Em breve Eldorado dos Carajás será a terra do leite

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Em Eldorado dos Carajás-PA, ações integradas voltadas para a produção sustentável do leite vêm norteando a atividade e capacitando produtores, dando um novo perfil econômico ao município

A imagem de uma de terra marcada por conflitos, com imensas áreas desflorestadas e degradadas, até então associada ao município de Eldorado do Carajás, no sudeste do Pará, está se tornando uma esmaecida e triste fotografia do passado. A região que vive hoje uma verdadeira ebulição para se fortalecer economicamente vem tendo na produção familiar de leite uma das principais alavancas para um desenvolvimento sustentável.

Segundo os técnicos envolvidos com o projeto, a pecuária leiteira é a atividade que se adequa perfeitamente às condições da região, ao propiciar melhoria de renda às centenas de famílias dos assentamentos e ainda recuperar as áreas de pasto degradado e recompor a floresta perdida. Entre as tecnologias de produção de leite que estão sendo disseminadas para os produtores merece especial destaque a da Integração Lavoura, Pecuária e Floresta, preconizada pelos pesquisadores da Embrapa.

Todo esse empenho, conforme destaca Andreos Leite, tem como diretriz as orientações da Gerência Executiva de Modernização e Desenvolvimento da Produção Leiteira da Sagri-Secretaria de Estado da Agricultura do Pará, da qual ele é o coordenador. “A Sagri tem procurado fortalecer as ações dos diferentes segmentos do setor para fortalecer a sua organização”, observa, lembrando que a criação da Câmara Setorial do Leite e do Programa Mais Leite, há três anos, são exemplos desse novo tempo.

Euclides Alves de Oliveira Souza, vice-prefeito de Eldorado dos Carajás e presidente da Aciec-Associação Comercial, Industrial e Agropecuária, admite que a saída vislumbrada é mesmo a produção sustentável de leite. “Com o programa, buscamos recuperar e proteger o meio ambiente, ao mesmo tempo em que se capacita o produtor familiar”, explica. A iniciativa já está em dez comunidades da região, atendendo a 20 produtores em cada uma.

Souza: projeto Mais Leite resgatou a pecuária na região

Todo esse empenho, conforme destaca Andreos Leite, tem como diretriz as orientações da Gerência Executiva de Modernização e Desenvolvimento da Produção Leiteira da Sagri-Secretaria de Estado da Agricultura do Pará, da qual ele é o coordenador. “A Sagri tem procurado fortalecer as ações dos diferentes segmentos do setor para fortalecer a sua organização”, observa, lembrando que a criação da Câmara Setorial do Leite e do Programa Mais Leite, há três anos, são exemplos desse novo tempo.

Euclides Alves de Oliveira Souza, vice-prefeito de Eldorado dos Carajás e presidente da Aciec-Associação Comercial, Industrial e Agropecuária, admite que a saída vislumbrada é mesmo a produção sustentável de leite. “Com o programa, buscamos recuperar e proteger o meio ambiente, ao mesmo tempo em que se capacita o produtor familiar”, explica. A iniciativa já está em dez comunidades da região, atendendo a 20 produtores em cada uma.

Diante dos resultados positivos, cresce o número de interessados em participar do Programa. “Na maioria dos produtores assistidos, o leite já se tornou a principal fonte de renda. Com isso, eles querem melhorar cada vez mais”, observa Souza. Em Eldorado do Carajás existem 32 assentamentos, os quais ocupam 64% da extensão do município. Hoje, 53% da população vivem na zona rural. “O desafio é consolidar economicamente esses assentamentos, tornando-os produtivos e sustentáveis”, observa Souza.

Desflorestamento e pastos degradados: o cenário que começa agora a ser trabalhado

Em média, cada gleba desses assentamentos tem uma área que varia de 25 ha a 50 ha, com solo depauperado e, quando existem, as pastagens são tomadas por plantas invasoras. “Acrescente-se a esse cenário, a pouca consciência ambiental e a carência total de tecnologia, sobretudo, no que diz respeito à produção de leite”, ele analisa. Prova disso está nos números: a produção média diária do município é de 100 mil litros de leite, o que significa produção de 3,8 litros de leite por vaca e de 90 litros de leite por propriedade.

