Por Márcia Carvalho Leite
Um dia um amigo me contou uma história.
Foi ele que me ensinou que devemos ser práticos e ter sempre o pé no chão. Ouvir mais e falar pouco. Confesso que não aprendi muito. Vira e mexe falo demais. Engraçado que o castigo sempre vem à cavalo.
Voltando a história que me foi contada, trata-se de uma jovem, que estudou muito, tem uma vida estável, tem o carro que gostaria; mora numa casa que a maioria das pessoas chamaria de confortável e tem sua vida própria. Viaja sempre que pode, pros lugares que sempre sonhou.
Mas, essa pessoa é insatisfeita.
Chora, porque alguém disse que o cabelo está feio, desaba se acha que ganhou uns quilos a mais e se desespera se fica sem o carro pra sair no final de semana. A moça não valoriza nada que tem. Sempre acha que nada está bom e ainda diz que quer ser feliz.
E quem não quer? Talvez ela esteja apenas enganada quanto a forma que busca essa tal felicidade.
Daí pergunto: estou falando exatamente de quem? Da conhecida do meu amigo? Ou de milhares de pessoas que acreditam que ter é mais importante que ser? Que papel louco é esse? Que sociedade “deformada” é essa? Quem educa seus filhos, as novelas ou você? Quem te educou? Quem está a frente do poder hoje e porquê? Quem vai continuar ditando os valores sociais que determinam que a aparência é mais importante que a decência? Quem?
Não sou evangélica. Mas creio em Deus. E Ele nada tem a ver com o que está acontecendo.
Tudo é consequência das inúmeras e inúmeras escolhas que fazemos todos os dias. Não sou hipócrita, também faço parte desta mesma sociedade. Às vezes, me pego triste porque queria um pouco mais de conforto. Às vezes sou impaciente e instável.Faço críticas sem razão, sou até boba. Em minhas andanças pelo Brasil – não ando muito não, rs – costumo ouvir as conversas mesmo sem querer – como outro dia no café de um shopping – Na verdade quase choquei, quase!
O assunto era a necessária separação das “castas”, ou, como preferir, dos níveis sociais e econômicos. "Eu não caso com pobre", dizia uma e o outro completou, sorrindo: "Um amigo meu, pegou uma pobre. A bichinha era tão feia que tinha bigode e apenas uma sobrancelha – ele não estava brincando, entenda a xenofobia – cuidou dela e a menina, lá do Maranhão, ficou, digamos assim, "encarável"". Surreal, não é?
Eu ouvi, enquanto tomava meu café e o cara estava falando sério e falou com nojo. Daí, você tira suas conclusões.
Pra grande maioria das pessoas o pobre continua feio, mal educado e suspeito de ser bandido. Alguns ricos, pessoas da classe média, que trocam de carro todo ano – mas vão no posto e colocam 5 reais de combustível pois, o orçamento é apertado até pra tirar onda – são, aparentemente, os partidões da hora.
Dizem que o nível de instrução conta muito. Mas, já vi cada bacharel, pós graduado que não sabe sequer usar uma caneta. Exceções é claro, existem exceções.
Por falar em educação, vejamos: os professores são desmoralizados nas salas de aula,não importa o nível, e ai daquele que tentar aplicar disciplina – falo de disciplina moderada, aquela correta. Pois, tem pai que não aceita, parte pra briga mesmo. E se o filho vira pitbull…ah tadinho, a polícia é que é violenta.
Nas faculdades – centenas delas de direito (nada pessoal, queria ter feito direito) – o que se vê são desfiles de silicone, celulares da moda, Beyonce, Lady Gaga, Geise Arruda – nada contra essa moça – batidão, super carros, prostituição, grifes, pó, maconha etc e tal. Você imagina que tipo de gente sai de lugares como esses, que estão preocupados mais com a mensalidade? Sorte que tem muita gente boa sim, que rala pra caramba. Muito brasileiro honesto e lutador que faz valer à pena.
Na Universidade aprendi que deveríamos dar um retorno à sociedade por conta do investimento que o governo faz pra “nos profissionalizar”. Entretanto, poucos saem de lá com esse propósito. A maioria quer mesmo sobreviver. E quem pode condená-los por isso? Eu sobrevivo todos os dias, graças a Deus!
Pra tentar mudar, e diminuirmos um pouco o nosso sofrimento, acredito que devemos voltar os olhos para as coisas mais simples da vida e lembrar sempre que o que é material fica, ou, se vai quando a gente morre, e até mesmo antes.
Este não é um discurso conformista. É apenas uma simples opinião de quem ainda se choca ao ver, todos os dias, tanto horror acontecendo por ai por conta desta busca interminável pelo ter. Um horror que tira a vida de crianças que ainda nem nasceram e de jovens mães que não tiveram o prazer de ter seu amado filho nos braços. E que tira a oportunidade dos que nasceram e são praticamente invisíveis para a sociedade.
O amor ao próximo, o respeito a si mesmo e a honestidade deveriam fazer parte do caráter do ser humano, ser algo natural e não uma qualidade que encontramos em alguém. Para isso, acredito que é preciso refletir sobre o que somos, porque estamos aqui e qual o nosso propósito; tentando fazer da nossa vida o melhor possível. É isso mesmo! Filosofar e chegar a uma conclusão. Sempre com o cuidado para não machucar o outro e principalmente, não se machucar por conta de tanta futilidade.
O mundo tem suas maravilhas, é a sociedade que está cega demais pra enxergá-lo. E viva a vida!!!
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4 comentários em “E por falar em futilidade.”
marcia vc escreve muito bem, parabens pelo texto…
Em cada um de nós há algo que não conhecemos e é isso o que somos.
A humanidade está cada dia mais desumana.
amigo zé dudu quero me expressar pra Marcia Carvalho que há muito tempo eu não via uma coluna que mexe diretamento com o sentimento da pessoa, no sentido dela perceber o que está fazendo aqui nesse plano chamado terra. gostei muito adorei mesmo, quero até te pedir permissão pra vc e pra ela a Marcia pra reproduzir esse texto no nosso Site http://www.carajasojornal.com.br e ainda no jornal impresso que vem as ruas na proxima terça. abraços amigo Carlos Refribom dir. pres. carajas o jornal.
Marcia me envio o texto na terça-feira e disse que iria viajar. Mas acho que não haverá problemas em reproduzi-lo em seu jornal.
Forte abraço.