O banco de Investimentos BTG Pactual, em relatório distribuído a clientes, alerta que as siderúrgicas brasileiras estão vivendo uma ‘’tempestade perfeita’’: a demanda está fraca, os preços do aço estão em queda constante e o nível de rentabilidade está próximo do low (baixa) histórico. No sentido contrário, a mineradora Vale S/A (VALE3) sobe firme, há duas semanas consecutivas, no que os operadores chamam de “rali de final de ano” na B3 — a Bolsa de Valores do Brasil, com valorização de mais de 10%, desde o dia 1° de novembro, fechando em R$ 76,06, caminhando para atingir a alta histórica, podendo ultrapassá-la com folga, antes do final do ano.
Siderúrgicas
Segundo o relatório das siderúrgicas do BTG, para piorar, o aumento expressivo das importações de aço (que subiram quase 60% ano ante o ano passado) está adicionando ainda mais pressão no setor — que já fala em centenas de demissões e não para de bater na porta do governo pedindo maiores tarifas de importações. O aço importado vem da China, que compra a matéria-prima da Vale.
“Em todos esses anos cobrindo o setor, não conseguimos lembrar de um trimestre tão depressivo para as siderúrgicas brasileiras como esse,” escreveu o BTG Pactual.
Os analistas Leonardo Correa e Caio Greiner dizem que sua convicção para recomendar as ações do setor também está no low dos últimos anos — e que há melhores oportunidades em outros setores.
“A Gerdau é o nosso único buy (compra) no setor, mas os downgrades (diminuições) contínuos dos lucros devem pressionar o desempenho das ações no curto prazo,” diz o relatório.
O BTG tem um preço-alvo de R$ 24,5 para a Gerdau, um potencial de alta de apenas 5,6% em relação ao preço de tela. Já para a CSN e Usiminas, o banco tem recomendação ‘neutra’ e preço-alvo de R$ 14,86 e R$ 7,5, respectivamente. A CSN negociou na segunda-feira (20) a R$ 16,08 e a Usiminas a R$ 7,88.
Os analistas notam que as margens EBITDA (Lucros antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização) das três empresas estão “inaceitavelmente baixas”.
“Mesmo a Gerdau, que é referência na indústria e de longe a que tem as maiores vantagens competitivas, reportou uma margem EBITDA da unidade brasileira de apenas 13% no terceiro trimestre,” escreveram os analistas. “Esses níveis só foram atingidos durante períodos de recessão (como o governo Dilma) e se comparam a margens históricas de 18-20% para o meio do ciclo.”
A situação da CSN e Usiminas está ainda pior, com a CSN reportando uma margem EBITDA de míseros 3,4%, e a Usiminas operando com margem negativa, se tornando um pesadelo.
O BTG disse que, dado esse cenário, entende porque as siderúrgicas brasileiras estão tão vocais sobre a necessidade de ajuda do governo em meio ao crescimento das “importações predatórias” no País vindas da China.
“Com as exportações do aço chinês batendo em 90 Mtpa em 2023 (2x o montante do ano passado), há um argumento razoável de que há um excesso no mercado,” diz o relatório. “Por exemplo, as importações de aço plano subiram 60% este ano no Brasil, colocando em risco centenas de empregos na indústria local.”
Os analistas dizem ainda que já tem visto diversas economias adotando medidas protecionistas contra as importações do aço chinês, e que o imposto de importação do Brasil (de 10% a 12%) é muito inferior ao de países importantes. Nos EUA, por exemplo, esse imposto é de 25%.
“Mas ainda que a gente entenda os argumentos, a gente não incorpora um imposto mais alto nos nossos modelos, já que acreditamos que outros lobbies terão mais poder de barganha com o Governo do que as siderúrgicas nesse momento.”
Enquanto a Gerdau sofreu ainda mais no pregão de segunda-feira (20), caindo mais de 4%, a CSN e a Usiminas subiram 10% e 3%, se beneficiando de um upgrade (alta) de recomendação do Bank of America (BofA) para todo o setor de mineração, da Vale a CSN, passando pela Ternium e pela Usiminas.
O BofA acredita que o minério de ferro deve passar por mais um rali nos próximos meses, atingindo o patamar de US$ 150/tonelada no primeiro trimestre do ano que vem.
Isso deve acontecer porque as “usinas devem ser forçadas a comprar no mercado já que elas estão persistentemente com estoques baixos.”
Vale: Goldman Sachs eleva recomendação dos ADRs para compra e cita 5 motivos para estar construtivo com mineradora
Analistas veem que configuração que apoia a tese de investimento na Vele é única, com combinação de fatores que não ocorria desde 2014.
