Brasília – A cruzada do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para punir o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), dá sinais de que está longe de um desfecho. E, em mais uma decisão considerada desproporcional, o ministro decidiu aplicar multa de R$ 405 mil ao deputado fluminense, por violação das medidas impostas a ele para substituir sua prisão, como o monitoramento eletrônico, a participação em eventos e a proibição de dar entrevistas.
Para garantir o pagamento, ele mandou bloquear as contas do deputado. A Câmara também será comunicada para reter até 25% do salário de Silveira, que encerra seu mandato no dia 31 de dezembro deste ano, até a quitação da dívida.
Na decisão, o ministro ainda determinou que o deputado siga cumprindo aquelas restrições, e também o proibiu de ter contato com investigados nos chamados inquéritos das “fake news” e das “milícias digitais”, de usar qualquer rede social e se ausentar do estado do Rio de Janeiro, exceto para Brasília.
Mais não é só, além disso, Moraes intimou Silveira a comparecer, em até 24 horas, à Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal para trocar a tornozeleira eletrônica. Caso não devolva o atual equipamento, disse que ele ainda poderá responder pelo crime de apropriação indébita.
Desde o dia 17 de abril, a tornozeleira instalada em Silveira está desligada. A defesa diz que o equipamento está com problemas de funcionamento, mas a secretaria diz que a causa é o não carregamento da bateria.
Na decisão, Moraes disse que as medidas contra Silveira valerão “até eventual decretação da extinção de punibilidade ou início do cumprimento da pena”. É uma referência à possibilidade de ele não aceitar o perdão concedido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), num indulto decretado um dia após a condenação de Silveira pelo STF, na semana retrasada.
Na semana passada, em razão do indulto, a defesa do deputado exigiu do ministro o imediato arquivamento da ação penal e outras investigações correlatas sobre Silveira, a liberação de suas redes sociais e a devolução de R$ 100 mil que recolheu, como fiança, para não ser preso novamente.
Antes, Moraes juntou ao processo do deputado o indulto de Bolsonaro, mas pediu manifestações da defesa e da PGR sobre a possibilidade de extinção da pena nessa fase do processo, na qual ainda não houve o trânsito em julgado. Ou seja, o esgotamento de todos os recursos possíveis (interpostos perante o próprio STF). Com base na jurisprudência da Corte, ele indicou que uma eventual apresentação de recursos por parte da PGR obstaria a concessão do perdão.
E foi o que aconteceu. Na terça-feira (3), a vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araujo, pediu a Moraes que mantivesse o monitoramento eletrônico do deputado, proibindo-o de ausentar-se do estado do Rio de Janeiro, exceto para Brasília, e também de frequentar ou participar de eventos públicos. Ela disse que vai se manifestar sobre o indulto em outras ações contra o decreto, apresentadas pela oposição e sob relatoria da ministra Rosa Weber.
Moraes atendeu ao pedido e aplicou a multa, seguindo uma decisão do plenário, num julgamento virtual, que, por 9 a 2, aprovou a possibilidade de impor a medida em caso de descumprimento de medidas cautelares.
“As condutas do réu, que insiste em desrespeitar as medidas cautelares impostas nestes autos e referendadas pelo plenário do Supremo Tribunal Federal, revelam o seu completo desprezo pelo Poder Judiciário, comportamento verificado em diversas ocasiões durante o trâmite desta ação penal e que justificaram a fixação de multa diária para assegurar o devido cumprimento das decisões desta Corte. Não havendo justificativa para o desrespeito das medidas cautelares impostas, incide a multa fixada”, escreveu Moraes na decisão.
Líder do PTB não vai recuar
Enquanto o deputado Daniel Silveira recorre das decisões que prejudicam seu mandato e direitos como cidadão comum, em outra frente, na própria Câmara dos Deputados, ele foi hostilizado por deputados do PT e PSOL, ao participar da primeira sessão deliberativa da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), na terça-feira (3).
Indicado pelo líder do PTB na Câmara, deputado Paulo Bengtson (PA), como membro da CCJ e outras quatro comissões na Casa, o paraense disse que não vai recuar um milímetro na indicação. “Vou defender as prerrogativas do meu deputado, que foi eleito pelo povo fluminense e tem qualificações para ser membro da CCJ”, declarou.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.