existem grupo de convivência de pessoas que tem o hábito de se cortarem e está crescendo muito tanto com homem quanto com mulher, mas com as meninas realizam mais essa prática”, declarou Wagner.
A jovem de Parauapebas, Franciely Silva, de 16 anos, é exemplo dessas estatísticas. Ela já tentou se matar por duas vezes. Depois de causar muito sofrimento para a família, Franciely entendeu que esse não era o melhor caminho. “Eu tive uma infância muito conturbada. E trouxe muitas feridas para minha adolescência. Sofria abuso sexuais do meu padrasto desde os 8 anos. Então entrei na adolescência aderindo a modinha: passei a me cortar por modinha, tentei me matar, me sentia isolada, fora do mundo, não sentia atração pelos meninos, me envolvi com drogas, com álcool… Sei que causei muito sofrimento para meus pais. E aí eu tentei viver a vida que eles queriam para mim até chegar a conclusão de que seguir esse desejo me fazia sofrer”, desabafou a jovem que não denunciou o abuso do padrasto porque ele fugiu.
Hoje, assumindo o homossexualismo, a jovem participa de um projeto social e é beneficiada pelo programa Menor Aprendiz. “Resolvi assumir minha sexualidade, gosto de meninas e ainda enfrento uma batalha. Mas sinto que estou me descobrindo e vencendo os desafios dessa fase me agarrando as boas oportunidades. Eu quero escrever uma nova história daqui para frente porque tive minha infância e adolescência roubada. Não quero ter mais os pensamentos suicidas que me rondaram por muito tempo”, concluiu Franciely.
Outra jovem vive a expectativa para participar do evento como uma das convidadas da mesa de debate. Tharcilla Adrielly, de 16 anos, acredita que a participação será esclarecedora. “Vejo como uma troca de aprendizado que irei dar, mostrando a visão da nossa adolescência, e receber conhecimento”, revelou a jovem.
Para mudar as histórias dos adolescentes de Parauapebas, como aconteceu com Franciely e Tharcilla, que o Dia Mundial da Saúde Mental precisa de uma atenção especial: “Resolvemos fazer esse evento para preparar os adultos a fim de identificarem e lidarem com esses comportamentos auto lesivos dos nossos jovens”. As inscrições podem ser feitas no local do evento e a entrada é um brinquedo ou jogo educativo, que serão destinados para as clinicas de psicologia da Atenção Básica de Parauapebas.