Após o Bank of America elevar a recomendação para os ativos da Vale (VALE3) na véspera, na terça-feira (21/11) foi a vez do também banco americano Goldman Sachs destacar o maior otimismo com os ADRs (American Depositary Receipts, ou papéis negociados na Bolsa de Nova York) da mineradora.Marcio Farid e equipe, analistas que assinam o relatório, destacaram cinco razões para serem construtivos com as ações e elevaram a recomendação dos ADRs de neutro para compra, além de subir o preço-alvo de US$ 12,20 para US$ 19,50 dólares (um potencial de alta de 25% em relação ao fechamento de segunda-feira, 20).“Acreditamos que a configuração atual que apoia a tese de investimento da Vale é única devido a uma combinação de fatores favoráveis que não existem desde pelo menos 2014”, avaliam os analistas.Eles incluem:
1) um mercado de minério de ferro equilibrado que sustenta preços de US$ 110 a tonelada para 2024, segundo expectativa do Goldman;
2) impulso operacional positivo (embora o ritmo ainda seja um pouco decepcionante);
3) exposição relativamente baixa dos investidores (principalmente de investidores brasileiros locais);
4) valuation atrativo (com rendimento do fluxo de caixa livre de 12% e 4,8 vezes o EV/Ebitda [valor de mercado + dívidas – disponibilidades/lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] esperado para 2024, o mais barato entre as principais empresas do setor) e
5) expectativa do Goldman de apoio político contínuo à China (com o minério de ferro em destaque).
Os analistas destacam terem elevado as suas estimativas para a Vale principalmente com base na revisão dos preços de minério de ferro e cobre.
“A Vale é agora o nosso nome preferido entre as empresas de matéria-prima. Acreditamos que a história agora é muito atraente para ser ignorada e que os investidores aumentarão lentamente a exposição à medida que a confiança em torno do equilíbrio entre oferta e demanda de minério de ferro em 2024 aumentar”, apontam.
Apesar do recente desempenho positivo (alta de 25,8% no mês passado), o Goldman acredita que a recuperação atual tem força. O banco estima que a Vale precifique atualmente um preço de minério de ferro de US$ 104 a tonelada (t) para 2024 (com base em um rendimento de fluxo de caixa livre de 10%) contra US$ 135/t à vista e projeção do Goldman da commodity a US$ 110/t.
Mais especificamente, o modelo revisado de minério de ferro do Goldman agora aponta para um mercado equilibrado devido ao crescimento limitado da oferta, às exportações de aço chinesas ainda elevadas e ao ganho limitado de participação de mercado da sucata na China para 2024.
“Diferentemente de boa parte deste ano de 2023, quando o pessimismo dos investidores em relação ao crescimento da China e à produção de aço limitou o desempenho da Vale, acreditamos que o mercado será lentamente convencido de uma melhor configuração de oferta/demanda e, enquanto isso, os investidores colherão os benefícios da forte geração de fluxo de caixa livre e distribuição de dinheiro”, apontam os analistas.
Enquanto isso, em termos de desempenho operacional, os metais básicos têm sido decepcionantes e o ritmo de recuperação dos ferrosos está abaixo das expectativas. “Mas agora pensamos que o pior já passou e esperamos uma recuperação gradual tanto do crescimento/estabilidade da produção como dos custos”, avalia.
Entre outros destaques, a equipe de análise aponta que a Vale tem potencial para aumentar a produção de minério de ferro em 15% até 2026, com investimentos reduzidos por tonelada, já que a empresa aproveitará a infraestrutura existente. Uma potencial recuperação e melhoria de desempenho nos atuais ativos de metais básicos também é um potencial fator-chave de ganhos.
Já um catalisador importante a ser observado é um possível acordo final com o Ministério Público e os governos estadual e federal relacionados ao acidente da Samarco em 2015, reduzindo a incerteza da Vale e potencialmente levando a uma reclassificação dos ativos.
Os analistas ainda fazem uma ponderação e apontam que o principal risco negativo para a tese altista reside nos preços do minério de ferro potencialmente mais fracos do que o esperado em 2024. Isto pode ser motivado por um apoio político mais fraco do que o esperado num mercado imobiliário ainda desanimador na China, avaliam.
A reportagem do Blog do Zé Dudu chama a atenção do leitor para a máxima do mercado: ‘’Os operadores sempre precificam os valores dos papéis com muita antecedências para depois irem ajustando de acordo com o volume de papéis negociado, portanto, a hora de investir no papel VALE3 é agora ou nunca, uma vez que se o investidor entrar atraso, vai comprar o papel muito acima de R$ 73,00 (preço ideal pra entrar agora) e perder parte do lucros que virão até o final deste ano fiscal. É a dica.
* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.
1 comentário em “Economia: Preço do minério de ferro sobe e puxa ações da Vale para cima na Bolsa brasileira”
Que artigo longo e ruim !!