Não, nem tudo o que acontece em Vegas necessariamente tem de ficar em Vegas. Parafraseando e transportando a icônica frase — afeita à identidade da cidade do pecado — a um projeto de lei que tramita na Câmara de Marabá, nem tudo o que acontecer nas escolas da rede pública municipal marabaense ficará apenas entre os muros, em “off”. Não, se depender do vereador Coronel Antônio Araújo.
Ele quer fazer virar lei municipal a instalação de câmeras de monitoramento de segurança dentro e fora das unidades escolares de Marabá, tornando-as, sem segredo, um verdadeiro Big Brother. Pelo texto do PL 1/2022, a quantidade de equipamentos tem de levar em conta o número de alunos e funcionários dos estabelecimentos.
Pátios, refeitórios e áreas de livre circulação ficarão sob o olhar da tecnologia. Quem não quiser ser visto para ser lembrado pelas câmeras poderá se esconder no banheiro, em vestuário, na sala dos professores e em ambientes de uso privativo dos trabalhadores, espaços que serão poupados para preservar “a intimidade e a imagem de alunos, professores e demais servidores”. Não há menção sobre câmeras nas salas de aula, mas é certo que a “central de controle” ficará na sala do diretor da escola.
O projeto prioriza a instalação das câmeras em escolas localizadas em comunidades onde os indicadores de criminalidade são mais elevados. Apesar da boa intenção, não há indicação do impacto financeiro da medida aos cofres públicos, embora seja certo que não sairá barato.
“Pilas” dão aula de criminalidade
Em justificativa que acompanha o projeto, o vereador Coronel Araújo diz que escolas públicas de capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, bem como de municípios do interior paulista, já fazem uso desse tipo de ação a qual, diz ele, tem resultados positivos. O político observa que, mesmo em Marabá, em algumas escolas particulares a iniciativa já fora adotada, com grande aceitação pelos pais, inclusive.
“A instalação dos equipamentos de segurança significa não apenas um modo de desestimular a ação de agentes delituosos em nossas escolas, mas também valerá para elucidar e apurar delitos praticados nas cercanias, auxiliando, assim, o trabalho policial”, observa o parlamentar, que é militar da reserva. “Os atuais índices de criminalidade amedrontam cada vez mais a população. Hoje, não se vive sem o medo constante da violência. É necessário estabelecer um sentimento de segurança nas escolas”, reflete.
Não é novidade que em cidades como Marabá e Parauapebas, ambas com mais de 200 mil habitantes, os bandidos têm feito escola e vivem para “meter o jack” — assaltar, em português claro. Em Parauapebas, por exemplo, em 2019, antes da pandemia, quase 20 escolas foram alvo de investidas de trombadinhas, que geralmente miram celulares das vítimas.
O vereador acredita que o investimento proposto significa também atuar na prevenção do aliciamento de jovens estudantes para o uso ou envolvimento com as drogas. “Ademais, situações de risco poderão ser observadas e coibidas, bem como será possível identificar responsáveis, elucidar crimes e fornecer subsídio para a construção de soluções, em termos de segurança, para o bem-estar da comunidade escolar”.