Brasília – Ao que tudo indica, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve ignorar solenemente que parte – ou toda – da queda de sua popularidade nas recentes pesquisas de opinião pública, acerca do seu terceiro governo, é atribuída a ele mesmo, em razão das próprias e polêmicas declarações sobre os mais diversos temas. O mandatário deve cobrar de sua equipe na reunião convocada para esta segunda-feira (18), no Palácio do Planalto, entregas e melhor comunicação por partes de seus auxiliares “no que está sendo feito e povo não fica sabendo”.
O movimento repete uma das características que marcaram as gestões anteriores do líder supremo do Partido dos Trabalhadores: Lula sempre tem razão, e não admite ser contrariado.
Ele teria declarado a dois de seus mais próximos ministros cada vez mais impaciência pelo que chamou de “ausência de entregas e vai cobrar dos ministros resultados de programas que já foram anunciados”.
O presidente quer ver ministros de todas as áreas rodando o Brasil, dando entrevistas e ocupando espaços de mídia em geral para divulgar ações consideradas positivas. Há uma avaliação entre auxiliares que esse movimento poderia ajudar a contrabalançar repercussões negativas de falas do presidente, que também acabam afetando sua popularidade. O presidente, por exemplo, comparou a ofensiva israelense na Faixa de Gaza ao Holocausto — extermínio de judeus na Segunda Guerra Mundial.
Os ministros também devem ser cobrados a explorar melhor o canal direto que têm com eleitores por meio dos seus perfis pessoais nas redes sociais e a não se restringirem a assuntos de suas áreas. Em viagens, por exemplo, falar das pautas do governo de forma abrangente.
Desde o segundo semestre do ano passado, os chefes das pastas têm recebido informações sobre ações do governo nos estados para onde viajarão, e são orientados a falar em defesa da gestão. Ministros do Planalto, no entanto, entendem que essa estratégia não está funcionando e que parte do primeiro escalão não tem conseguido propagar feitos da sua área e do governo. Auxiliares de Lula citam ministros que comandam pastas com grandes orçamentos como exemplos negativos.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, é vista com desempenho aquém do esperado na comunicação, para quem lidera um dos ministérios mais importantes da Esplanada. No Planalto, interlocutores de Lula afirmam que sua capacidade técnica para o posto é indiscutível, mas ponderam que a ministra fala pouco sobre ações da área e “vende” de forma tímida o que tem sido feito no seu ministério. Citam, por exemplo, que ela deveria fazer comparações com o governo Bolsonaro, que teve a gestão na Saúde criticada durante a pandemia.
O Ministério da Saúde informou em nota que as ações de comunicação desenvolvidas têm o único objetivo de prestar serviço para a população, como utilidade pública. A pasta cita informações sobre vacinação, o Mais Médicos e o Farmácia Popular e a “retomada” do personagem Zé Gotinha.
Wellington Dias, à frente do Desenvolvimento Social, também é visto como um auxiliar que poderia dar mais ênfase a programas como Bolsa Família – historicamente uma vitrine petista. O ministro tem se empenhado em pôr de pé a lógica da troca do “cartão” do Bolsa Família pela “carteira” de trabalho, mas o Planalto não considera suficiente. Procurado, ele não se manifestou. Dias é o ministro que mais usa aeronaves da Força Aérea Brasileira para deslocamentos ao seu estado natal e quase nada se sabe o que sua pasta faz além do Bolsa Família, programa que está consolidado. Nada “de novo” foi apresentado pelo ministro, desde que assumiu.
Lula também tem expectativas de que o Ministério da Educação (MEC), comandado por Camilo Santana, ajude a melhorar a popularidade do governo. A avaliação é que, agora, ele tem na sua mesa programas com capacidade de cumprir esse objetivo, como o Pé-de-Meia (poupança para alunos do Ensino Médio), escola em tempo integral e a renegociação de dívidas do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies).
Na semana passada, conforme o Blog do Zé Dudu publicou, o MEC anunciou, na última terça-feira (12), investimento total de R$ 3,9 bilhões na criação de 100 campi de Institutos Federais (IFs) em todo o país. Com a medida, a pasta estima a criação de 140 mil vagas, a maioria em cursos técnicos integrados ao ensino médio.
De acordo com o governo, serão investidos R$ 2,5 bilhões para a construção das novas unidades por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e R$ 1,4 bi para estruturas já existentes instaladas em todo o país. O estado do Pará seria contemplado com cinco novos campi de IFs e melhorias nos já existentes.
Por Val-André Mutran – de Brasília