No Boletim Informativo de Vazões e Níveis do Rio Tocantins, a Eletronorte publicou na tarde desta quinta-feira (15), que o Rio deve continuar subindo até amanhã, sexta-feira (16), alcançando a marca de 11,16 metros acima do nível normal. Depois, no sábado, a previsão é de que comece a baixar, atingindo a cota de 11,04 metros. O mesmo deve ocorrer no domingo, dia 17, mantendo-se a 11,04 metros.
Em Marabá, passam os rios Tocantins, Araguaia e Itacaiúnas, mas o Tocantins é o que tem maior volume de água. O Itacaiúnas, embora receba um grande volume de água dos afluentes de sua bacia, acaba ficando represado em sua foz, pelo Tocantins/Araguaia. Com isso, a água deste rio acaba espalhando nas partes baixas da cidade e inundando centenas de imóveis. Nos cálculos oficiais da Defesa Civil Municipal, mais de trezentas famílias já deixaram suas casas por causa da enchente este ano.
Agora à tarde, o prefeito Tião Miranda e secretário municipais estão percorrendo os abrigos para garantir às famílias que estão nos três locais monitorados pela Prefeitura que elas irão receber ações de saúde nas próximas horas, assim como cestas de alimentos.
Nos últimos quatro anos não houve enchente que desalojasse famílias e, talvez, isso tenha encorajado as pessoas a construírem novas casas, sob a desculpa de que não haverá mais enchentes como antes, porque foram construídas várias hidrelétricas no Rio Tocantins.
A expansão urbana em áreas alagadiças não ocorre apenas por parte de famílias carentes. Há casas e comércios de famílias de classe média nessas regiões, porque, geralmente, os primeiros invasores revendem os terrenos por preço bem mais barato que em locais mais firmes.
Nesse contexto, bairros inteiros foram criados sob a chancela do poder público. Foi o que aconteceu, por exemplo, com os bairros Carajás I e Carajás II, que ficam localizados no final da Avenida Tocantins, Bairro Novo Horizonte. As famílias carentes começaram a construir naquela região, com palafitas, depois os terrenos foram ficando valorizados, muitos venderam e os “barões” chegaram comprando as áreas a preço de “banana”.
A memória local e as fontes documentais apontam para a enchente de 1926 como uma das piores da história de Marabá, além das de 1935, 1947, 1957, 1974, uma sequência de três anos entre 1977 e 1979 e a pior de todas, a de 1980, já na fase da implantação da Nova Marabá, que atingiu 17 metros acima do nível normal. Mais recentemente, as enchentes de 1990 e 1997 afetaram praticamente toda Marabá Velha.
Uma característica das enchentes de Marabá, e da própria Amazônia que as diferenciam das demais regiões brasileiras, é o fato das águas se elevarem de forma gradual. Os moradores tomam precauções conforme o aumento do nível dos rios e até estabelecem previsões a respeito da enchente. Walter Leitão Sampaio descreveu esse aspecto na enchente de 1926, pois já no mês de novembro do ano anterior, muitos moradores pressentiam “que o rio teria uma enchente excepcional, pois as quantidades de detritos como árvores, ramos, desciam a corrente em quantidade cada vez maior”, recorda Sampaio.
Na enchente de 1926, muitos moradores se retiraram temporariamente da cidade, outros permaneceram em balsas amarradas ao telhado das casas, o que é confirmado por fotos da época, principalmente comerciantes que temiam perder as mercadorias.