Gestão e assistência: maiores carências – Maria Luzineuza Maia, gestora do Projeto Leite e Derivados do Sudeste do Pará, do Sebrae-PA, que atua em parceria com o Mais Leite, observa que entre as principais carências estão a gestão da propriedade e a assistência técnica aos produtores. “São gargalos que precisamos superar. A maior dificuldade é que os produtores são muito fechados às mudanças, mesmo estando em situação precária”, admite. Dos grupos que o Sebrae atende na região, 80% compraram terra de assentados com o propósito de tocar alguma atividade agrícola ou pecuária, porém trazendo pouca ou nenhuma experiência.
Na busca por garantir a sobrevivência foram migrando para a produção de leite. A média geral de produção dessas propriedades assistidas pelo Programa varia entre 50 e 300 litros de leite/dia, com rebanhos de 15 a 70 vacas. O programa orienta os produtores a se organizarem em grupos para formar associação ou cooperativa com o objetivo de comprarem insumos em conjunto, ganhando  maior poder de barganha nas negociações. São diversos os casos em que, pelo volume de compra, eles conseguiram redução de mais de 40% nos preços de produtos.
No campo, Maria Maia explica que as ações se iniciam com um diagnóstico da situação da propriedade inscrita. Com base nisso é estabelecido um plano de ações. “Isso abrange a orientação sobre manejo das pastagens, alimentação dos animais, sanidade do rebanho, cuidados higiênicos na ordenha, melhoria genética dos animais, entre outros aspectos”, diz ela. Em cada comunidade é escolhida uma propriedade modelo para aplicação das tecnologias, onde também ocorrem os dias de campo.

Maria Maia: ações a partir de diagnóstico de propriedades

“Quem mostra e fala sobre as mudanças e os resultados positivos é o próprio produtor da unidade modelo”, relata ela, lembrando que apesar da experiência ser recente – quase dois anos –, já são vários os exemplos bem sucedidos em Eldorado do Carajás, uma das principais bacias leiteiras do Estado, dividindo a produção com outras cidades do sudeste paraense, como Canaã dos Carajás, Jacundá, Parauapebas e Rondon do Pará.

Andreos Leite, da Sagri, ressalta que em muitas pequenas propriedades tem se difundido a chamada pecuária mista: de corte e leite. “Isso acabou comprometendo a produtividade leiteira. Como consequência, existe um número elevado de animais por área”, cita. Porém, de alguns anos para cá, se nota uma tendência para especialização da pecuária leiteira, com a chegada de animais das raças Gir e a Girolando. São 1,2 milhão de vacas ordenhadas por ano no Estado.

Leite: pecuária mista comprometeu produtividade

Produção apoiada nos assentamentos – O Pará aparece em 8º lugar em termos do número de vacas ordenhadas, mas em 11º em volume de leite produzido, num total de cerca de 675 milhões de litros/ano. Quanto à produtividade, o estado cai para 21º colocado, com uma média de 1,73 litro/vaca/dia. Em 2009, a produção de leite superou em 1,62% a de 2008. “Em 2006 e 2007, houve uma queda na produção em relação aos anos anteriores, quando se experimentava um crescimento contínuo na produção. Porém, nos dois últimos anos o setor resgatou o crescimento anterior”, avalia Andreos Leite.

No Estado do Pará existem cerca de 40 indústrias de laticínios. Ele observa que a evolução da produção de leite paraense está diretamente ligada à reforma agrária na região. O Pará foi o estado, no período de 1979 a 2001, que mais recebeu assentamentos. Não coincidentemente aparece como terceiro na taxa de crescimento da produção leiteira no período de 1990/2005. “Para se ter uma ideia, as cinco microrregiões do Estado com maior número de assentamentos respondiam por 17% do leite produzido  em  1990, porcentual que saltou para 46% até 2005, com um incremento de 549% na produção do leite. Hoje, respondem por quase a metade do leite produzido no estado”, observa.

Eduardo Daher Santos, presidente da Câmara Setorial do Leite, produtor de leite de búfalas e fabricante de derivados com essa matéria-prima, lamenta que a maioria dos produtores ainda viva num cenário carente de recursos e com mão de obra pouco capacitada. “Geralmente, começam no leite buscando um complemento de receita, mais do que como uma atividade econômica. Com a demanda, o produtor acaba se apoiando cada vez mais na atividade, porém, sem tecnologias, sem manejo adequado, sem alimento de qualidade, acaba tendo baixa produtividade e, muitas vezes, ofertando matéria-prima de baixa  qualidade”.

Santos: faltam recursos e mão de obra capacitada

Santos ressalta   ainda que o foco dos  programas, em parceria com várias instituições, como a Embrapa Gado de Leite, Embrapa Amazônia Oriental e Sebrae-PA, entre outras, está voltado ao desenvolvimento de pecuária leiteira. A maior dificuldade da indústria é dispor de boa matéria-prima, além de enfrentar a falta de estruturação do mercado. “Num primeiro momento, tem se trabalhado para melhorar a atividade primária. Num segundo, o foco recai na comercialização. As indústrias de pequeno porte se deparam com entraves na colocação dos produtos, pois o varejo impõe o preço e fica com a maior fatia de receita”, explica.

