Brasília – Redes clandestinas, sujeira, irregularidades as mais diversas e reclamações permanentes de consumidores nos órgãos de proteção ao consumidor estão ao alcance do olhar de todos os brasileiros, basta levantar a cabeça e olhar o “caos” do emaranhado de fios e “gambiarras” nos postes das distribuidoras de energia elétrica, donas da maioria desses ativos, cujos usos são compartilhados por operadoras e provedores de banda larga para passagem de cabos.
O setor elétrico cobra mais racionalidade por parte do setor de telecomunicações nesse compartilhamento. Isso porque, na falta de um regulamento específico mais coeso, sobra para as distribuidoras o dever de fiscalizar a regularidade da ocupação desses ativos e arcar com os custos de limpeza em caso de irregularidades.
“É um grande problema que temos hoje: precisamos de um regramento mais forte. Temos dificuldade grande de fiscalizar, de manter o uso adequado. Sempre cuidamos tão bem dos postes, e agora que temos que conviver, não conseguimos regras adequadas. É muita gente, é muito cabo clandestino,” observou Maximiliano Andres Orfali, diretor geral da Copel Distribuição. Ele participou nesta semana do evento “5×5 TEC Summit”.
Para o executivo, a Aneel precisa desenvolver formas de incentivar as distribuidoras a criar estruturas para gerir o compartilhamento dos postes com as operadoras de telecomunicações e a fiscalizar a passagem dos cabos de rede de forma correta.
Monopólio e irracionalidade
Caius Vinicius Malagoli, diretor de engenharia de manutenção e padrões do grupo CPFL Energia, considera irracional o que está havendo hoje no setor de telecomunicações. “A concorrência aberta em telecomunicação incentivou a irracionalidade da ocupação dos postes e a forma como essa infraestrutura é montada. A gente vê os postes com fio para todos os lados, e às vezes cabe à distribuidora fiscalizar e organizar, o que, pra mim, não é parte do nosso negócio,” reclamou.
Segundo Malagoli, a questão é urgente também por conta do 5G, que deve levar as operadoras a pedir espaço nos postes para a instalação de pequenas antenas celulares. “Talvez fosse o caso de haver uma licitação para escolher quem vai explorar essa infraestrutura em caráter de monopólio, porque o resto seria prestação de serviço – são dados que fluem. E acabaria com essa festa que coloca em risco inclusive o poste, que tem limite de altura. Passa um caminhão e leva tudo, e quem é acionado? A distribuidora de energia elétrica. Esse modelo precisa ser repensado urgentemente, senão vamos chegar a um ponto em que será insolúvel,” vaticinou.
Negociação
Muitos clandestinos do setor de telecomunicações reclamam que passam os cabos à revelia das distribuidoras porque estas, ou demoram muito para aprovar os projetos técnicos, ou cobram preços muito altos que inviabilizariam seus negócios.
O superintendente de smart grids na Neoenergia, Heron Fontana, discorda. “Tem mecanismos e formas de ajustar os preços justos para uso dos postes. Se o 5G vai entrar, se vai usar os postes, então que os operadores que se beneficiam daquela infraestrutura que suportem esse custo, e não os consumidores da energia elétrica. O custo deve ser compartilhado, passado e transferido realmente para os usuários daquele serviço,” avaliou.
O evento
O “5×5 TecSummit 2020” é organizado por sites de jornalismo especializados em TI e telecom, com a proposta de debater a modernização de cinco setores essenciais para a economia brasileira. O evento aconteceu nesta semana, diariamente, encerrando-se em 11 de dezembro. Na quinta-feira (10), a discussão foi sobre finanças. Na sexta-feira (11), último dia do evento, as apresentações foram sobre o impacto da tecnologia na indústria de entretenimento. As apresentações passadas, sobre os setores de governo, saúde e eletricidade já estão disponíveis.