Uma mulher vai tentar, pela primeira vez no Pará, conquistar um lugar que jamais foi ocupado pela força feminina: a de presidente do Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores. A socióloga Karol Cavalcante, 33 anos, vai disputar o cargo com dois homens, ambos de longa trajetória política no Pará: o deputado federal Beto Faro e o ex-deputado federal Zé Geraldo.
Karol já foi secretária-geral e vice-presidente do diretório estadual, e até julho deste ano era a única mulher na direção do diretório nacional do PT, onde exerceu a função de secretária-adjunta de Relação com os Estados. Considera-se preparada para enfrentar Faro e Zé Geraldo no dos dias 19 e 20 de outubro deste ano, quando será realizada a eleição para o diretório estadual, em Belém.
Antes disso, no dia 8 de setembro, será realizado o Processo de Eleição Direta (PED) do partido para a escolha dos delegados nos municípios, responsáveis por decidir, nas urnas, quem será a nova liderança da legenda em nível estadual. Se eleita, Karol Cavalcante será a primeira mulher a presidir o diretório estadual do Pará em 40 anos do partido.
Em entrevista à jornalista Hanny Amoras, do Blog do Zé Dudu, Karol discorre sobre suas pretensões caso a sua chapa “Renovar o Partido” saia vitoriosa. O fortalecimento do PT não poderia ser maior bandeira de luta após o partido passar por momentos difíceis nas eleições de 2016 diante do impeachment da presidente Dilma Rousseff.
E Karol assegura: em pelo menos 30 municípios paraenses, o PT deverá apresentar bons nomes para as eleições municipais de 2020, em condições de ganhar. Em Parauapebas, a candidatura está entre o ex-vereador Miquinha e o secretário municipal de Educação, Raimundo Neto, para enfrentar o prefeito Darci Lermen. O martelo ainda será batido.
“Estamos conversando com um conjunto de partidos que querem apresentar uma alternativa à candidatura do Darci e eu creio que a máquina não é um elemento decisivo. Se fosse, o Valmir seria o prefeito hoje e não o Darci”, diz Karol Cavalcante, que prefere não falar sobre a exoneração de Raimundo Neto da Semed, mas é sabido que dentro do PT Darci Lermen se transformou numa pessoa non grata inclusive pela forma como dispensou o então titular da Semed, sem qualquer aviso prévio. Acompanhe a entrevista.
Blog: Você tem feito críticas contundentes à aliança do PT com o MDB. Em caso de ser eleita presidente do Diretório Estadual do PT, qual será seu posicionamento sobre essa situação?
Karol: O PT, por ser um partido democrático, o direito de opinião está garantido e assegurado historicamente na vida partidária. Tenho feito críticas às alianças do PT com qualquer partido de centro-direita, não somente com o MDB, e continuarei exercendo meu direito de fazê-las independentemente da posição que ocupe dentro do PT. Minha candidatura tem uma plataforma de luta que passa pelo fortalecimento do partido e sua atuação junto às lutas do povo. Para que isso ocorra, é necessária uma renovação partidária, um partido que supere os erros cometidos, principalmente a tática política de composição com os partidos que apoiaram o impeachment da presidente Dilma Rousseff e elegeram Jair Bolsonaro. É com esse programa que vou dirigir o PT do Pará, buscando organizar uma frente de partidos do campo da esquerda para as futuras disputas eleitorais. Como presidenta do PT, respeitaremos as decisões das instâncias do partido, mas isso não nos redime de externar opiniões críticas ao governo do MDB, ao contrário, isso faz parte da democracia interna do PT que pode a qualquer momento avaliar ou reavaliar essa decisão. E é por isso que o PT tem suas instâncias democráticas de decisões e a conjuntura não é estática. Jamais desrespeitei as deliberações das instâncias de direção do PT mesmo que não concorde com essas decisões, e vou permanecer com essa postura como presidenta, caso seja eleita pelos meus companheiros e companheiras no congresso do partido.
Blog: Na Assembleia Legislativa, a bancada do PT, antes oposição ferrenha aos partidos de centro e de direita, agora defende o governo Helder Barbalho até mais, eu diria, que os próprios medebistas. Vale tudo nesse jogo?
