Brasília – Em mais um dia de oitivas com direito a bate-bocas ao longo do dia entre senadores da oposição — maioria na CPI da Covid —, e da situação, o presidente do colegiado, senador Omar Aziz (PSD-AM), deu voz de prisão ao ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias que saiu preso da sessão que foi encerrada em seguida. Segundo Aziz, Dias cometeu “perjúrio” em seu depoimento, nesta terça-feira (7), ao negar que havia combinado um encontro com o policial militar Luiz Paulo Dominguetti, que o acusou de pedir propina para vender vacinas ao governo. Dias será levado à Polícia Federal, onde ficará detido.
A acusação de perjúrio ocorreu após Dias relatar que conheceu o policial após ele aparecer em um restaurante de um shopping de Brasília em que jantava com um amigo. Na versão do ex-diretor, o encontro não havia sido agendado e Dominguetti se juntou à mesa porque estava acompanhado de Marcelo Blanco, ex-assessor do Ministério da Saúde. O policial, então, se apresentou como representante da empresa Davati Medical Supply e disse que gostaria de fechar negócio com o governo para vender 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca.
Descontrolado, o presidente da CPI, senador Omar Aziz, aos gritos, disse que a quebra de sigilo do celular de Dominguetti, registrou que o encontro não foi por acaso, como afirmou Dias, mas estava previamente combinado.
Em mensagens em áudio, o policial já tratava do encontro dois dias antes. A um interlocutor identificado como Rafael, o PM mencionou, no dia 23 de fevereiro, o encontro, que aconteceu no dia 25. “Rafael, tudo bem? A compra vai acontecer, tá? Estamos na fase burocrática. Em off, pra você saber, quem vai assinar é o Dias mesmo, tá? Caiu no colo do Dias… E a gente já se falou, né? E quinta-feira a gente tem uma reunião para finalizar com o Ministério”. Roberto Dias alega que encontrou Dominguetti por acaso, sem ter agendado.
Na CPI, Dias também negou ter pedido vantagens, como relatado a Dominghetti. Em depoimento à CPI da Covid, na semana passada, o policial disse que Dias pediu propina de US$ 1 por dose na compra de 400 milhões de unidades da vacina. Dominguetti já havia feito a mesma acusação em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. Ele não comprovou a acusação. A AstraZeneca, por sua vez, nega que a Davati tenha autorização para vender a vacina.
O ex-diretor foi demitido do cargo na semana passada. Durante a sessão, o presidente da CPI afirmou que Dias “se preparou” pois sabia que poderia deixar o cargo. “O senhor sabe que o senhor fez um dossiê para se proteger. Eu estou afirmando, eu não estou achando. Nós sabemos onde está esse dossiê, e com quem está. Não vou citar nomes para que a gente não possa atrapalhar as investigações”, disse o parlamentar.
Aziz declarou ao Estadão que a CPI ainda não teve acesso ao documento, mas reforçou a avaliação de que Dias tem provas do envolvimento de outras pessoas em negociações suspeitas por vacinas. “Ele se preparou para sair. Quando estava sendo perseguido, fez um dossiê e entregou para uma pessoa fora do País. Ele tem muitos documentos, se preparou, deve ter e-mail, pedido, coisa parecida”.
O senador governista Marcos Rogério (DEM-RO) foi ao Plenário do Senado, pediu palavra de ordem e explicou aos pares, se dirigindo diretamente ao presidente da Casa, senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) a quem cabe a palavra final sobre casos como o de pedido de prisão por presidente de CPI, que Omar Aziz não podia tê-lo feito porque a sessão do Plenário já tinha iniciado, portanto, segundo o Regimento do Senado, qualquer decisão em comissão, após o inícios dos trabalhos do Plenário é nula.
O presidente Rodrigo Pacheco recolheu a questão de ordem de Rogério para posterior deliberação.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.