O coronel Mário Victor Vargas Júnior, 48, foi nomeado diretor do Arsenal de Guerra de São Paulo, em Barueri, na região metropolitana. Ele ficará no lugar do tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista, exonerado após o furto de 21 metralhadoras do local.
A mudança no comando do quartel ocorreu por determinação do comandante do Exército, general Tomás Paiva. O então responsável pela unidade de Barueri estava na função desde março.
A nomeação foi publicada na edição desta sexta-feira (20) do Diário Oficial da União. A justificativa foi “necessidade de serviço”. O Exército não informou por quanto tempo o novo diretor ficará à frente do quartel.
Marabaense no comando
Nascido em Marabá (PA), o coronel Vargas Júnior comandou, entre outros, o 28º Batalhão Logístico de Dourados (MS). Na quinta-feira (19), o general de brigada Maurício Vieira Gama, chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Sudeste, disse em entrevista coletiva em São Paulo que haveria a exoneração.
Pouco antes de falar aos jornalistas, oito das 21 armas desviadas do Arsenal de Guerra foram encontradas no bairro da Gardênia Azul, na zona oeste do Rio de Janeiro, área de atuação uma narcomilícia ligada à facção Comando Vermelho.
Foram recolhidas quatro metralhadoras de calibre .50 e quatro fuzis de calibre 7.62 por agentes da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes). Ao todo, 13 metralhadoras (antiaérea) de calibre .50 e oito fuzis de calibre 7,62 foram furtados do quartel em Barueri.
Na entrevista desta quinta, o general Maurício Gama afirmou que os processos de organização militar estão sendo revistos para se verificar como ocorreu a falha que permitiu a o furto e a retirada do pesado armamento do local.
O general também afirmou, sem especificar números, que dezenas de militares, entre novatos e oficiais, estão sendo investigados, ao menos por falha administrativa.
De acordo com o oficial, militares que tinham encargos de fiscalização e controle poderão ser responsabilizados na esfera administrativa e disciplinar por eventuais irregularidades. Eles receberam um formulário de apuração de transgressão disciplinar e têm até 72 horas para apresentarem defesa.
Inquérito civil militar
Em cada revisão de processos, se é verificada uma falha, o militar suspeito recebe o formulário e precisa se justificar, conforme explicou. “Vários militares que participam do controle do armamento receberam o formulário, e isso é dinâmico.”
Foi instaurado um inquérito civil militar, que pode levar os responsáveis pelo furto das armas a julgamento pela Justiça Militar. Também há procedimento administrativo.
Os militares temporários serão expulsos, e os de carreira, submetidos a conselhos de justificação ou disciplina. Possíveis civis envolvidos também poderão ser julgados pela Justiça Militar, por se tratar de um crime dessa competência.
O Exército havia identificado três militares suspeitos de participar do furto das armas e a Força investiga se o trio foi cooptado por facções criminosas para o extravio do armamento. Mas, de acordo com o general Maurício Gama, o número já é maior.
“O que podemos dizer até agora é que há militares envolvidos nesse desvio e isso está sendo investigado no curso do inquérito civil militar”, disse.
Sem prisões até o momento
Por enquanto, ninguém foi preso, e cerca de 160 militares continuam aquartelados em Barueri. Segundo o porta-voz, eles seguem nessa situação porque podem ser requisitados para ações ou nas investigações.
O oficial não disse até quando vai o aquartelamento. Um grupo de 480 militares chegou a ficar retido na unidade por uma semana, após a descoberta do sumiço das armas no último dia 10.
Segundo o Exército, as armas que foram levadas estavam em uma reserva de armamento por serem inservíveis. O local é lacrado, e a suspeita é que o lacre tenha sido trocado. No dia 10 houve a verificação de que ocorreu a troca de cadeado e de que a porta possivelmente havia sido forçada.
Na entrevista desta quinta, o general leu uma nota na qual diz que há a possibilidade de o extravio ter ocorrido entre os dias 5 e 8 de setembro. Depois, entretanto, ao responder uma pergunta, ele afirmou que a última conferência oficial no local onde ficam as armas, antes do furto, ocorreu em 6 de setembro.
Roubo teria acontecido no feriado de 7 de setembro
No dia 5 foram retirados armamentos, e no dia 6 eles voltaram para essa reserva”, afirmou. “Descobriu-se a subtração do armamento em 10 de outubro. Então é nesse lapso temporal, entre o dia 6 de setembro e 10 de outubro, que estamos investigando em que momento ocorreu esse ilícito.”
Segundo relato de oficiais que acompanham a investigação, a principal suspeita é que as armas tenham sido roubadas no feriado do Dia da Independência, em 7 de setembro, quando o quartel estava esvaziado.
Questionado se houve falha nas câmeras de segurança do quartel e sobre como os armamentos foram levados ao estacionamento e retirados do local, o general não deu detalhes. Disse apenas que são informações sigilosas que fazem parte do inquérito civil militar.
“Toda a dinâmica de como foi retirado o armamento está sendo investigada”, disse. “Imagens de câmeras e croquis do local estão sendo analisados.”
(Fonte: Folha de S. Paulo/ 20.10.2023)