Karol: Minhas relações com os três parlamentares são transparentes e sérias. Defendo que os interesses do partido devem estar acima de nossas divergências e do governo do estado. A bancada petista tem experiência e maturidade política para não entrar em um jogo de vale tudo. O que está em jogo é o futuro do Pará e o fortalecimento do PT. Penso que não devemos confundir base de apoio com subserviência. O fato de participar do governo, decisão tomada pela maioria que eu fui contra, não pode ser um impeditivo para que a nossa bancada cumpra um papel fiscalizador e de cobranças ao Executivo estadual. Na presidência do PT, buscaremos junto à bancada estadual estabelecer um processo de diálogo e escuta permanente sobre os projetos de interesses da população. A posição da bancada deve refletir a posição do conjunto do partido. É isso que venho defendendo internamente.
Blog: Nas eleições municipais de 2016, vários candidatos a prefeito saíram do PT e se filiaram a outros partidos – foi o caso de Darci Lermen, de Parauapebas – porque a imagem petista estava bem desgastada diante das sucessivas denúncias de corrupção. Até as eleições municipais de 2020, qual deve ser a deliberação em torno dessa troca de cadeiras?
Karol: O PT é o partido, segundo as pesquisas de opiniões, mais preferido dos brasileiros e isso é um indicativo de nossa força política para a disputa das eleições de 2020. Sofremos o golpe do impeachment da presidenta Dilma, impediram a candidatura do presidente Lula com uma prisão sem prova, vítima de um complô político da extrema direita, com setores do Judiciário e da mídia corporativa, comprovado pelas mensagens secretas da Lava Jato denunciada pelo The Intercept Brasil. Então, as eleições de 2020 representam para o PT e para o campo das esquerdas um momento de afirmação política e de crítica à situação de desmonte do Estado brasileiro pelo governo Bolsonaro, que atinge a vida dos municípios. É uma eleição onde buscaremos junto à população debater os problemas locais e dizer que a falência dos municípios é de responsabilidade desse governo que acabou com o pacto federativo construído pelos governos Lula e Dilma. A tática eleitoral para 2020 passa por debatermos com os partidos de esquerdas e do campo progressistas alianças eleitorais que derrote os partidos que apoiam Bolsonaro. 2020 se apresenta com uma conjuntura completamente diferente da que o PT enfrentou nas eleições de 2016, neste sentido acredito no crescimento eleitoral da força do partido no Pará.
Blog: Os outros dois candidatos a presidente do diretório estadual – Zé Geraldo e Beto Faro – são de grande peso no PT paraense. Como você vem se preparando para essa disputa, que, tudo indica não será fácil. Qual será a sua maior bandeira?
Karol: O PT, em 2020, completará 40 anos. Sou de uma nova geração de dirigentes petistas que tem participado nos últimos 20 anos da construção do partido. Fui da Juventude Petista, participei do diretório municipal do PT Belém, exerci a função de secretária-geral do PT no Pará, sou a única mulher do Pará membro do Diretório Nacional do PT e tenho uma militância nos movimentos sociais, portanto estou disponibilizando o meu nome para assumir a presidência do meu partido. Minha bandeira será a defesa por um partido forte, aberto para a militância, disposto pra luta e que dialogue com os movimentos sociais, as mulheres e a juventude.
Blog: Não é uma contradição petista jamais ter elegido uma mulher para presidente do diretório estadual no Pará?
Karol: De fato, o PT do Pará nunca foi presidido por uma mulher, mas minha candidatura vem para superar essa contradição. Sou a primeira mulher a disputar a presidência do diretório estadual e isso pra mim já é sinal de um novo tempo no PT paraense, com maior protagonismo das mulheres. Assim como avançamos em nível nacional, elegendo a companheira Gleici Hoffman presidenta do PT nacional, espero também que esse avanço possa chegar no PT paraense.
Blog: Você é contra o financiamento de empresas às campanhas eleitorais, mas é a favor de financiamento público?
Karol: Sou contra a participação das empresas na arena eleitoral por entender que gera um desequilíbrio na disputa, levando o poder econômico a influenciar na “escolha” dos eleitos pelos cidadãos, desequilibrando uma disputa que deveria se dar em torno de ideias ou da avaliação pessoal do candidato. O financiamento público é uma conquista da pauta dos movimentos sociais e dos partidos de esquerda e progressistas. É um avanço, pois impede que a influência do poder econômico seja decisiva nas eleições. Defendo que os próximos passos devam ser no caminho de restringir o autofinanciamento, limitando o valor que o candidato pode doar à própria campanha. Seria um mecanismo importante destinado a reduzir a ingerência do poder econômico – dessa vez, pessoal – sobre o jogo eleitoral.
