Brasília – Mesmo com o apoio formal dos governadores dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, que somados ao Espírito Santo, representam 66% dos votos do país, o candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) não conseguiu repetir a votação de 2018, desidratou 1,3 milhão de votos enquanto seu oponente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), avançou na região obtendo 7,6 milhões de votos, suficientes para virar a apuração duas horas depois do início da contagem, mantendo uma pequena margem de vantagem, suficiente para sagrar-se, de forma inédita, pela terceira vez, presidente da República.
Ao contrário do que os apoiadores do presidente derrotado expressavam nas redes sociais, não foi no Nordeste que a eleição foi definida a favor do petista, mas no Sudeste. O presidente derrotado teve no Nordeste em 2022 mais votos em termos percentuais do que recebeu há quatro anos. Bolsonaro obteve 30,3% dos votos válidos dos eleitores nordestinos no segundo turno. Agora, foram 30,7%, que representa um aumento de 0,4%, que equivale a apenas 130 mil votos a mais para o candidato derrotado.
Em 2018, o presidente teve 65,5% dos votos válidos. Agora, foram só 54,1% nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. No resultado final do pleito, Lula derrotou Bolsonaro por 2.139.645 votos, a menor margem de vantagem numa eleição presidencial registrada no Brasil.
Derrotado após a proclamação do resultado feito pelo presidente do TSE, Alexandre de Moraes, o presidente Jair Bolsonaro (PL) não cumprimentou nem o seu maior aliado nessa eleição, seu ex-ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, que venceu a eleição para governador em São Paulo, quebrando uma hegemonia de quase 30 anos de governos tucanos no estado de maior população e PIB do país.
Segundo o candidato a vice de Bolsonaro, general Braga Neto, o presidente recebeu apenas a ligação do presidente do TSE, Alexandre de Moraes. Especula-se que nesta segunda-feira (31), Bolsonaro se manifeste sobre o resultado da eleição.
Estados
Nos 12 estados onde houve segundo turno, a polarização nacional também ecoou nas urnas. No estado mais rico do Brasil, São Paulo — agora chamado de QG do bolsonarismo, o ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), obteve 13.425.413 (55,3%) adiando novamente a realização do grande sonho petista de governar o estado que detém o terceiro maior orçamento público do país. O candidato do PT, Fernando Haddad, obteve 10.850.304 (44,7%) dos votos.
Também no Sudeste, o governador Renato Casagrande (PSB) se reelegeu com 1.171.288 votos (53,8%), derrotando Manato (PL) que obteve 1.006.021 votos (46,2%).
Sul
Em Santa Catarina, prevaleceu a máxima de um estado que jamais elegeu um político da esquerda para dirigir o estado. Com 99,94% de urnas apuradas, o senador Jorginho Mello (PL), derrotou com 2.982.172 votos (70,69%) o candidato do PT, Décio Lima, que obteve 1.236.646 votos (29,31%).
Nordeste
No Nordeste, foi a região que mais estados disputaram a eleição no 2º turno. Na Bahia, maior colégio eleitoral da região, Jerônimo, do PT, venceu com 4.476.726 votos (52,78%) ACM Neto, que obteve 4.005.476 votos (47,22%).
Em Pernambuco, houve uma virada da candidata do PSDB, Raquel Lyra sobre Marília Arraes, do Solidariedade. A tucana, venceu a eleição com 3.113.312 votos (58,7%) a opositora, que obteve 2.190.179 de votos (41,3%).
Na Paraíba, João, do PSB, se reelegeu com 1.221.904 votos (52,51%), derrotando o deputado federal Pedro Cunha Lima 1.104.963 votos (47,49%).
Em Alagoas, o governador Paulo Dantas, do MDB, se reelegeu com 834.278 votos (52,33%), contra Rodrigo Cunha, do União Brasil, que obteve 759.984 votos (47,67%).
E no Sergipe, Fábio, do PSD, foi eleito com 623.851 votos (51,7%), derrotando Rogério Carvalho 582.940 votos (48,3%).
Centro-Oeste
No Centro-Oeste, houve 2º turno apenas no Mato Grosso do Sul, e Eduardo Riedel, do PSDB, venceu com 808.210 votos (56,9%), derrotando o candidato Capitão Contar, do PRTB, que obteve 612.113 votos (43,1%).
Norte
Na região Norte, dois estados disputaram o 2º turno para eleger presidente e governador. No Amazonas, o governador Wilson Lima, do União Brasil, derrotou o senador Eduardo Braga, do MDB. Lima obteve 1.038.219 votos (56,67%), contra 793.931 votos (43,33%).
E em Rondônia, Marcos Rocha, do União Brasil, venceu a disputa obtendo 458.370 votos (52,47%), derrotando o senador Marcos Rogério, do PL, que obteve 415.278 votos (47,535).
Governabilidade
No primeiro discurso após o resultado das eleições, Lula leu um discurso num hotel em São Paulo, prometendo pacificar o país, desarmar a população, endurecer o combate a crimes ambientais, voltar a dar o protagonismo à Cultura e à Ciência, e como tarefa prioritária, combater a fome no país.
Após o comunicado, Lula e aliados foram para um palanque montado na Av. Paulista para comemorar com a militância a vitória eleitoral histórica.
Lula tem pela frente uma árdua tarefa pela frente. No primeiro turno das eleições, os eleitores decidiram eleger deputados federais e senadores alinhados a centro-direita e direita.
Precisará para ter alguma governabilidade uma aproximação do Centrão se quiser aprovar projetos de sua agenda política.
Pouco se sabe dos planos estratégicos do novo governo eleito, uma vez que o documento apresentado é vago e generalista.
Há dois setores sensíveis à vitória de Lula: o agronegócio e o sistema financeiro temem a volta das invasões de propriedades rurais e um aumento do gasto público com a criação de vários ministérios prometidos na campanha eleitoral — pelo menos 34 ministérios estão no plano de Lula —, sem contar com a s secretarias de Governo, com status de ministério, e ainda, uma política econômica estatizante e que possa tentar reverter a reforma trabalhista e as privatizações realizadas no governo Bolsonaro, especialmente a da Eletrobras ou não sustentar a independência do Banco Central, aprovada pelo Congresso.
Todas essas indagações não foram esclarecidas por Lula ao longo da campanha eleitoral de 73 dias que o sagrou vencedor. O presidente eleito disse que vai irar dois dias de folga para retomar as articulações para a formação de seu governo e não sabe ainda como será a disposição de Bolsonaro para uma transição de governo satisfatória e colaborativa. O vencedor precisa de dados oficiais para diagnosticar a saúde geral do país, principalmente, a econômica.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.