Ele observa ainda que a produção do Pará tem como principal mercado o Nordeste; depois, o Rio de Janeiro e São Paulo, ficando uma parte no mercado interno paraense, que é pequeno. Andreos Leite observa que, mesmo com alguns avanços e em face do grande potencial que a pecuária de leite apresenta, sobretudo, junto aos produtores familiares, ainda é necessário vencer alguns gargalos que emperram seu desenvolvimento. Entre os principais, ele destaca o baixo nível de tecnologia utilizado pelos produtores, a pouca qualificação da mão de obra e dificuldades de atendimento às exigências da Instrução Normativa 51.

“Só recentemente se iniciou o processo de granelização do leite. O grande problema a superar é que muitas propriedades rurais não contam com energia elétrica e as estradas de acesso para a coleta do leite estão em péssimas condições”, relata. Acrescenta que está em fase de conclusão o Laboratório de Qualidade do Leite, do Centro de Tecnologia Guamá/Ufra, em Belém-PA, para o qual o Ministério da Agricultura destinou R$ 6 milhões em equipamentos. O setor também está se empenhando para viabilizar a implantação de um Centro Tecnológico do Leite para capacitação dos produtores e técnicos.

Balde Branco visitou Eldorado dos Carajás-PA a convite Gerência Executiva de Modernização e Desenvolvimento da Produção Leiteira da Sagri-Secretaria de Estado da Agricultura do Pará.

Integração para crescer

Paulo Campos Christo Fernandes, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém, e líder da Rede Norte do Projeto ILPF-Integração Lavoura Pecuária-Floresta, da Embrapa, explica que o programa que coordena parte do princípio de que se deve pensar na propriedade como um todo, especialmente no Pará, onde é necessário recuperar áreas de pastagens degradadas por meio da agricultura.

“Utilizamos a técnica moderna e ambientalmente correta por meio da agricultura e da silvicultura para oferecer alimento de boa qualidade para o gado, além de conforto”, diz ele. A arborização das pastagens agrega três aspectos muito importantes numa bacia leiteira – pasto, agricultura e sombra para os animais. As árvores servem ainda de quebra-vento na época da seca e de fonte de riqueza, como as frutíferas, ou as de madeira ou lenha.


Fernandes: Lavoura-pecuária para reverter degradação

Fernandes observa que no estado há três problemas básicos que demandam solução urgente. “Primeiro, as pastagens degradas, formadas há décadas, que jamais receberam a reposição dos nutrientes. Segundo, o clima muito quente, e até recentemente o produtor não achava necessário propiciar conforto térmico para os animais. Terceiro, a economia madeireira, que foi a forma de riqueza do Estado por muitas décadas, provocando grande devastação da floresta, sem deixar nenhuma riqueza para a região. Agora, está na hora de repor as árvores”, relata.
Para ele, o caminho mais eficiente para a geração de empregos é por meio da recuperação das áreas de pastagens degradas, do reflorestamento e da implantação de um sistema sustentável de pecuária de leite ou corte. “Não adianta mais pensar em retirar o boi da Amazônia. Temos, sim, de produzir de forma sustentável do ponto de vista econômico, ambiental e social”, afirma, complementando que a produção de leite é a melhor solução para propiciar renda o ano todo para o produtor familiar, ao mesmo tempo em que se recuperam as pastagens degradadas, se produzem algumas culturas e se faz o reflorestamento.

Com informações do SEBRAE

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1 comentário em “Em breve Eldorado dos Carajás será a terra do leite

  1. Penélope Responder

    “Entre os principais, ele destaca o baixo nível de tecnologia utilizado pelos produtores, a pouca qualificação da mão de obra…”.

    Zé, engraçado essa frase, não! Abrimos a boca para falar da pouca qualificação da nossa mão de obra local, mas ninguém abre a boca para falar sobre algum novo projeto que tire o cidadão da roça (entenda em muitos casos: do trabalho escravo, que sustentam os pilares da agricultura/agropecuária no norte…) e abrir-lhes a perspectiva de aprendizado e capacitação.

    Quem se habilita para promover ações de acesso às tecnologias com o objetivo de contribuir para a inclusão desses “desqualificados” (entendam: será que eles querem isso mesmo e quem vai “trabalhar” para eles…).

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