Blog: Em alguns municípios, como Parauapebas, a atuação do PT está enfraquecida e pouco se ouve falar do partido. O que vai ser feito no interior do Estado para que o partido volte a ser “a voz da multidão”?
Karol: Olha, eu particularmente não tenho essa opinião de que o partido esteja enfraquecido no interior do Estado. Nós tivemos uma eleição muita dura em 2016. Foi uma eleição que enfrentamos em meio a um processo de impeachment da presidenta da República do nosso partido, um verdadeiro linchamento do PT por parte da imprensa tradicional. Foi uma eleição muito difícil para o PT em 2016. Mas avalio que estamos nos recuperando para 2020. E não avalio que em Parauapebas, especificamente, o PT esteja enfraquecido. Nós tivemos uma candidatura na cidade para deputado federal. Um dos nossos candidatos para deputado federal foi de Parauapebas, o companheiro Miquinha, e o Miquinha teve a maior votação da história de um candidato do PT na cidade. Foi muito bem votado, o que o projetou para as eleições de 2020. Então, o PT de Parauapebas se reuniu neste final de semana. Inclusive no sábado (3) tivemos uma reunião que contou com mais de 20 pré-candidatos a vereador. E o partido decidiu que vai ter candidato no município e está colocando dois nomes à disposição, que é o nome do Miquinha e o nome do Raimundo Neto, que é um advogado muito respeitado na cidade e é ex-secretário de Educação. Então, eu acho que são dois nomes que têm condições de enfrentar as eleições de 2020 com bastante competitividade. E assim, como em Parauapebas, nós temos diversos municípios em que o PT tem nomes com condições de fazer a disputa e ganhar. Em Conceição do Araguaia, o Álvaro Brito, ex-prefeito, é favoritíssimo hoje na disputa. Eu estive em Cametá na semana passada. Há um sentimento na cidade de que o PT precisa voltar a governar Cametá. Nós temos nomes em Cametá para isso. Em Santarém, há um apelo na sociedade para que a Maria (Maria do Carmo, ex-prefeita) volte a governar o município. Enfim, tem diversos municípios que o PT tem nomes competitivos e que nós esperamos enfrentar um 2020 em outras condições, em condições de melhor diálogo com a sociedade e com nomes que tenham condições reais de vencer. Acho que em pelo menos em 30 municípios o PT apresenta nomes extremamente competitivos para disputar a eleição. Ainda sobre Parauapebas, agora na eleição interna do PT vamos ter chapa única, mostrando que há uma unidade do PT de Parauapebas em torno da sua estratégia. É uma das poucas vezes que partido vem em chapa única. Nós temos uma tradição muito forte em Parauapebas na disputa da direção. E essa eleição interna é a primeira em que o PT sai com chapa única mostrando unidade do partido nesse momento em relação a sua estratégia e seu futuro.
Blog: Vocês acreditam que dá para vencer o Darci, com ele tendo a máquina na mão?
Karol: O Valmir da Integral foi derrotado com a máquina na mão. Então, me parece que máquina não é um elemento decisivo em Parauapebas. O governo do Darci, ao que me consta, é um governo extremamente mal avaliado. E a gestão do Raimundo Neto à frente da educação, especialmente nos oitos anos que o PT governou o município, foi uma gestão muito bem avaliada. Inclusive foi o carro-chefe do Lermen na sua reeleição. Sem contar que o Raimundo é um advogado extremamente respeitado em Parauapebas. Então, acho sim que temos condições de apresentar uma candidatura competitiva. Estamos conversando com um conjunto de partidos que querem apresentar uma alternativa à candidatura do Darci e eu creio que a máquina não é um elemento decisivo. Se fosse, o Valmir seria o prefeito hoje e não o Darci.
1 comentário em “Eleição para diretório do PT no Pará tem única mulher candidata”
Uma correção a matéria fala que Karol seria a única mulher na direção do Diretório Nacional do PT, é um equívoco, o PT atoda a paridade em todos os níveis de direções do partido, sendo a metade do Diretório Nacional composto por mulheres, inclusive sua Presidente Nacional.